TEM SPOILERS!
Bates Motel (1ª Temporada) 2013
"Bates Motel" foi criado por Anthony Cipriano e desenvolvido por Jeff Wadlow (diretor de "Quebrando Regras", de 2008), Carlton Cuse (produtor da série "Jack Ryan"), Kerry Ehrin (roteirista da série "The Morning Show"), e é produzido pela Universal Television e American Genre para a rede de TV a cabo A&E. A primeira temporada foi ao ar em 18 de março de 2013 com 10 episódios.
A série é vista como uma "prequela contemporânea" do clássico "Psicose", de Alfred Hitchcock, de 1960 (baseado no romance homônimo de Robert Bloch, de 1959), que retrata a vida de Norman Bates (Freddie Highmore) e sua mãe Norma (Vera Farmiga) antes dos eventos retratados no filme, embora em uma cidade fictícia diferente (White Pine Bay, Oregon, em oposição a Fairvale, Califórnia) e em um cenário moderno.
Após a misteriosa morte de seu marido, Norma Bates decidiu começar uma nova vida longe do Arizona, na pequena cidade de White Pine Bay, e leva o filho Norman, de 17 anos, com ela. Ela comprou um velho motel abandonado e a mansão ao lado.
Estre ano eu finalmente consegui realizar um antigo desejo, que era ler a obra-prima de Robert Bloch, rever o clássico do mestre Hitchcock e assistir todos os filmes subsequentes da franquia "Psicose". Posso dizer que foi uma experiência incrível, uma das maiores experiências que eu já vivi em toda a minha vida literária e bibliófila. O livro é magnífico, excelente, uma verdadeira obra-prima da literatura sombria e um dos melhores livros que eu já li na vida. Já o clássico de 1960 fala por si só, simplesmente por ser um dos maiores suspense de toda a história do cinema, que foi conduzido justamente pelo mestre do suspense. Os filmes subsequentes não estão no mesmo nível, não estão na mesma prateleira do livro e do clássico. Eles seguem histórias próprias, paralelas e até continuações dentro do universo de "Psicose". O que pode até ser interessante, ou simplesmente horroroso, como é o caso do remake de 1998. E logo após ter lido o livro e assistido todos os filmes da franquia "Psicose", chegou a vez de conferir a série "Bates Motel", que também faz parte do universo e nos conta uma história sobre o início de tudo. Algo parecido com o que foi feito no filme "Psicose 4: O Começo", de 1990.
A série é bem intrigante e ao mesmo tempo interessante, pois obviamente ela constrói toda uma abordagem sobre o universo de "Psicose" servindo justamente como um prelúdio do clássico ao nos mergulhar naquela trama que futuramente irá nos nos contar sobre todo desenvolvimento de Norman Bates. Ou seja, a trama nos levará ao lado sombrio e psicótico entre a infância e a adolescência de Norman, explicando como o amor incontrolável de sua mãe ajudou a moldar um dos maiores maníacos e psicopatas da história do cinema.
O primeiro episódio já inicia de modo surpreendente com uma pessoa morta. Esta pessoa é simplesmente o pai de Norman, que está ali morto na garagem de forma bastante misteriosa (ou não, como vemos mais à frente na temporada). Logo após este início já temos um salto no tempo de 6 meses e chegamos até a cena da Norma chegando em seu mais novo Motel. O seu novo empreendimento antes tinha o nome de Seafarer's Motel, e em uma cena bem interessante vemos a troca do letreiro para Bates Motel. Por sinal a réplica que foi construída do Motel e da casa ficou excelente, com uma fidelidade ao clássico incrível. Este primeiro episódio já é um dos melhores da temporada por já nos confrontar com aquela sequência que vai desde a chegada do ex-proprietário do Motel (Keith Summers, interpretado por W. Earl Brown), passando pela invasão na casa, o estupro na Norma e a sua morte. Onde aconteceu em um momento de fúria incontrolável de Norma quando o esfaqueou brutalmente até a morte (por sinal, uma excelente cena). O episódio termina de forma intrigante ao revelar uma certa garota aprisionada.
O segundo episódio é muito revelador e diferente, eu diria. Simplesmente por acrescentar na trama a presença de Dylan Massett (Max Thieriot), o filho mais velho de Norma e meio-irmão de Norman. Pelo o que me consta, tanto pelo livro quanto pelo clássico sessentista, o Norman não tinha um meio-irmão assim dessa forma como foi abordado na série. Bem, achei interessante esse contexto trazido para a série. O episódio segue com os dramas e as aflições de Norman ao tentar se introduzir na nova cidade e conhecer novas pessoas. Como é justamente o caso do seu primeiro interesse - a jovem Bradley Martin (a belíssima Nicola Peltz). Aqui também fica claro que Norman tem muitos ciúmes da mãe e da forma como as pessoas se referem à ela. Até por isso vemos os constantes conflitos de Norman com Dylan.
