Filmar cenas eróticas ou muito ousadas pode ser bastante complicado, principalmente se estivermos falando de uma troca íntima entre duas atrizes em meio a uma equipe majoritariamente masculina. Evitar constrangimentos e chegar ao resultado desejado é um desafio, mas é algo que parece ter corrido muito bem em A Criada (2016).
Trata-se de um dos melhores e mais celebrados longas de um dos grandes cineastas deste século, o coreano Park Chan-Wook. O mestre que ajudou a colocar o cinema de seu país no mapa com grandes obras como A Trilogia da Vingança, e que mais uma vez causou alvoroço com seu thriller erótico. Não só pela qualidade, como também pelas cenas de sexo que muitos colocam entre as melhores do gênero na história da sétima arte.
A Criada começa quando uma jovem coreana (Kim Tae-ri) é contratada como empregada doméstica por uma rica herdeira japonesa que está trancada em uma mansão. Lady Hideko (Kim Min-hee) perdeu os pais quando era criança, e tudo o que resta deles é uma grande fortuna. Desde a terrível tragédia, seu tio Kouzuki (Cho Jin-woong) está encarregado de sua educação.
Até que um vigarista se passando por conde (Ha Jung-woo) decide roubar sua herança sem que ela saiba. Sua estratégia é tentar conquistá-la com a ajuda da criada Sook-Hee, que ganhará a confiança de Hideko e tentará manipulá-la para que se apaixone pelo charlatão.
O diretor reflete com muita intriga hitchcockiana todo o arcabouço desse plano, assim como os momentos mais íntimos entre as duas mulheres. Embora quisesse que eles fossem marcantes, o coreano não queria chafurdar no sexo. Um progresso, considerando que, em seu filme Old Boy (2003), ele fez o ator principal comer um polvo. Em A Criada, no entanto, ele disse ao jornal The Scotsman que "fazia dois takes e que, se sentisse que tinha, iria para a próxima cena".
Na mais picante de todas, ele teve um cuidado redobrado para garantir a privacidade das intérpretes: proibiu a presença dos homens, inclusive dele próprio, dando folga à equipe. Apenas as atrizes e um operador de guindaste segurando o microfone estavam no set, e uma câmera com controle remoto foi usada para dirigir à distância. Uma sala isolada também foi construída no local, com pouca iluminação, velas, música e vinho para facilitar o relaxamento das envolvidas.
De fato, a panorâmica da câmera mantém a intimidade e atinge o resultado desejado, que homenageia, em parte, o filme coreano de 1972 The Insect Woman, que acompanha a relação entre um professor casado e uma prostituta que se instala em sua casa. A cena final de A Criada é, portanto, uma amostra do grande talento de Park Chan-Wook, que sabe filmar os momentos mais chocantes com elegância.