TEM SPOILERS!
Bates Motel (2ª Temporada) 2014
A segunda temporada de "Bates Motel" teve novamente 10 episódios e estreou na TV a cabo A&E em 3 de março de 2014. A temporada foi ao ar às segundas-feiras às 21h e foi concluída em 5 de maio de 2014.
Em sua segunda temporada, "Bates Motel" continua na mesma linha da temporada passada, porém constrói uma história mais complexa e com várias subtramas. Temos novos conflitos que envolve, dessa vez, duas famílias que controlam as plantações de maconha da cidade de White Pine Bay. Dentro desse contexto, Norma (Vera Farmiga), Norman (Freddie Highmore) e Dylan (Max Thieriot) se encontram em situações delicadas.
A segunda temporada gira em torno de situações distintas: Norman fica obcecado em uma espécie de trauma pessoal referente à morte da professora Blaire Watson (Keegan Connor Tracy), que aconteceu no final da temporada passada. O passado sombrio de Norma se volta contra ela com o aparecimento de seu misterioso irmão. Bradley Martin (Nicola Peltz) está obcecada na busca pelo verdadeiro assassino de seu pai. Emma Decody (Olivia Cooke) vive seu drama pessoal ao se sentir excluída da família Bates, e logo se envolve em um novo interesse amoroso. Já o Xerife Alex Romero (Nestor Carbonell) se vê ameaçado ao ser perseguido e descoberto em suas investigações.
O primeiro episódio é muito bom e já se destaca relevando alguns segredos que até então estavam guardados:
Norman não se conforma com a morte da Sra. Watson e não consegue se desprender desse acontecimento, passando a visitar seu túmulo no cemitério constantemente. Isso, claro, incomoda muito a Norma. No enterro da Sra. Watson o Norman chora copiosamente, talvez por culpa ou por remorso. Assim como o cinto do Keith Summers, Norman também guarda o colar da Sra. Watson. Bradley está totalmente descontrolada e transtornada pela morte do pai, o que a leva a tentar um suicídio ao se jogar de uma ponte, principalmente pelo fato dela ter descoberto que o seu pai estava tendo um caso com a Sra. Watson. Nesse ponto é interessante nos atentarmos que Bradley havia encontrado algumas cartas de amor que seu pai estava trocando com uma mulher que se identificava apenas como "B" (Blaire Watson). Norman está cada vez mais se dedicando ao empalhamento de animais no porão de sua casa. Bradley recebe alta do hospital psiquiátrico em que estava internada e quer buscar vingança contra o assassino de seu pai. E aqui temos um final de episódio surpreendente, que é justamente a Bradley indo até a casa de Gil Turner (Vincent Gale) e o matando com um tiro na testa. Ela havia descoberto que ele era o assassino de seu pai.
O segundo episódio mostra a Norma preocupada com aquela obsessão doentia de Norman pela morte da Sra. Watson, o que a leva a convencê-lo a participar de uma peça musical na cidade. Após ter matado o assassino de seu pai, Bradley se vê desesperada e busca a ajuda de Norman, que a esconde no porão de sua casa. Ela quer a ajuda de Norman para fugir da cidade, e com isso o Dylan, atendendo um pedido de Norman, ajuda ela a fugir. Com a morte de Gil a cidade fica bastante impactada, já que Zane Morgan (Michael Eklund), o chefe de Dylan, acredita que tem uma outra família no ramo das drogas, liderada por Nick Ford (Michael O'Neill), que está envolvida com o ocorrido, o que gera uma guerra de drogas na cidade.
A temporada segue nos mostrando o empenho da Norma na luta contra a construção da nova estrada. E podemos notar que finalmente o Bates Motel está prosperando, ao começar a receber hóspedes (mesmo aqueles hóspedes estranhos). Norma toma uma atitude de certa forma até precipitada, ao tomar conhecimento que o conselho da cidade fará uma reunião sobre o tema, e ela decidir confrontar os superiores expondo o seu descontentamento com a construção da estrada. De certa forma podemos até entender esta postura da Norma, já que realmente aquela nova estrada interferiria diretamente no movimento do seu Motel. Porém, a forma como ela contesta em seu discurso acaba sendo confrontada pelo pelo vereador Lee Berman (Robert Moloney), onde logo ela perde o controle da situação e acaba expondo as atividades ilegais que existem na cidade (o império da maconha).
Nos episódios seguintes temos uma revelação enigmática, que é justamente o aparecimento do irmão da Norma, Caleb Calhoun (Kenny Johnson). E este aparecimento revive lembranças traumáticas para Norma, o que a leva a revelar um segredo do seu passado. Em contrapartida Caleb tenta se aproximar de Dylan, que o leva até a casa da Norma, causando uma trágica situação com a própria Norma quando chega e dá de cara com seu irmão dentro de sua casa. Norma fica transtornada ao ver o irmão e o expulsa da sua casa. Em uma discursão Norma revela que ela era estuprada pelo seu irmão quando tinha 13 anos. Logo após ela revela que ele é o pai de Dylan. Na sequência temos outra cena impactante, que é justamente o momento em que Norma revela para Dylan que Caleb é o seu pai.