O terceiro episódio segue mergulhado no mistério e no suspense pelo fato da polícia está no encalço da Norma pelo suspeita referente ao desaparecimento de Keith Summers. Aqui já temos vários envolvimentos na história; como é o caso do antigo dono do Motel parecer ter ligações com as garotas chinesas desaparecidas que está sendo investigada pela Emma Decody (Olivia Cooke). Logo essa ligação com o desaparecimento das garota cai sobre o policial Zach (Mike Vogel), pelo fato do Norman ter invadido sua casa procurando pelo cinto de Keith Summers, e ter sido confrontado com a garota oriental presa em seu porão.
A partir do quarto episódio temos cada vez mais revelações e acontecimentos surpreendentes. Norma está envolvida em uma verdadeira bola de neve, ao estar envolvida com o policial Zach como uma forma de se safar das investigações sobre a morte de Keith Summers. Por outro lado ela se recusa a acreditar em Norman sobre a possível garota presa no porão da casa de Zach. O que a leva a entrar em transe e levantar suspeitas sobre o estado mental e a sanidade de Norman com esta descoberta bizarra. Temos aqui a primeira transa de Norman, que aconteceu com a Bradley, e a prisão de Norma pelo assassinato de Keith Summers.
A história segue em uma verdadeira teia de aranha com cada vez mais confrontos: a garota oriental que era mantida como escrava sexual de Zach é encontrada e levada para o Motel. Zach por sua vez encontra a garota em um dos quartos do Motel e corre atrás dela pela floresta (não foi revelado, mas ao que tudo indica ele matou a garota). Logo após temos mais uma ótima sequência de cenas, que é todo confronto de Zach com a Norma e o Dylan na casa. O que termina brutalmente com um tiro no olho de Zach disparado por Dylan.
O desfecho do assassinato de Zach proposto pelo Xerife Alex Romero (Nestor Carbonell) é tudo muito suspeito. Por fim temos a aparição de um hóspede misterioso no Bates Motel, que parece saber demais. Já o Norman passa a enfrentar as complicadas garotas populares e o descaso da Bradley com ele. Essa é um situação bem complicada: a Emma é apaixonada pelo Norman e vive correndo atrás dele, já ele se rasteja pela Bradley e ela passa a desprezá-lo. Sem falar que é tudo muito estranho essa repentina aproximação da Bradley com o Dylan.
No oitavo episódio é onde o Norman desperta o interesse pela taxidermia (animais empalhados), com o pai da Emma. No filme clássico temos toda a dimensão desse amor que ele tem por essa arte. Norma está mais preocupada com a possível construção da nova estrada principal, o que vai mudar o trajeto das pessoas que passariam pelo seu Motel. A relação de Norma e Dylan parece melhorar. O episódio termina com aquele cadáver do Zach na cama da Norma.
O nono e o décimo episódio é a construção (e ligação) do fechamento dessa temporada. Norma sofre com as constantes ameaças de Jake Abernathy (Jere Burns), o hóspede misterioso. Norma decide que quer vender o Motel e recomeçar a vida novamente no Havaí, mas o Norman não quer ir. Norman por sua vez está cada vez mais apegado na cadela empalhada. E temos aquela cena onde a Norma vai ao encontro de Jake e é surpreendida pelo Xerife Alex confrontando justamente o Jake. Que termina com o Xerife dando um tiro em Jake.
Sobre o elenco:
Vera Farmiga (atualmente em cartaz nos cinemas em "A Freira 2") é sensacional, é sem dúvida a principal e mais destacável da série. É realmente impressionante como a Vera escolhe bem as suas personagens e sempre eleva o nível em cada trabalho apresentado. Em "Bates Motel" ela se encaixa como um luva na pele da Norma Louise Bates mais jovem. Ela traz esse lado mais jovial da mãe do Norman, que pretende recomeçar sua vida após os recentes acontecimentos, que mantém os seus dramas e os seus conflitos íntimos, justamente ao confrontar os seus traumas em relação à criação do jovem Norman.
Já o Freddie Highmore ("The Good Doctor") é outro que também se encaixa como uma luva na pele da versão adolescente do lendário Norman Bates. Caracteristicamente falando, o Freddie traz uma versão impecável do Norman jovem, que está se descobrindo, que está se conhecendo, que está conhecendo o mundo ao seu redor e as pessoas (e principalmente as garotas) ao seu redor. O Norman de Freddie pode soar como inocente, inexperiente, indefeso, tímido, ao mesmo tempo também soa como misterioso, enigmático, introspectivo e principalmente letal - como vimos na cena final do décimo episódio com aquele assassinato brutal da Srta. Watson (Keegan Connor Tracy).
Max Thieriot ("SEAL Team") começa em um ritmo mais morno em seu personagem Dylan, até pela forma como ele entra na série. Porém, com o passar dos episódios vamos nos afeiçoando à ele, vamos conhecendo ele melhor, vamos entendendo melhor os seus dramas e seus traumas. No fim da temporada ele já passa a ser um personagem que nos importamos.
