Achei o filme fantástico! Amei, porque retratou, na pessoa de Moisés e Faraó, como alguns homens aceitam os mandamentos e a justiça de Deus, mesmo que de forma hesitante, em um ato de fé e aqueles que fazem o contrário.
Na figura de Ramsés pude perceber a dificuldade que nós, pessoas, temos de aceitar a ideia de que a justiça de Deus existe frente aos atos infames cometidos pela humanidade. A justiça, normalmente, é mais bem vinda quando feita pelos homens, na figura do estado, por prisão, forca, injeção letal ou mesmo por justiceiros, mas quando dita “pela mão de Deus”, soa como heresia, levando sua existência a ser questionada, onde Ele é tido como mal, onde não se admite sua existência caso permita este ou aquele infortúnio. E nos casos que o Estado não pode intervir? Quando o algoz é o estado? Quando o algoz aos olhos humanos é invencível? Quando só um milagre resolveria?
A dinastia Ramsés, por mais de 400 anos, escravizou os Israelenses para construir seu império e, na tentativa de conter a natalidade dos mesmos, matava todos os bebes recém-nascidos, primeiro na hora do nascimento, depois, jogando-os no Nilo. Então, quando Ramsés experimentou um pouco da dor que afligira, sem ter homem ou nação pra culpar e vingar, mudo e impotente mediante o sofrimento, ao invés de repensar seus atos, toma Deus como mau, não se arrepende e, consequentemente, não muda. Em nenhum momento demonstra empatia, ou percebe-se vil. Ao contrario, ressente-se, magoado como um filho mimado. Ele é seu próprio deus: detentor do juízo, da vida e da morte. Por isto, o evangelho é tudo sobre arrependimento e mudança. Consciência que se está agindo mal para poder ter uma postura boa. A lição que tive é que a justiça de Deus, mesmo que tardia, vem. Apesar de terrível, ela é mil vezes melhor que a dos homens. Como disse Davi no seu salmo: Antes cair em suas mãos do que na dos meus inimigos, porque mesmo na sua ira tu te compadeces. Li várias críticas que achavam Ramsés, no filme, obtuso, sem expressão, mas pra mim é exatamente esta a forma que pessoas do coração endurecido agem.
Moisés, ironicamente, era Israelense e, por um ato de Fe de sua mãe, foi colocado em um cesto e deixado à deriva no Nilo, até ser encontrado pela filha de Faraó que o criou como um filho. Apesar de ter sido um príncipe do Egito, em algum momento, deixou tudo pra trás e foi viver como Beduíno, até o momento que Deus o chamou. Achei fantástica a releitura da crescente relação entre Deus e Moisés, desde o primeiro encontro até perto de sua morte: hesitante, desconfiada, ora crendo, ora duvidando, ora aceitando e quase sempre questionando. Apesar do dualismo, da constante negação, Moisés acaba se lançando na aventura proposta por Deus, assim como Cristo exemplifica o caso dos dois tipos de filhos: aquele que diz ao pai que fará o que ele pede, vira as costas e não obedece; e aquele que inicialmente se nega, mas logo em seguida, se arrepende e obedece. No fim da historia, parece que a servidão fica de lado, o entendimento acontece. Moises, gradativamente, diz compreender e concordar. A servidão parece esvanecer e a amizade se estabelece... Achei muito parecido com o que Cristo falou a seus discípulos, depois de um bom tempo juntos: “hoje já não vos chamo servos, porque o Servo não sabe o que o Senhor faz, mas de amigos, porque amigos sabem o que o Senhor faz”.
Moises volta para o Egito tentando libertar o povo do seu jeito, fazendo uso das estratégias de guerra que aprendera no Egito. Mas, Deus pede a ele que observe e veja o que ele fará. Então, as pragas que assolaram o Egito, historicamente comprovadas, começam. O filme, de forma fantástica, tenta mostrar que um evento desencadeou o outro. Nada de problemático, pois a ciência atual não pode negar a existência de Deus, já que não prova o contrario. Mas, mesmo a ciência, emudece após a última praga, que institui a páscoa hebraica e, consequentemente, Cristã, apesar de seus significados, para alguns diferentes, para outros complementares.
A ideia de Deus assumir uma imagem de criança, apesar do inicial estranhamento, pode ser vista como coerente afinal Cristo afirmou que para entrar no céu teríamos que ser como elas. Talvez porque só crianças acreditem neste tipo de historia. Moises teve que se fazer uma! Voltar pro Egito, local onde queriam sua morte! Só doido ou criança pra agir assim.
O filme realmente omite importantes detalhes bíblicos, mas não o essencial , que é a capacidade que esta historia tem de provocar reflexões sobre Deus e homens, ao longo de inúmeras gerações.