Às vezes, o sucesso de bilheteria de um filme não é sinônimo de uma boa experiência durante as filmagens. Basta perguntar a Peter O'Toole, Brad Pitt e Diane Kruger. Os três trabalharam juntos em Troia, filme que teve Wolfgang Petersen como diretor e David Benioff – futuro showrunner de Game of Thrones – como roteirista, e que buscava replicar o sucesso de Gladiador.
O longa, que contava com mais rostos conhecidos como Orlando Bloom e Eric Bana, se tornou uma das maiores bilheterias de 2004. A Paixão de Cristo, Homem-Aranha 2 e Shrek 2 foram os demais destaques daquele ano. No total, Troia, que é baseado no famoso poema “Ilíada”, de Homero, arrecadou mais de US$ 497 milhões mundo afora, com um orçamento de US$ 175 milhões. Até os críticos aprovaram.
No entanto, a portas fechadas, a realidade era um pouco diferente para o elenco, que nunca escondeu o fato de não guardar boas lembranças das filmagens. O'Toole, por exemplo, usou o termo “kraut”, uma ofensa em alemão, para se referir ao diretor durante o Savannah Film Festival: “Que desastre. O diretor, aquele ‘kraut’, que palhaço ele era.”
O astro de Lawrence da Arábia (1962) e intérprete do rei Príamo em Troia reconheceu só ter visto alguns minutos do filme. “Quando tudo acabou, assisti a 15 minutos da versão final e fui embora. Pelo menos tenho uma boa cena”, disparou O'Toole.
Quem também não se divertiu muito foi Kruger, que deu vida a Helena. A atriz admitiu, em 2022, que se sentiu totalmente objetificada durante as audições. “Lembro-me de ter que ir ao estúdio fantasiada. Eu me senti como um pedaço de carne, sendo olhado de cima a baixo e perguntada: ‘Por que você acha que deveria trabalhar nisso?’”
Além disso, Kruger não se deu tão bem com O'Toole, que faleceu em 2013. “Ele não era a pessoa mais legal. Ele estava bêbado”, contou a atriz ao BuzzFeed, em 2016. “Eu interpretei Helena de Troia, e ele teve um papel de apenas dois dias. Mas era Peter O'Toole e queria ter certeza de que todos soubessem que era Peter O'Toole.”
“Eu mal conseguia subir as escadas. Estávamos em um set onde tínhamos que subir cerca de 100 degraus. Todo mundo pensou que eu ia morrer ali mesmo, porque estava 48ºC e eu tive que subir 100 degraus. Ele estava muito velho e muito bêbado”, completou Kruger.
Por fim, Pitt, o grande protagonista do filme na pele de Aquiles, deixou claro que não gostava do projeto e que participou por obrigação. “Saí de outro filme e tinha que fazer algo para o estúdio. Então me colocaram em Troia”, afirmou em 2019, ao The New York Times. E continuou:
Não foi doloroso, mas percebi que a forma como o filme foi contado não era como eu queria. Cometi meus próprios erros nisso. O que estou tentando dizer sobre Troia? Eu não podia sair de quadro. Eu estava enlouquecendo. David Fincher me mimou. Não foi um desprezo contra Wolfgang Petersen. Das Boot é um dos melhores filmes de todos os tempos, mas em algum momento Troia se tornou comercial. Cada cena era tipo, ‘Aqui está o herói!’ Não havia mistério.
A experiência ainda fez Pitt repensar sua carreira: “Naquela época, tomei a decisão de que iria investir em histórias de qualidade. Foi uma mudança que levou à próxima década de filmes.”