Uma das qualidades do diretor e roteirista Rian Johnson é conseguir reunir um elenco mais do que estrelado em seus filmes. Foi assim com Adrien Brody, Rachel Weisz e Mark Ruffalo em Vigaristas; com Mark Hamill, Carrie Fisher, Daisy Ridley, Oscar Isaac e Adam Driver em Star Wars: Os Últimos Jedi; e Chris Evans, Ana de Armas, Jamie Lee Curtis, Toni Collette e Christopher Plummer em Entre Facas e Segredos.
Em Glass Onion, a aguardada sequência deste último, não foi diferente. Protagonizado por Daniel Craig, o longa-metragem da Netflix traz outros nomes de peso como Janelle Monáe, Edward Norton e Kate Hudson. Mas também se destaca pelo cuidadoso trabalho de design de produção, direção de arte, figurino e maquiagem.
Na trama, o detetive Benoit Blanc (Craig) vai parar na Grécia, na luxuosa ilha do bilionário Miles Bron (Norton), que convidou seu grupo seleto de amigos para um fim de semana agitado. O que era parece ser um jogo de detetive como o de tabuleiro, orquestrado por Miles, se torna uma disputa perigosa por sobrevivência quando um assassinato acontece de verdade.
Se você já assistiu a Glass Onion, provavelmente ficou chocado com o tamanho da mansão de Miles e com sua decoração ao mesmo tempo extravagante e sofisticada. O local mais parece um museu do que uma residência, abarrotado de pinturas, esculturas e até ruínas históricas.
James Carson, que trabalhou como artista conceitual do filme, foi o responsável por organizar a coleção de Miles. Por um lado, a curadoria representa excesso, riqueza e acumulação; por outro, reproduz o apreço de várias galerias pela expressão artística dos séculos 20 e 21.
Para fazer isso, Carson recuperou telas de Piet Mondrian (Composição em Oval, 1914), Francis Bacon (Crucificação, 1933), Pablo Picasso (Gato Pegando um Pássaro, 1939), Mark Rothko (Número 207, 1961), Alexander Calder (Projeto de Estábulo, 1969), David Hockney (Cânion de Nichols, 1980) e Jean-Michel Basquiat (Neste Caso, 1983).
Nos demais cômodos, inclusive nos banheiros, estão quadros famosos como A Alegria de Viver (1906) e Ícaro (1944), ambos do francês Henri Matisse. No entanto, há um item altamente disruptivo na sala de estar, que contrasta com o gosto contemporâneo de Miles. Trata-se de Mona Lisa, a obra de arte mais conhecida do mundo.
Criada pelo italiano Leonardo Da Vinci por volta de 1519, durante o chamado Renascimento, a peça cumpre um papel além do decorativo. À medida que o mistério do filme é desvendado, Mona Lisa fica observando silenciosamente o grupo de amigos, por detrás de sua proteção de vidro.
Embora pareça um pouco estranha naquele ambiente, a pintura é a chave para a crítica de Johnson aos bilionários e sua obsessão por legado. Ao longo da história, Miles menciona que quer ser lembrado como Mona Lisa. Porém, ao contrário de Da Vinci – que se eternizou devido aos seus múltiplos talentos –, Miles busca a glória por meio de seus bens materiais, e não de suas contribuições.
Glass Onion está disponível no catálogo da Netflix, assim como Entre Facas e Segredos. O elenco ainda inclui Kathryn Hahn, Leslie Odom Jr., Madelyn Cline, Jessica Henwick e Dave Bautista.