Grande parte da fama de "Boyhood - Da Infância à Juventude" vem do fato de que ele passou 12 anos em produção. E algumas pessoas diriam que isso é apenas um artifício para chamar a atenção, mas não é. Imaginem a dedicação, o trabalho e a paciência necessários para trabalhar em um projeto por 12 anos. É incrível!
O que eu posso dizer é que esse filme é como uma pintura. É preciso saber apreciá-lo. Indo vê-lo, você precisa saber que está prestes a assistir um filme de quase 3 horas sobre a infância e a juventude de uma pessoa. O filme não glorifica a vida, Mason não tem nada de especial e surreal. Ele é apenas um garoto normal passando por todas as dificuldades, indecisões, questionamentos e inseguranças da juventude.
Então, a partir do momento que você tem consciência do que está prestes a ver, eu acho que existe muito a ser apreciado nesse filme. "Boyhood - Da Infância à Juventude" nos dá uma perspectiva muito realista sobre a vida. O filme nos mostra que ela não passa de uma série de objetivos pré-estabelecidos. E sempre que um deles é alcançado, nós automaticamente partimos atrás do próximo. Por exemplo: preciso estudar. Terminei de estudar, e agora? Preciso fazer faculdade. Terminei a faculdade, e agora? Preciso arrumar um emprego. Arrumei um emprego, e agora? Preciso casar e ter uma família. Casei e tenho uma família, e agora? Preciso sustentar os meus filhos. Entendeu? Nós simplesmente vivemos a vida um objetivo pré-estabelecido atrás do outro.
Além disso, o filme nos mostra também o quão momentânea a vida é. Algumas pessoas passam a vida inteira perseguindo esses objetivos e, quando menos esperam, elas percebem que suas vidas não passaram de uma interminável busca atrás de algo. E é o Mason percebe ter acontecido com a sua mãe, Olivia Evans (Patricia Arquette). Ela passou a vida inteira atrás dos objetivos pré-estabelecidos da vida e, antes que pudesse perceber, ela já estava vendo o seu segundo filho sair de casa para a ir para a faculdade. E é nesse momento do filme que o espectador pode levar um soco emocional no estômago, pois é aí que nós percebemos a vida é, na verdade, um momento.
Quanto à atuação, o fato de "Boyhood - Da Infância à Juventude" ter passado 12 anos em produção nos dá uma oportunidade muito interessante de vermos atores evoluindo e envelhecendo em tempo real. No início do filme, Ellar Coltrane era bastante tímido e pouco emocional. E conforme ele foi crescendo como pessoa e evoluindo como ator, nós podemos perceber a sua performance evoluindo junto com ele. Nós passamos a sentir mais emoção e realismo no que ele fala, no que ele sente e no que ele pensa. E eu já gostava muito do Ethan Hawke, que interpreta o pai do Mason, mas ele me surpreendeu nesse filme. A sua performance foi bastante sutil e enérgica, dando ao seu personagem um enorme senso de realismo. E o mesmo eu poderia dizer de Patricia Arquette. A personagem dela foi a que teve os momentos mais emocionantes do filme.
E isso me leva ao próximo ponto que eu gostaria de abortar: "Boyhood - Da Infância à Juventude" é um filme muito bem escrito. Nada parece forçado ou surreal, e esse é o verdadeiro charme do roteiro, a simplicidade. Todos os personagens e suas falas, decisões, conflitos e sentimentos são simples e realistas. Além disso, outra coisa que me fascinou nesse roteiro e na direção, foi o fato de Linklater ter confiado na sua audiência. Conforme o tempo vai passando, ele nunca coloca uma legenda especificando exatamente em qual ano o filme está no momento. Isso é retratado através de eventos da época ou simplesmente mudanças características dos personagens. E nós temos a ótima oportunidade de descobrirmos quanto tempo já se passou por nós mesmo. Eu adorei isso.
No final das contas, "Boyhood - Da Infância à Juventude" é um fascinante e emocionante estudo sobre a condição humana, com ótimas performances e meticulosa direção. É um filme que, com certeza, será estudado e analisado por anos, e é por isso que "Boyhood - Da Infância à Juventude" recebe uma nota 4,5 de 5.