Nicola Peltz ("Transformers: A Era da Extinção") traz uma personagem que faz o caminho inverso do Dylan. A Bradley Martin é uma personagem que eu até simpatizei no início, que eu acreditava no seu drama em relação a terrível morte de seu pai, porém com o tempo eu fui começando a questionar as suas atitudes com o Norman e principalmente a sua aproximação com o Dylan. No fim ela não passou de uma patricinha mimada que usou o Norman no momento em que ela estava frágil e vulnerável.
Olivia Cooke ("Jogador Nº1") com sua personagem Emma Decody me fez vê-la ao inverso da Bradley. Justamente por ela se apegar verdadeiramente ao Norman, por ela realmente criar um amor verdadeiro por ele, que realmente se importava com ele e não queria só usá-lo. Por fim ela vivia correndo atrás do Norman na intenção dele notar a presença dela, e ele não tirava a Bradley da cabeça. O que uma transa não faz!
"Bates Motel" acerta muito bem no suspense, no mistério, no enigmático e na construção do drama. Acredito que em si a história é sobre o amor incondicional de uma mãe por seu filho. Temos um relacionamento que é explorado através da premissa de que o jovem é excessivamente temperamental e ambos estão cercados por um ambiente com problemas, que os conduz ao extremo. No caso, cada um ali presente tinha os seus medos, os seus traumas, os seus conflitos e os seus dramas. Principalmente no caso da Norma e do Norman, que ora pareciam muito próximos e apegados, ora pareciam distantes e completamente diferentes.
Porém, tem alguns pontos dentro dessa temporada que me incomodou bastante: como o fato da história ser modernizada para a atualidade e se passar em um cenário moderno, onde temos os avanços tecnológicos como o uso constantes de notebooks e afins. Eu até entendo esse avanço na modernização da série, até para se encaixar com o público atual, mas particularmente eu não consegui engolir e me adaptar com essa proposta dentro do universo de "Psicose" (algo parecido com o que me aconteceu com a versão modernizada do filme "Carrie - A Estranha", de 2013).
Outro ponto que me incomodou (aqui eu já acho uma falha mesmo da série), é o fato de cada história ser mal desenvolvida, mal planejada, vaga, rasa, pobre, sem um aprofundamento que pudéssemos sentir o peso de cada acontecimento de cada personagem envolvido. Por exemplo: temos três personagens com histórias distintas que começou e terminou nessa temporada, e de forma totalmente rasa e aleatória. Que é o caso da personagem Jiao (Diana Bang), a garota presa no porão, o Zack Shelby e o Jake Abernathy. Sinceramente eu não sei o que os roteirista pretendiam, mas acredito que eles queria impactar, queriam nos surpreender com mortes repentinas quando não estivéssemos esperando, com de fato aconteceu. Eu entendo o fato de não quererem construir uma temporada ou mais elaborando subtramas e desenvolvendo histórias paralelas com a trama central, mas você não pode simplesmente jogar vários personagens em uma série, tentar construir uma história diferente pra cada um, onde você desperta o interesse do espectador, e simplesmente decidir matar o personagem assim do nada, só pra gerar impacto sem a mínima coerência. Eu achei um erro grotesco do roteiro da série.
Tecnicamente a série é muito boa!
Acredito que a direção de arte é o principal destaque aqui, e muito por construir cenários fiéis com o clássico e encaixá-los com harmonia na forma moderna adotada pela série. A fotografia é bem destacada, bem organizada, muito bem projetada em cada cena. Assim como a trilha sonora, que acompanha bem a série em sua versão modernizada.
"Bates Motel" é a série dramática com roteiro original de maior duração na história do canal A&E. Os atores principais da série, Vera Farmiga e Freddie Highmore, receberam elogios especiais por suas atuações na série, com a Vera recebendo uma indicação ao Primetime Emmy Award e ganhando o Saturn Award de Melhor Atriz de Televisão. A série também ganhou três People's Choice Awards de Drama Favorito de TV a Cabo e de Atriz Favorita de TV a Cabo (Vera Farmiga) e Ator (Freddie Highmore).
A primeira temporada recebeu críticas positivas dos críticos: no Metacritic, a temporada detém uma pontuação de 66 em 100, com base em 34 críticos, indicando "críticas geralmente favoráveis". No agregador de resenhas Rotten Tomatoes, a temporada tem uma classificação de 84% "fresco certificado" com uma pontuação média de 7,11/10, com base em 43 resenhas. O consenso crítico do site diz: "Bates Motel utiliza manipulação mental e táticas de medo de suspense, além de um trabalho de personagem consistentemente nítido e relacionamentos familiares maravilhosamente desconfortáveis".
A primeira temporada de "Bates Motel" é muito boa, muito bem apresentada, com um início bastante cativante, onde conta com um ótimo elenco e ótimas apresentações. Acredito que a temporada deixa muito a desejar no quesito roteiro, por querer contar várias histórias todas ao mesmo tempo e no fim não desenvolver e não finalizar nenhuma com coerência e relevância. Porém, ainda assim eu acredito que a série tem potencial para desenvolver melhor os roteiros das próximas temporadas e entregar uma série que no fim honre o nome de uma das maiores franquias de suspense de todos os tempos - "Psicose". [03/09/2023]