Após a ação que culminou com a morte do brutal Pablo Escobar, a série da Netflix parecia chegar a sua conclusão, no entanto, assim como seus produtores disseram, NARCOS é um série sobre narcotráfico, almejando deixar margem para estender a proposta da franquia a outra instância. A terceira temporada mudou o foco de Medellin para Cali, uma vez que o discreto mas não menos perigoso cartel local ganhou espaço para o tráfico de cocaína e recebeu atenção direcionada do órgão americano DEA. O grupo formado pelos traficantes Gilberto Rodríguez Orejuela (Damián Alcázar), Miguel Rodríguez Orejuela (Francisco Denis), Pacho Herrera (Alberto Ammann) e José "Chepe" Santacruz-Londoño são os alvos principais do agente Javier Peña (Pedro Pascal), que aqui assume o protagonismo dessa série que tem muito a oferecer.
Apesar de não ter um único antagonista como as temporadas anteriores, NARCOS mantém uma qualidade notável do ponto de vista da execução. Os personagens são retratados com a devida verossimilhança, não só de visual mas também de conduta, levando o expectador a conferir como a realidade se misturou a ficção com devidas observações para não atrapalhar no contexto narrativo. Ao longo de dez episódios acompanhamos como o cartel de Cali era minunciosamente mais estratégico do que o comandado por Pablo Escobar, mas também suscetível a falhas que podem ser cruciais para o passo seguinte de ambos os lados envolvidos. A condução visual que mistura imagens da época com as filmagens recentes garante mais força às informações ali retratadas, muitas vezes criando ainda mais espanto devido à crueldade dos atos dos cartéis que não veem limites em suas ações.
O elenco, mesmo com o fantástico Wagner Moura de fora, tem mérito de sobra, com destaque evidente para Pedro Pascal, que consegue conduzir o protagonismo sem qualquer dificuldade, moldando um personagem repleto de vontade para dar fim ao tráfico de drogas e como as consequências disso podem ser complicadas do ponto de vista político. O grupo de Cali também se destaca, Damián Alcázar é o mais notável deles, graças ao seu espírito articulador para liderar uma família cheia de ódio quando se fala em calmaria; outro que chamou muita atenção foi Matias Varela, cujo personagem Jorge Salcedo é vital para todos os lados da história, tornando-se uma engrenagem capaz de parar o lado contrário às suas aspirações.
NARCOS mostra grande força com sua proposta de ser uma série sobre o narcotráfico, deixando para traz aquele que foi alvo de suas investidas ao longo de duas temporadas para se concentrar em algo maior e que visa expandir o entretenimento em outro nível. Para quem acompanhou as temporadas anteriores, essa começará mais lenta até ganhar o volume de tensão capaz de arrancar palpitações aceleradas, garantindo assim, o devido mérito ofertado por mais um conteúdo original da Netflix.