O deslumbrante Blade Runner 2049, dirigido por Denis Villeneuve, trouxe um dos mundos mais impressionantes da história do cinema de volta às telonas e amplificou a identidade visual do clássico Blade Runner, o Caçador de Andróides. Combinando a fotografia de Roger Deakins às cenas de incríveis efeitos digitais, o filme conquistou a atenção do público e da crítica com seu visual arrojado - e com duas sequências-chave: a ressurreição de Rachael (Sean Young), narrada pelo supervisor de efeitos especiais Richard Clegg em entrevista exclusiva ao AdoroCinema; e a cena de sexo triplo e holográfico entre K (Ryan Gosling), Joi (Ana de Armas) e Mariette (Mackenzie Davis).
No longa, K - o replicante que acaba se deparando com os rastros deixados por Rick Deckard (Harrison Ford) -, tem como namorada a holográfica Joi, uma modelo virtual fabricada pela companhia de Niander Wallace (Jared Leto). Como ela não é uma presença corpórea, Joi só pode sentir o toque de K - e se sentir real - caso sincronize seu corpo virtual ao de uma mulher - seja humana ou não - de carne e osso. Então, entra a prostituta Mariette, convocada pela modelo virtual. Para completar esta sequência em específico, Villeneuve e sua equipe precisaram de um ano inteiro - o processo, inclusive, levou o cineasta a afirmar que esta é a cena de sexo mais complexa da história do cinema (via IGN). E ele pode estar certo.
Para além das implicações filosóficas que dizem respeito à pergunta fundamental da saga Blade Runner - o que significa ser humano? -, a sequência em questão também se destaca por analisar a influência que as máquinas e a virtualidade exercem em nossa realidade; e, é claro, pelo profundo trabalho de composição. Mas por mais que os computadores tenham sido fundamentais no processo, a íntima cena dependeu mais de efeitos práticos do que de qualquer outra coisa. O objetivo de Villeneuve era, acima de tudo, depender o mínimo possível do CGI (imagens geradas por computador, em português). Portanto, a equipe logo descartou o uso de fundo verde ou de captura de movimentos e se concentrou em filmar a cena com uma atriz de cada vez para sobrepôr as duas na pós-produção - processo conhecido na fotografia como "dupla exposição".
Mas como o perfeccionismo que envolve Blade Runner 2049 é muito grande, os artistas de efeitos digitais do longa também criaram modelos em 3D para Armas e Davis. Assim, ajustes finos poderiam ser realizados nos mais detalhados movimentos de cada uma delas no momento da fusão entre as duas - a cena, não por acaso, é chamada de Merge, ou fundir em português, pelos produtores. "Era importante para mim colocar os atores no centro do processo [...] Queria que não fosse sobre o visual, mas muito mais sobre a emoção que os personagens estavam encarando, teria que ser algo poderoso e significativo. Queria que ela tivesse uma espécie de qualidade analógica - que poderia ser um processo fotográfico, não como Star Wars, mas digital e o mais orgânico possível", declarou Villeneuve.
"Queria que elas se unissem e se tornassem uma terceira mulher. Quando fizemos o teste, adorei que este terceiro rosto tinha uma presença erótica. E o que foi interessante para mim é que quando não estavam sincronizadas, as mulheres tinham experiências emocionais diferentes. Elas estavam lá por razões diferentes e, no fim das contas, ambas estavam ligadas pela ideia de amor. A prostituta é tocada com carinho e recebe emoção de K e, pela primeira vez, Joi consegue sentir que é real", finalizou o cineasta. Bem, a julgar pelo resultado final, ele completou o objetivo com sucesso.
Blade Runner 2049 concorre a 5 Oscar, incluindo nas categorias de Melhor Fotografia e de Melhores Efeitos Especiais, na edição 2018 do prêmio da Academia. A cerimônia terá lugar no dia 4 de março - relembre a lista completa de indicados e fique ligado na cobertura completa do AdoroCinema!