Deixar um grande legado para a sétima arte não é uma tarefa fácil para nenhum profissional do cinema. Marcar para sempre a história com apenas 2 horas de tela é mais difícil ainda. Imagine então não poder ver o impacto de seus trabalhos nas telas de cinema e também na vida das pessoas.
Foi o que aconteceu com esses 8 diretores que tiveram suas obras exibidas após seus falecimentos. Conheça 8 filmes-testamento, que não tiveram a chance de ser prestigiado por seus próprios diretores.
1. O Outro Lado do Vento (2020)
Lançado pela primeira vez no catálogo da Netflix em 2020, O Outro Lado do Vento foi produzido originalmente em 1970 por Orson Welles, ator e cineasta que marcou para sempre a linguagem do cinema com seu filme Cidadão Kane.
Caindo em esquecimento por quatro décadas, o filme foi resgatado pela gigante do streaming, que restaurou mais de 1000 rolos de película, sob a supervisão de Frank Marshall e do diretor Peter Bogdanovich, amigo pessoal de Welles. O diretor faleceu em 1985, antes de finalizar o filme.
Na trama, Welles reflete sobre sua própria carreira no mundo de Hollywood em uma autobiografia ficcional, sendo substituído pelo personagem J.J. Jake Hannaford, um renomado diretor que não consegue finalizar seu filme por conta da deserção do ator principal e do baixo orçamento da produção.
Com uma trajetória de altos e baixos, entre lançar um clássico do cinema e se exilar na Europa, Orson Welles analisa seu estado de amor e ódio pela grande Hollywood.
2. DE OLHOS BEM FECHADOS (1999)
De Olhos Bem Fechados é o último trabalho de Stanley Kubrick, um dos maiores nomes do cinema conhecido principalmente por suas excelentes e polêmicas adaptações literárias. O diretor faleceu por um ataque do coração, seis dias após assistir a uma exibição do filme, antes de seu lançamento oficial.
Dedicando um longo período de sua vida no projeto baseado na obra do escritor austríaco Arthur Schnitzler e filmando durante 400 dias seguidos, o diretor fez história ao reunir Tom Cruise e Nicole Kidman neste drama erótico.
3. ÚLTIMAS CONVERSAS (2015)
Últimas Conversas marcou e encerrou para sempre a grande trajetória de Eduardo Coutinho, contador de histórias, importante diretor e documentarista brasileiro. Com uma bagagem importantíssima para o cinema nacional, Coutinho faleceu aos 80 anos de idade, após ser assassinado por seu próprio filho, que sofre de transtornos esquizofrênicos.
A produção de Últimas Conversas ainda estava em produção quando o diretor veio a óbito, deixando a tarefa para concluir à montadora Jordana Berg, colaboradora de longa data de Coutinho, e ao realizador João Moreira Salles, um aprendiz do falecido diretor.
Por mais que não tenha tido a chance de completar seu trabalho, Últimas Conversas torna-se a própria essência de Coutinho e todo seu trabalho. Registrando os diálogos de jovens das periferias e subúrbios cariocas sobre suas perspectivas para o futuro, em um misto de ensaio sobre as potencialidades da juventude e da finitude da vida em si.
4. Os Vivos e os Mortos (1987)
Com oito décadas completas, debilitado, necessitando de uma cadeira de rodas e tubos de oxigênio para lhe auxiliar, John Huston não desistiu da direção de seu filme mesmo nessas condições.
Deixando um legado de histórias desde a década de 40, o ator e diretor conseguiu completar seu último filme, no entanto, faleceu quatro meses antes da estreia de Os Vivos e Mortos, vítima de um ataque do coração e das complicações causadas por um enfisema.
O filme foi estrelado por sua filha Anjelica Huston, sendo uma adaptação do conto de mesmo nome do livro Dublinenses, de James Joyce. Dublin celebra o Dia dos Reis em meio à neve, na casa das irmãs Morgan, Julia (Cathleen Delany) e Kate (Helena Carroll), é oferecida uma ceia a amigos e parentes, incluindo a realização de um sarau musical e poético.
