No futuro, talvez Trapaça seja lembrado como um dos melhores filmes Scorsesianos que Martin Scorsese nunca fez. E seguramente, se este o tivesse feito, seria considerado um de seus melhores exemplares. Aqui, o que temos? Personagens deliciosamente caricatos, figurinos extravagantes, trilha recheada de clássicos do rock, e uma trama mirabolante cheia de reviravoltas. David O. Russell bebe da fonte dos mais variados filmes de gângster/noir que se possa imaginar, investe em sequências de narrações em off inconstantes, onde nunca sabemos ao certo em que contexto estão se passando, guardando para o clímax(o ponto alto do filme) maiores revelações. O timing cômico dos personagens é perfeito, sacadas pra lá de criativas e politicamente incorretas. Elenco maravilhosamente escalado, com destaque absoluto para Christian Bale, o talentoso ator mais uma vez mergulha no personagem, entrega uma atuação praticamente perfeita. Claro, não é um filme perfeito, o ritmo é irregular demais, desnecessariamente longo. Há momentos em que o desenrolar da trama vai ficando cansativo, difícil de acompanhar, a ponto de não sabermos ao certo a função narrativa de cada personagem. Tudo isso somado a falta de originalidade do plot, que aliais, se ironiza desde o começo, se apresentando como uma História ''livremente inspirada'' em fatos reais. Bom, todos estes problemas podem ser relevados graças à direção segura de O. Russell e ao elenco talentoso, somando um visual estonteante e humor afiado. Trapaça garante boa diversão tanto para o público médio, quanto para os cinéfilos mais constantes, principalmente aqueles que são fãs de um bom noir alá Scorsese. Muito Bom!