As plataformas de streaming globalizaram o cinema. Agora é mais fácil que um filme feito fora da indústria de Hollywood possa chegar a todas as partes do mundo. No entanto, quando esses serviços não existiam e o consumo se limitava às salas, era muito mais complicado que um filme feito em um país europeu arrasasse no mundo todo. Isso aconteceu em raras ocasiões. Um exemplo é o drama francês A Voz do Coração (2003), um filme dirigido por Christophe Barratier que arrecadou mais de 88 milhões de dólares em todo o mundo.
A Voz do Coração estreou nos cinemas em 2004 e acumulou 8,6 milhões de euros na França. Foi indicado a Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Canção Original no Oscar de 2005.
A história de um professor de música que chega a um internato e ensina as crianças a cantar marcou uma geração. Ambientado em 1949, Clément Mathieu, interpretado por Gérard Jugnot, é o protagonista. Ele chega à escola como supervisor, mas a vida no centro não é fácil e ele se propõe a mudar isso formando um coral.
Entre essas crianças está Pierre Morhange, o primeiro papel no cinema de Jean-Baptiste Maunier. O intérprete e cantor foi descoberto por Barratier quando tinha 12 anos e fazia parte de um coral. O cineasta procurou entre 200 jovens para encontrar as crianças perfeitas para seu filme, pois não queria atores profissionais.
Maunier, que nasceu em 1990, é pai de duas filhas e trabalha, principalmente, como ator de dublagem: emprestou sua voz a Viktor em The Umbrella Academy, a Jesse em The Walking Dead e a Zuko em Avatar: A Lenda de Aang.
"Não faria nem morto"
Pathé Renn Productions
A Voz do Coração foi um sucesso tão grande que, na França, superou blockbusters do calibre de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (7,1 milhões de euros) e Shrek 2 (7,1 milhões de euros), títulos que também estrearam em 2004. Para comparar, outro filme mais recente que também não superou o filme de Barratier é Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (7,3 milhões de euros), lançado em 2021.
A Voz do Coração entra na lista dos maiores sucessos franceses do cinema como Intocáveis (2011) - 19,5 milhões de euros - e O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001) - 8,6 milhões de euros. Seu diretor reconheceu no Público que lhe ofereceram fazer uma sequência, mas ele recusou. "Me sinto um privilegiado por este sucesso", afirmou em 2009. "Não faria nem morto", acrescentou sobre a segunda parte.
Para A Voz do Coração, Barratier se inspirou em sua própria experiência, pois quando criança esteve em um internato. Lá conheceu um professor de música que lhe ensinou a cantar e se tornou o soprano líder do coral. Além de suas vivências, o filme também é inspirado no filme La Cage aux rossignols (1945).
"Eu era muito solitário e muito tímido, então esta história vem das minhas lembranças, mas também da minha imaginação", disse à BBC em 2005. "Eu era um pouco como todas aquelas crianças".
*Conteúdo Global do AdoroCinema
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