Sua vida por dinheiro. Em um futuro próximo, um método de transferência de anos de vida de uma pessoa para outra impulsiona a startup de biotecnologia AEON para um conglomerado farmacêutico de bilhões de dólares e muda o mundo como o conhecemos.
Max e Elena vivem uma vida de sonho, mas quando sua seguradora exige uma indenização que eles não podem pagar, tudo muda da noite para o dia. Para pagar a dívida, Elena (Marlene Tanczik) precisa abrir mão de 40 anos de sua vida. Despojados de seu futuro juntos, Elena e seu marido Max (Kostja Ullmann) veem suas vidas arruinadas. Max, que trabalha para a AEON, decide lutar para devolver os anos a Elena. Mas nada voltará a ser como antes.
Paradise, um filme escrito por Peter Kocyla e Simon Amberger, dirigido por Boris Kunz e estrelado por Marlene Tanczik, Kostja Ullmann e Lisa-Marie Koroll.
UMA VERDADEIRA DISTOPIA
Com uma proposta como essa, é impossível não pensar que Paraíso poderia ter sido o tema de um episódio de Black Mirror. A ação se passa em um futuro não muito distante que se assemelha à nossa realidade e cujas preocupações são puramente comerciais. É isso que faz da AEON um novo gigante da tecnologia, cujo discurso atinge novos patamares de cinismo.
Com sua tecnologia de transferência de anos de vida entre pessoas compatíveis em troca de grandes somas de dinheiro, a AEON pretende tirar famílias da pobreza. Na cena inicial, Max - que trabalha para a AEON - convence um jovem de 18 anos a vender 15 anos de vida por 700.000 euros. Uma quantia inesperada para ele e sua família, que são refugiados na Alemanha há anos e não têm documentos.
Max é até eleito o "melhor negociador" do momento e recebe um prêmio no palco na presença da CEO Sophie Theissen (Iris Berben), uma espécie de gênio visionário no estilo de Elon Musk. Mas ele logo fica desiludido quando seu apartamento vira fumaça, a companhia de seguros se recusa a indenizá-lo e o banco imediatamente se reembolsa tirando 38 anos de Elena, que hipotecou sua juventude por um belo apartamento. Por sorte, Max percebe que foi Sophie Theissen quem se beneficiou da juventude de sua esposa.
Nem sempre executado com habilidade, Paradise, no entanto, desenvolve algumas ideias interessantes. Sophie Theissen não é a única vilã da história, mesmo que cada uma de suas ações seja indescritível. É a sociedade como um todo que se tornou cúmplice de um sistema capitalista que endossa o princípio da troca de "vida por dinheiro". E é a mesma sociedade que pratica o preconceito descarado contra a idade, fazendo da juventude um valor absoluto.
Clonaram Tyrone!: Final explicado da ficção científica que está fazendo um sucesso estrondoso na NetflixInfelizmente, o filme se perde em alguns imbróglios com uma organização terrorista que se autodenomina Adam, que decide matar qualquer pessoa que recorra ao rejuvenescimento. Imagine a carnificina em nosso mundo se esse grupo existisse e atacasse pessoas que se submetessem ao rejuvenescimento com um bisturi.
No entanto, a noção de mercantilização da vida humana ainda está muito presente. Podemos nos divertir imaginando o que Charlie Brooker poderia ter feito em Black Mirror com esse argumento já bem elaborado. Esperamos que não seja um episódio profético como tantos outros anteriores.