A culpa carregada por Liz por não ter conseguido salvar o irmão.
A saudade e insegurança negadas por Mary depois de se sentir trocada por quem amava.
A convivência com a fuga da própria vida enquanto busca maneiras de viver uma nova por Thomas.
A simpatia com o desconhecido pelo entregador de pizza Dave e sua surpresa e desprezo com a descoberta da realidade.
A volta e o não julgamento de um pássaro na janela.
O sentimento eterno de abandono e solidão, de rebeldia agressiva como resposta e solução para as amarguras por Ellie.
O su1cídio silencioso de Charlie, o sentimento de culpa pela perda de um amor e de um abandono, a cobrança de sinceridade em redações por precisar que as pessoas sejam honestas com o que sentem e entender a importância disso pra vida, a passividade tóxica consigo mesmo por precisar de aprovação dos outros e "aceitar" normalmente a negação dos outros por acreditar que mereça como consequência de seus erros...
TODOS, sem execeção de nenhum, até mesmo aqueles que não vemos, todos os personagens carregam consigo uma profundidade emocional imensa, uma construção psicológica difícil de ser entendida e aceitada, visto que acima de tudo precisamos de humanidade para isso, deixando de lado todos nossos julgamentos e visões de mundo fechadas em bolhas sociais amargas.
A proporção de tela apertada, a iluminação e a paleta de cores sempre escura, a contagem de dias conforme a passagem do filme, o cenário sempre bagunçado e apertado, a chuva incessante e principalmente *a trilha sonora* te levam para um filme delicado e claustrofóbico. É muito dificil assistir e não se deixar levar pelo sentimento de que a cada minuto é mais e mais difícil de respirar. A ansiedade ataca, o coração acelera, começam náuseas, incômodos físicos... E mesmo sendo ruim de se sentir esse tipo de coisa, pra mim, é assim que vejo o quanto um filme funcionou, o quanto objetivo de ter a arte como incômodo para debates sociais, foi cumprido. Esse filme é um drama que trata de muitas feridas, e faz questões de cutucar propositalmente todas elas. Homofobia, gordofobia, preconceito religioso, abandono paterno, luto, depressão e até mesmo a escrita como espaço de cura mental. É um filme pesado, e é pra ser mesmo, polêmico.
Muitos classificaram até como exagerado e caricatural, porém é importante saber reparar nesses detalhes. Papéis que não tiveram muita informação dada pelo diretor como direcionamento para se aprofundar (como no caso de Sadie Sink, que apesar de seu potencial cênico acabou caindo em uma adolescente rebelde, e não por sua culpa). Cenas "apelativas" segundo o público se tratando sobre a compulsão alimentar do personagem Charlie, quando na verdade precisamos tentar entender que aquela era a forma que o próprio personagem se via, como alguém nojento, porque era assim que o mundo demonstrava ver ele. É apelativo? Ou foi uma forma de demonstrar uma realidade difícil?
A trilha sonora merece o meu reconhecimento mais sincero para essa obra, foi o que mais me chamou atenção desde o início do filme, é obscura, profunda, sufocante... assim como o filme e assim como o mar.
Sobre o mar... há muito a se dizer para tão pouco espaço. Esse é um filme que remexeu muito no meu mental, analisei tanto, me entreguei tanto... me prendeu e me comoveu, merece o reconhecimento que vem ganhando, e mais do que tudo, merece os debates sociais que tanto instiga propositalmente, conversem sobre ele, não tratem o filme sobre como entretenimento passageiro!