Já perto do final da celebração, quando boa parte dos convidados já tinha saído, o barítono Bartell D'Arcy (Frank Patterson) começa a cantar uma música triste, que faz com que Gretta Conroy (Anjelica Huston) se lembre de uma antiga paixão que já faleceu.
5. Querelle (1982)
Realizando uma filmografia importante desde a década de 1960, o cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder faleceu por conta de uma overdose, ao misturar comprimidos para dormir com drogas ilícitas.
Seu filme Querelle teve um lançamento póstumo dois meses após seu falecimento. Dividindo a opinião da crítica e do público, o filme teve uma boa recepção na bilheteria em sua primeira semana, ao vender 100 mil ingressos dado o contexto do filme e da época em que foi lançado.
Na trama, o marinheiro francês Querelle (Brad Davis) desembarca em Brest. Marginal e movido pelo desejo, torna-se frequentador assíduo do bordel da cafetina Lysiane (Jeanne Moreau), amante de seu irmão Robert (Hanno Pöschl). Lysiane é casada com Nono (Günther Kaufmann), que costuma jogar dados com os clientes. Quem ganha pode ficar com ela, quem perde deve transar com ele.
6. UM FILME PARA NICK (1980)
Um Filme para Nick acaba fugindo das situações anteriores, ao ser propositalmente um filme póstumo. Sendo uma homenagem e presente do diretor Win Wenders para o codiretor e protagonista Nicholas Ray, que já se encontrava doente e com a ciência de que logo faleceria por conta de um câncer terminal.
Reunindo duas grandes potências do cinema alemão e americano, em homenagem ao cinema noir e à carreira de Ray, o seu último filme em parceria com Wes aconteceu em abril de1979.
Apesar de sua ideia mirabolante parecer difícil de ser concretizada, ambos se esforçam para retratar temas como a vida e a morte, questões latentes para Ray conforme ele se aproxima do final de sua trajetória.
Um Filme para Nick fez sua estreia pouco mais de um ano após a partida de Ray, aos 67 anos, em decorrência de um câncer terminal no pulmão.
7. Salò, ou os 120 dias de Sodoma (1977)
Do diretor italiano Pier Paolo Pasolini, Salò, ou os 120 dias de Sodoma foi lançado 20 dias após a morte do diretor, brutalmente assassinato em Óstia, Roma.
Baseado na obra do autor Marquês de Sade, Pasolini deixou até hoje uma série de críticas e opiniões controversas sobre seu último filme, que para alguns beira ao sadismo e para outros uma crítica direta e crua sobre a imagem do fascismo na Itália.
Na trama, em 1944, na cidade de Salò ocupada por nazistas, no norte da Itália, quatro fascistas sequestram 16 jovens saudáveis e os aprisionam em um palácio perto de Marzabotto. Além deles, há quatro mulheres de meia-idade, sendo que três delas relatam as histórias de Dante e de Sade, e a quarta acompanha ao piano.
Na mansão vigiada por guardas, os fascistas vão cometer todo tipo de experiências com os jovens, que passam a ser usados como uma fonte de prazer sexual, masoquismo e morte.
8. Garçonete (2007)
Estrelado por Keri Russell, o filme da diretora e atriz Adrienn Shelly foi lançado poucos meses depois de seu assassinato, vítima de um latrocínio.
No filme, Jenna (Keri Russell) trabalha como garçonete e sonha em juntar dinheiro suficiente para que possa largar Earl (Jeremy Sisto), seu marido prepotente e controlador. Ela possui o dom de fazer tortas especiais, as quais são inspiradas pelos problemas e circunstâncias de sua vida.
Entretanto, uma gravidez inesperada muda seus planos, fazendo com que ela se fortaleça ao decidir escrever cartas para o bebê que espera.