Temos outra revelação traumática para Norman, que acontece justamente quando Emma leva para ele a notícia de que Bradley havia se suicidado e deixado um bilhete junto com suas roupas na margem da praia (este foi um acordo que Bradley havia feito com Dylan antes dela fugir da cidade). Norman fica visivelmente transtornado com esta notícia referente a Bradley. A partir daí Norman começa uma amizade com Cody Brennan (Paloma Kwiatkowski). Cody conhece Norman em um mercado, quando ele estava fazendo compras para preparar um disfarce para a fuga de Bradley. Logo esta amizade toma um outro rumo, quando Norman transa com Cody, o que faz com que os dois se aproximem e Norman começa a tomar conhecimento da complicada vida de Cody, mas como ela é uma jovem rebelde, Norma não quer que o filho conviva com ela.
Cody tem uma importante participação na temporada ao colaborar (de forma negativa) no despertar dos "apagões" de Norman (um espécie de estado traumático, um transe psicótico). E justamente a Cody convence Norman a ir até o motel que Caleb estava hospedado e confrontá-lo (após Norman ter revelado este segredo para ela). A intenção de Cody era que Norman desse um susto em Caleb na intenção que ele se afastasse de Norma, porém Norman acaba desistindo da ideia no meio do caminho, onde logo após ele tem o seu primeiro apagão. Depois Norman volta até lá e confronta Caleb. Incrível que logo vemos como Norman entra em transe e passa a se identificar com as memórias da mãe diante de Caleb, que sofreu os abusos, como se ele fosse a Norma em um estado psicótico. Nesse mesmo episódio temos um final que revela que em meio a todas as questões investigativas que o Xerife Romero passou, ele acaba tendo a sua casa incendiada e ele precisa passar um tempo morando em um dos quartos do Motel Bates.
Norma se torna amiga de Christine Heldens (Rebecca Creskoff), a ex-diretora daquela peça musical que ela levou o Norman, e até comparece a uma festa na casa dela. A partir dessa amizade Christine leva Norma para a vida social de White Pine Bay. É interessante que a partir dessa amizade com Cristine, Norma conhece o misterioso Nick Ford, que também se mostra contra a construção da nova estrada. Norma acaba se envolvendo com Nick Ford sem saber que ele é o chefe da outra família de drogas, rival daquela para quem Dylan trabalha. Norma acaba entrando em uma teia de aranha com este envolvimento, ao aceitar a ajuda de Nick Ford onde rapidamente a construção da estrada é paralisada. O maior problema para Norma é que Nick Ford acaba cobrando a ajuda que ele deu para ela, e isso traz um problema seríssimo para Norma.
O quinto episódio nos mostra como Dylan precisa lutar por sua vida na guerra iniciada por Zane. Como o Xerife Romero foi se hospedar no Motel Bates, com o contato diário a sua relação com Norma vai aos poucos melhorando. Logo temos mais uma nova personagem chegando na série, trata-se da misteriosa Jodi Morgan (Kathleen Robertson), a irmã de Zane, que já se auto intitula como a verdadeira chefe de Dylan. Norma está cada vez mais se envolvendo com a política da cidade, o que lhe traz sérios problemas. Os constantes apagões de Norman acaba preocupando à todos, principalmente a Norma, que sabe os reais motivos desses apagões mas se recusa a contar a verdade para ele. O sexto episódio termina justamente em uma discursão entre Norman e Cody, quando o pai da Cody aparece e entra na discursão, e na sequência Norman acaba o empurrando da escada, matando o pai da Cody.
O sétimo episódio nos revela que Norman foi considerado inocente pela a morte do pai da Cody, que foi considerado como um acidente (e na real não foi). Cody rompe a amizade com Norman e vai morar com a tia em outra cidade. Por fim é confirmado, através de um exame, que o sêmen no útero da Sra. Watson é de Norman Bates, o que prova que foi ele mesmo quem a matou. E logo após temos a cena que revela que Norman fez sexo com a Sra. Watson naquela noite e depois cortou sua garganta com um canivete. Já no último episódio da temporada temos aquela já famosa matança descontrolada, que é justamente o Nick Ford sendo morto pelo Dylan. E logo após temos o resgate do Norman do cativeiro em que ele estava preso. No fim vemos que Norman está sempre com sua mãe dentro da sua mente, como se ela o controlasse o tempo todo, o fazendo negar até o seu assassinato da Sra. Watson. Gostei muito desse final de temporada.
Porém: a segunda temporada de "Bates Motel" continua insistindo nos mesmos erros da temporada anterior, que é justamente no desenvolvimento do roteiro, por novamente querer contar várias histórias todas ao mesmo tempo e no fim não desenvolver bem nenhuma. Por exemplo: em cada temporada aparece uma figura para ser o grande vilão do final de temporada (o que pode ser normal). Na primeira temporada foi o Jake Abernathy (Jere Burns) e nessa temporada é o Nick Ford. Me parece mais uma tentativa forçada de querer sempre por obrigação implantar um grande vilão, o manda-chuva, o big boss, sempre com aquele ar de poderoso, de superior, e no fim terminar como um morto qualquer sem nenhum sentido. No fim o grande vilão de temporada não passa de um personagem raso, falho e sem nenhuma relevância para o contexto da temporada e principalmente da série.
