O filme Fúria Incontrolável (2020) é um daqueles suspenses que deixam a gente roendo as unhas e com o coração disparado. Mas, mais do que isso, ele também joga luz sobre uma questão que, infelizmente, reflete a realidade de muitas mulheres: o desrespeito constante, a violência de gênero e a necessidade de submissão que alguns homens ainda esperam de nós.
A trama começa com Rachel (interpretada por Caren Pistorius), uma mãe solo tentando lidar com um dia difícil, enquanto precisa equilibrar as dificuldades financeiras, a criação do filho e uma série de responsabilidades que só ela carrega. Tudo isso desmorona quando ela cruza o caminho de um homem (Russell Crowe) que, ofendidíssimo por receber uma buzina que, convenhamos, ele mereceu, decide transformar sua vida em um pesadelo de violência e perseguição.
E é aqui que o filme toca na ferida. O vilão, claramente, só se sente confortável em agir de maneira tão absurda porque Rachel é uma mulher sozinha. Se fosse um homem no carro, será que ele teria o mesmo comportamento? Duvido. Ele enxerga nela alguém que deveria se desculpar, baixar a cabeça e aceitar qualquer desaforo, porque é o que muitas vezes esperam de nós. A audácia de Rachel em simplesmente buzinar é o que deflagra a fúria desse homem — um espelho desconfortável da realidade, onde a independência feminina é vista como afronta.
O filme também é um lembrete de que nossa força e resistência incomodam. Rachel não se curva. Ela luta com todas as suas forças para proteger seu filho e sua própria vida, deixando claro que não vai aceitar o papel de vítima passiva que ele quer impor a ela. Fúria Incontrolável não é apenas sobre uma perseguição insana; é sobre a resiliência de ser mulher em um mundo onde somos constantemente subestimadas.
E quer saber? Sim, nós vamos buzinar. Não vai ser só um “toquezinho educado”. Se for preciso, vamos fazer barulho. Porque não é só no trânsito que precisamos mostrar que estamos aqui, que merecemos respeito, que não somos propriedade ou alvo de ninguém. É no dia a dia, na maneira como não aceitamos mais silenciamento.
No final das contas, Fúria Incontrolável é um ótimo lembrete de que, mesmo quando o mundo parece virar contra nós, a força feminina é capaz de superar tudo. É tenso, incômodo e, ao mesmo tempo, um grito por respeito. Ah, e um aviso aos homens: cuidado, porque o karma pode vir em forma de buzina.