Um filme que confirmou minhas péssimas expectativas sobre as indicações ao Oscar deste ano e me fez pensar sobre o que realmente importa em um bom filme. Mesmo sabendo que a resposta sobre isso sempre é relativa, por dizer respeito muito mais a QUEM se importa do que ao QUE importa, me fiz essa pergunta. E me fiz essa mesma pergunta porque, quando assisti a Gravidade, e o filme ganhou o Oscar, e um dos argumentos foi o fato de ter sido filmado em ambiente com zero gravidade, estranhei, repensei o estranhamento e continuo estranhando.
Não estudo cinema (ainda), pelo menos não formalmente, em uma Universidade. Mas me identifico com o cinema porque nele eu posso simplesmente sentir. Isso, pra mim, é um dos pontos-chave em um filme: o que ele me faz sentir e no que ele me faz refletir.
Postas as premissas, contextualizada a análise, devo dizer que o filme é algo extremamente superficial do ponto de vista da sensibilidade. Sua paciência faz uma ginástica enorme pra você aturar as 2 horas e meia vendo passar a vida de uma família composta por mãe, filho e filha (mais um pai ausente que aparece de vez em quando pra se fingir presente).
As personalidades são banais (a do protagonista é tão inerte que eu cheguei a pensar que era uma provocação), a rotina desinteressante é sufocante. Alguns dizem: Ah, mas o que é a vida senão essa rotina desinteressante, essa sucessão dos mesmos erros no "amor" etc?
Bom, acho que não é porque a sua vida é um saco que nós vamos agora querer condenar os filmes ao mesmo insucesso.
Mas você se sustenta ali na cadeira. Afinal “o filme foi filmado ao longo de doze anos, acompanhando o processo de envelhecimento dos personagens”, é um trabalho diferente. Ok. Você se sustenta ali, vendo diálogos banais, enquadramentos banais, pequenos conflitos banais. E só. Era isso?
De um filme, sobretudo com tantas indicações a um prêmio tão aplaudido, espera-se isso? Um formato? Um modo de gravação? Devo respeitar um filme porque “deu trabalho”, porque a gravação durou doze anos ou porque foi filmado em ambiente com zero gravidade, em outras palavras, devo respeitar um filme porque custou caro? A resposta é: sim, desde que seja norte-americano e veicule mensagens com este caráter, já dizia o São Oscar.
Me apropriando das palavras da própria Olívia (interpretada por Patricia Arquette, indicada ao prêmio de melhor atriz secundária), “eu achava que tinha mais”.
O sentimento que eu tive foi: saí de casa para ver um filme no estilo de Corrente do Bem. Aquele que o professor da oitava série passa segmentado pros alunos uma ou duas vezes por semestre. Um pedacinho em cada aula. Pra dizer que usou uma mídia na aula. Pra variar um pouco a “metodologia”. Pra usar a sala de TV da escola. Então o professor tem que escolher um filme: que seja fofinho, com o qual os adolescentes se identifiquem (então tem que ter adolescente no filme), com algum conflito (mas não muito, pra não mostrar “violência”.. uiuiui), e “que passe bons valores”.
E, nessa busca do professor da oitava série por esse produto acabado e ainda com cheirinho de plástico, é na cultura norte-americana que ele vai esbarrar (o filme é quase uma aula sobre o american way of life, seus esportes, sua educação, sua política, suas tradições – ainda posso ver a cena do avô do Mason dando-lhe um rifle de presente de aniversário de 15 anos e ensinando-o a atirar logo em seguida).
Em suma, uma narrativa repetitiva sobre uma história familiar na última década. Um filme bom para um simples entretenimento, com rasas referências contemporâneas, pouco a se refletir e pouco a ser atiçado aos olhos e ouvidos de quem observa.
Seria um filme comum, desmerecedor de comentários positivos ou negativos. Não fosse o fato de ter sido filmado ao longo de 12 anos. Não fossem as tantas indicações ao Oscar. Não fosse a rasgação de seda, a meu ver descabida, a esse simples... filme.