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    Olmo e a Gaivota, novo filme de Petra Costa, gera debates e lança campanha viral em apoio à liberdade feminina

    Meu Corpo, Minhas Regras.

    Se em 2013 Petra Costa causou incômodo com sua abordagem sobre a depressão, em Elena, agora ela retorna para tocar em outra ferida, tão global quanto a primeira. Seu novo filme é Olmo e a Gaivota, que mescla ficção e documentário e conta a história de Olivia (Olivia Corsini), uma atriz que está ensaiando para a peça A Gaivota, de Anton Tchekov, quando descobre que está grávida e deverá ser afastada da montagem.

    Vencedor de Melhor Longa-Metragem de Documentário pelo Júri Oficial do Festival do Rio 2015, o filme se destaca por narrar de forma aberta o que acontece com a mulher enquanto gera o bebê, focando em seus aspectos psicológicos, suas escolhas e privações. Durante a cerimônia de premiação do Festival do Rio, no último dia 13 de outubro, Petra Costa entregou um emocionante discurso dirigido às mulheres e levantando questões como a liberdade com o próprio corpo e livre arbítrio – temas tão pertinentes em tempos em que direitos são privados e debates sobre o feminismo e o sexismo entram em foco em vários campos, da política nacional ao cinema hollywoodiano.

    “Eu queria dedicar esse prêmio à minha mãe e às mulheres. E que em breve eu espero que no Brasil toda mulher tenha soberania total sobre o próprio corpo. Seja para rejeitar uma gravidez, interromper com o aborto, que já é legal há mais de 40 anos na França, nos Estados Unidos, em Cuba... Seja pra mergulhar nela, como é no caso do nosso filme, e ter todos os direitos para fazer isso da melhor forma. Espero também que nenhuma mulher brasileira sofra machismo verbal ou físico, desde a presidenta, às cineastas, às atrizes, às domésticas...às mulheres!”, declarou a diretora. Confira no vídeo abaixo seu discurso completo:

    Na ocasião, Petra apareceu usando uma peruca azul, em referência a uma cena do filme, em que Olivia – que não pôde estar presente, aparece com a mesma peruca. O discurso imediatamente repercutiu nas redes sociais, e foi alvo de críticas na página oficial do filme no Facebook, por discutir e apoiar a liberação do aborto. Frases lugares comum, como “se não quer ter filho fecha as pernas”, foram repetidas à exaustão de forma a agredir a posição da cineasta. Em resposta, diversos artistas se uniram em um emocionante vídeo que denuncia a falta de voz das mulheres não só no cinema, mas no que diz respeito ao seu próprio corpo. “Meu Corpo, Minhas Regras” tem a participação de diversos atores que assistiram ao filme e aceitaram o convite para participar da produção. São eles: Alexandre Borges, Bárbara Paz, Bruna Linzmeyer, Fernando Alves Pinto, Gustavo Machado, Johnny Massaro, Julia Bernat, Julia Lemmertz, Nanda Costa, Mumu e Ricardo Targino.

    “Este video foi feito também em resposta a agressões verbais que recebemos na nossa página de facebook depois do discurso feito pela diretora Petra na premiação do Festival do Rio. No discurso [vídeo acima] a diretora dedicou o prêmio às mulheres no desejo que nenhuma mulher brasileira seja vítima do machismo, físico ou verbal, e que toda mulher possa ter soberania sobre o próprio corpo. Comentários como "vadia, se não quer ter filho fecha as pernas" inundaram a nossa página. Aqui vai a nossa resposta”, explica a diretora.

    A campanha não parou por aí. No Facebook, o vídeo é destaque na página oficial do filme, que lançou um aplicativo para que as pessoas demonstrem o apoio em seus perfis.

    Em entrevista ao AdoroCinema, Petra Costa comentou a fluidez do roteiro e como o filme mescla ficção e documentário, e declarou que a convivência com os atores transformou o trabalho em uma relação muito mais íntima do que o inicialmente previsto. "Quando convidamos [Olivia Corsini], descobrimos que ela estava grávida, e o que era para ser um dia se transformou em nove meses".

    Ainda sobre a escolha do tema, Petra se posicionou na entrevista de forma bastante semelhante ao coloca no texto do vídeo: "Tanto em livros de ficção quanto em filmes, quase não tem nenhum retrato interessante que entre no mergulho psicológico de o que se passa na mente de uma mulher durante os nove meses, e isso para mim foi perturbador, porque é imaginar que todo ser humano veio a existir através desse processo e não existem retratos que entrem na complexidade que é a maternidade", declarou. "É muito clichê, acho que é muito tabu falar de qualquer problema que possa vir a existir durante esse processo, dúvidas... e o filme veio também ganhando muito desejo de falar disso", concluiu.

    Nos cinemas a partir de 5 de novembro, Olmo e a Gaivota é uma co-direção entre Petra e a cineasta dinamarquesa Lea Glob. Ambas se aproximaram pela forma como abordam temas densos, já que Glob produziu um documentário sobre o suicídio do próprio pai, semelhante à forma como Costa contou a história de sua irmã em Elena.

    Confira a nossa entrevista completa e o trailer.

     

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