A atriz deu voz a um problema real durante a coletiva de imprensa de Boa Sorte, Leo Grande. Na época, suas declarações varreram as redes sociais: "Não posso ficar em frente a um espelho [sem roupa]. [...] Tudo ao nosso redor nos lembra o quão imperfeitos somos", diz Emma Thompson em um discurso. Ela foi muito clara em suas declarações: as mulheres são condicionadas por décadas de manipulação sobre como um corpo perfeito deve ser e, além disso, seu prazer importa muito pouco ou nada. Todas essas questões são abordadas em seu discurso no Festival Internacional de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2022.
O FILME E A VIDA
Sob a direção de Sophie Hyde, Thompson interpreta uma aposentada que decide explorar sua sexualidade quando completa 60 anos. Ela está disposta a passar uma noite de prazer e autodescoberta e, para isso, usa os serviços de uma profissional do sexo. Essa trama dá origem a um debate muito necessário na sociedade: como é a sexualidade das mulheres? Especificamente, como o sexo é experimentado após os 60 anos? De onde vem esse ódio ao corpo natural?
"Não estamos acostumados a ver corpos não tratados na tela. Estamos acostumados a ver apenas corpos que foram treinados", diz a atriz sobre sua personagem no filme. "Eu sabia que Nancy não iria à academia, que comeria muitos biscoitos, que teria um corpo normal de uma mulher de 62 anos que teve dois filhos". A atriz reconhece que para este filme teve de fazer algo realmente complicado: aceitar-se como é.
Não posso ficar na frente de um espelho assim. Se eu fico na frente de um espelho eu sempre escondo alguma coisa, eu me viro... Eu faço alguma coisa. Eu não posso ficar parada, por que eu deveria? É horrível. Tudo ao nosso redor nos lembra o quanto somos imperfeitos e que tudo está errado conosco. Procure se olhar no espelho, sem roupa e sem se mexer. Apenas aceite e não julgue. É a coisa mais difícil que já fiz. Fiz algo que nunca tinha feito como atriz
"As mulheres sofreram lavagem cerebral a vida inteira para odiar nossos corpos. É um fato", diz Thompson. Ela, junto com o diretor e ator Daryl McCormack, apresentaram um filme que coloca o espectador diante de questões importantes para a intimidade das mulheres e, principalmente, sobre o desenvolvimento de sua sexualidade. "Não importa que sintamos prazer, não é considerado importante. Nancy não cresceu em um mundo que constantemente lhe pergunta: 'Você sentiu prazer?' [...] Acho que se você for a uma praça no Reino Unido, na Alemanha ou na França, e perguntar a essas mulheres mais velhas que estão sentadas em suas varandas ao sol: 'Quantos orgasmos você já teve?' Você ficaria surpreso. É uma coisa muito comum."
A luta da atriz é reivindicar a beleza dos corpos humanos como eles são, sem ter se submetido à academia ou à manipulação externa. "Esperamos que isso provoque muita conversa sobre intimidade, o que realmente é, o que é prazer, o que é vergonha e por que nos sentimos tão envergonhados pelos prazeres estranhos que buscamos e sentimos", diz Thompson.
O filme, aliás, gerou comentários bem positivos. Para muitos, é um filme muito revelador e engraçado sobre o despertar sexual. "É um filme franco e afável sobre tentar chegar a um acordo consigo mesmo, sua história e seu corpo", resume Alissa Wilkinson para a Vox. Boa Sorte, Leo Grande está disponível para aluguel na Apple TV e YouTube.