O filme Annabelle, lançado em 2014 e dirigido por John R. Leonetti, é um dos títulos que compõem o universo cinematográfico de Invocação do Mal, criado por James Wan. Com foco em uma boneca possuída que já havia sido brevemente mencionada no primeiro Invocação do Mal (2013), Annabelle procura expandir o enredo em torno dessa figura macabra, mergulhando em uma história de possessão demoníaca. No entanto, ao contrário do impacto positivo do filme original, Annabelle foi recebido com opiniões divididas, sendo criticado por não atingir o mesmo nível de tensão e terror psicológico. Ainda assim, a boneca se consolidou como um ícone do terror na cultura pop.
A trama do filme é ambientada na década de 1960, acompanhando o jovem casal Mia (Annabelle Wallis) e John Form (Ward Horton), que vivem uma vida tranquila até Mia ser atacada por membros de um culto satânico. Esse ataque resulta na invocação de uma entidade demoníaca que passa a assombrar o casal por meio da boneca Annabelle, que havia sido dada a Mia como presente. A partir desse ponto, a história segue os esforços do casal para se livrar da influência maligna da boneca, enfrentando situações perturbadoras e cada vez mais ameaçadoras.
Um dos aspectos que se destacam negativamente no filme é a dependência excessiva de jump scares para gerar medo no público. Ao contrário de Invocação do Mal, que soube equilibrar sustos repentinos com uma atmosfera carregada de tensão, Annabelle parece se apoiar em sustos fáceis, muitas vezes previsíveis, que comprometem a imersão. O filme falha em criar uma construção narrativa sólida que envolva o espectador de forma mais sutil e psicológica, um elemento crucial para que o terror seja realmente eficaz.
A personagem Mia, interpretada por Annabelle Wallis, é uma das poucas que consegue trazer algum alívio à narrativa com sua performance convincente, transmitindo bem o medo crescente e o desespero de uma mãe tentando proteger sua família. No entanto, os personagens coadjuvantes, incluindo John Form e o padre Perez (Tony Amendola), são bastante superficiais e não agregam profundidade à trama, deixando a narrativa desprovida de desenvolvimento emocional ou psicológico mais robusto.
Um ponto positivo do filme é sua cinematografia e design de produção, que consegue capturar com eficiência a estética da época. A casa dos Form é um cenário evocativo, com uma sensação de isolamento e vulnerabilidade que contribui para o tom de inquietação. Além disso, a própria boneca Annabelle, com seu visual grotesco e perturbador, é um elemento que inevitavelmente chama a atenção e cria uma sensação de desconforto sempre que aparece em cena. É inegável que seu design é eficaz, e a boneca logo se tornou uma figura memorável dentro do gênero de terror.
Contudo, apesar de sua estética atraente, Annabelle tropeça em sua tentativa de criar uma narrativa convincente. O enredo é, em muitos momentos, previsível, com poucos momentos de real inovação. O filme não explora completamente o potencial da boneca como um objeto de horror psicológico, algo que poderia ter sido feito de forma mais eficaz com uma abordagem mais sutil e psicológica, em vez de apelar constantemente para sustos diretos e sensacionalistas.
O sucesso de Annabelle não se deve apenas à qualidade do filme em si, mas à maneira como ele foi comercializado. Sendo parte do universo Invocação do Mal, já havia uma expectativa estabelecida em torno do lançamento, e a presença da boneca em materiais promocionais foi suficiente para atrair o público. Além disso, o apelo visual da boneca fez com que Annabelle rapidamente se tornasse um ícone da cultura pop, aparecendo em memes, campanhas publicitárias e até mesmo sendo mencionada fora do contexto do terror.
Em termos de legado, Annabelle ajudou a solidificar o modelo de franquia centrado em um universo compartilhado de histórias de terror, algo que seria repetido em sequências e derivados subsequentes, como A Freira (2018). Embora criticada, a popularidade da personagem demonstrou a eficácia desse tipo de abordagem no cinema de terror contemporâneo, onde o impacto cultural de uma figura assombrada pode, às vezes, superar a qualidade do filme em que ela aparece.
Concluindo, o filme Annabelle é um exemplo interessante de como um objeto icônico pode transcender a própria narrativa de um filme, solidificando-se na cultura pop mesmo quando a obra em si não atinge todo o seu potencial. A boneca Annabelle, em 2024, completa 14 anos como uma das personagens mais reconhecidas do cinema de terror, ainda que seu filme de estreia tenha falhado em explorar de maneira plena a riqueza do terror psicológico que a personagem poderia ter proporcionado. Para os fãs do gênero, Annabelle pode ser uma experiência divertida e perturbadora, mas para aqueles que buscam um terror mais elaborado e imersivo, o filme deixa a desejar.