Outro ponto: criam histórias na primeira temporada e não tem uma relevância na próxima; como no caso do assassinato de Keith Summers, que foi completamente esquecido. A história da morte do pai da Bradley até deram uma certa continuidade nessa segunda temporada, mas depois esqueceram, e muito pelo fato da própria Bradley ter fugido da cidade (mas acredito que ela voltará na próxima temporada). Parecem que querem contar tantas histórias ao mesmo tempo que se perdem em diversas vezes e não dão continuidades e nem finalizam nenhuma, todas ficam como pontas soltas. Várias histórias paralelas que tiram o foco da série, como essa briga das gangues de maconha. Todo esse envolvimento da Norma com o Nick Ford na tentativa de ajudá-la com a estrada nova, o que resultou em todo esses arcos de histórias paralelas, rasas, falhas e sem sentido. Tudo isso só para integrar cada vez mais personagens na série, o que fatalmente mascara a história principal e faz com que toda essa inserção de novos personagens faz com que os protagonistas apareçam menos.
Sobre o elenco:
Vera Farmiga (atualmente em cartaz nos cinemas em "A Freira 2") é novamente o grande destaque da temporada. Dessa vez ainda mais atuante nos comportamentos e atitudes de Norman, o que começa a trazer cada vez mais problemas para ele. Mais uma excelente atuação de Vera Farmiga.
Freddie Highmore ("The Good Doctor"), assim como a Vera, é também mais um belíssimo destaque da temporada. Nessa temporada o Norman começa a lidar com os seus constantes apagões, o que logo resulta em seus transes psicóticos. Ele passa a reviver e conviver cada vez mais com as memórias de sua mãe, ou seja, praticamente se transformando nela. Aquela cena no final da temporada, com ele esboçando aquele olhar e aquele sorriso, é sensacional. Nos mostra o grandioso talento que Freddie Highmore tem.
Max Thieriot ("SEAL Team") está melhor nessa temporada e muito mais participativo. Ele tem participações cruciais em vários pontos importantes dentro da história. Nicola Peltz ("Transformers: A Era da Extinção") tem uma transformação gigantesca nessa temporada. Ela deixa de ser aquela patricinha mimada da primeira temporada e passa a ser uma personagem muito importante dentro do contexto da série. Aquelas cenas em que ela aparece descontrolada no carro e logo após se jogando da ponte, é genial. Sem falar na cena em que ela vai toda sedutora e vestida para matar - maravilhosa!
Olivia Cooke ("Jogador Nº1") novamente tem sua importância dentro da temporada (assim como na anterior), mas eu confesso que esperava mais da sua personagem. Sinceramente, eu queria ver a Emma mais participativa nos pontos cruciais da história, que ela fosse mais fundamental (como no início da temporada passada, nas investigações sobre a garota asiática). Mas aqui me parece que ela tem seus momentos de destaques, tem novamente a sua paixão, mas no fim ela se sente excluída e passa a ser escanteada.
Nestor Carbonell ("The Morning Show") tem uma participação muito mais relevante nessa temporada. O Xerife Romero tem participações mais fundamentais na história e sua aproximação com a Norma pode resultar em novas subtramas nas próximas temporadas. Não posso deixar de destacar a excelente participação de Paloma Kwiatkowski, que trouxe uma personagem muito importante para o desenrolar da temporada.
A segunda temporada de "Bates Motel" recebeu críticas positivas de críticos de televisão, e o episódio de estreia atraiu um total de 3,07 milhões de espectadores. A série foi renovada para uma terceira temporada depois que cinco episódios da segunda temporada foram ao ar. Por sua atuação, Vera Farmiga recebeu indicações para o Critics' Choice Television Award de Melhor Atriz em Série Dramática e o Saturn Award de 2014 para Melhor Atriz na Televisão.
A segunda temporada de "Bates Motel" recebeu uma pontuação de 67 em 100 no Metacritic, a partir de 11 comentários. O Rotten Tomatoes relatou uma classificação de 86% a partir de 12 comentários para a segunda temporada.
Apesar das falhas de roteiro e do desenvolvimento das histórias paralelas serem vagas e rasas, esta temporada continua em um bom nível de suspense, de mistério, conseguindo um bom aprofundamento no drama e na construção do terror psicológico. É interessante notar esse relacionamento que soa tóxico e doentio entre mãe e filho, o que logo nos leva a perceber que esse estado de possessão controladora da Norma é o principal fio condutor para o desenvolvimento dos comportamentos psicóticos do Norman. É também a partir dessa temporada que começamos a notar as principais diferenças comportamentais do Norman, o que logo resultará na sua transformação em um dos maiores maníacos e psicopatas da história do cinema.
Por fim, "Bates Motel" consegue novamente nos entregar uma boa temporada (por mais que persista no mesmos erros da anterior), com uma boa história central que começa a tomar o principal rumo da série, e uma boa construção em elementos que poderá ser melhor utilizados nas próximas temporadas. [24/09/2023]