Uma das poucas certezas que a gente tem quando se depara com Charlie (Brendan Fraser, vencedor do Oscar 2023 de Melhor Ator), a personagem principal de “A Baleia”, filme dirigido por Darren Aronofsky, é a de que ele desistiu de viver. Isolado do mundo, com relacionamentos sociais restritos e convivendo com o sobrepeso, Charlie passa seus dias esperando pelo momento em que vai morrer.
O roteiro escrito por Samuel D. Hunter (com base na peça de sua autoria) acompanha justamente a última semana de vida de Charlie, em que ele toma algumas decisões importantes: a principal delas é a tentativa de reconexão com a filha Ellie (Sadie Sink), a quem ele abandonou após se divorciar da esposa (Samantha Morton).
Por meio do retrato da rotina de um homem solitário e que perdeu o prazer de viver; através do recorte de seus relacionamentos pessoais, com gente que transita, temporariamente, em sua vida; temos a tentativa de um estudo da personalidade de Charlie, ao mesmo tempo em que o filme propõe a compreensão do por quê, talvez, ele tenha desistido de viver.
Os traumas de Charlie, as dores que ele carrega consigo, a sua falta de amor próprio, a culpa que ele sente e a fé inabalável dele na bondade do ser humano são características que ficam palpáveis em cada cena. A sua resignação com seu destino também - o que reflete, por sua vez, o caráter autodestrutivo que Charlie possui.
“A Baleia” é um filme que faz um estudo competente de um personagem, principalmente na maneira como dialoga com suas referências, em especial com a obra “Moby Dick”, de Herman Melville. A dor e a delícia de ser Charlie estão diretamente relacionadas ao fato de que a personagem decidiu se entregar ao caminho da verdade, em todas as esferas de sua existência.