Analisar os anos 80 é uma tarefa complicada. Todos nós, que já consumimos bastante cinema, temos em mente o que define um filme daquela época, o tom que ele tem e como ele se move. Além disso, por ser uma das eclosões definitivas do cinema comercial, acompanhada pelo fervor consumista, houve uma proliferação de filmes considerados ícones da época.
Esses filmes, que se tornaram um símbolo de seu tempo, provocam sentimentos ambivalentes. Enquanto aqueles que cresceram com eles não querem que sejam questionados em nenhuma circunstância, outros, como Quentin Tarantino, os consideram um dos pontos baixos do cinema americano. Talvez seja um pouco de tudo ao mesmo tempo, e talvez poucos filmes exemplifiquem isso tão bem quanto Karate Kid - A Hora da Verdade.
Já se passaram 40 anos desde a estreia desse filme, que combina adolescência, esporte, ação, artes marciais e... crítica social? Ralph Macchio e Pat Morita são os protagonistas dessa combinação dirigida por John G. Avildsen, já experiente no cinema "esportivo" com Rocky, em um filme que pode ser visto hoje em streaming através do Amazon Prime Video.
Recém-chegado à região de Los Angeles com sua mãe viúva, o jovem Daniel Larusso tem dificuldade para se adaptar e fazer novos amigos. Seus problemas aumentam quando ele é intimidado por um grupo de jovens praticantes de karatê, os Cobras, contra os quais ele não consegue se defender. No entanto, ele aprende a lutar e a apreciar a arte do karatê com o zelador, Sr. Miyagi, que é um especialista em métodos de treinamento pouco ortodoxos.
Aqui temos um daqueles filmes em que podemos facilmente fazer uma lista de tudo o que se espera de um filme popular dos anos 80. A história de superação, o tom levemente melodramático para dar aos problemas uma dimensão maior do que eles têm, a carência de nuances, para deixar claro que temos que ir com o protagonista e contra o vilão (algo que tentaram reprisar com o sucessor Cobra Kai, um dos fenômenos atuais da Netflix).
Karate Kid: seguindo as regras
Não há nenhum problema especial em passar por clichês, se você não se levar tão a sério - é esse o caso de Karate Kid? O humor no treinamento nos permite ficar bastante entretidos, e a presença intrigante de Morita ajuda a evitar que questionemos demais as possíveis limitações de seu personagem.
Tampouco é necessário exigir muito mais de um filme que não tem ambições maiores, que evita explorar o que poderia ser considerado complexo, como a estranha conexão com um homem mais velho em uma comunidade marginal. Karate Kid busca claramente uma interseção entre o filme juvenil simples e o filme esportivo empolgante, seguindo os personagens em vez da ação, deixando um gosto bom depois de sair do cinema (ou antes de devolver o filme à locadora).
*Conteúdo Global AdoroCinema