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    A Pequena Sereia: Por que Halle Bailey é a melhor escolha para o live-action da Disney
    Diego Souza Carlos
    Apaixonado por cultura pop, latinidades e karê, Diego ama as surpresas de Jordan Peele, Guillermo del Toro e Anna Muylaert. Entusiasta do MCU, se aventura em estudar e falar sobre cinema, TV e games.

    Releitura da animação clássica trará visual realista para jornada de Ariel.

    Desde que Halle Bailey foi anunciada como a estrela de A Pequena Sereia, o mundo, mais uma vez, se dividiu entre os fãs da personagem que torceram o nariz contra a escalação e parte da audiência que deu boas-vindas à jovem cantora para a versão live-action do clássico.

    O projeto faz parte de uma reformulação da Disney com diversas produções do estúdio. Há alguns anos, a empresa iniciou essa onda de novas versões com Alice no País das Maravilhas, sob direção de Tim Burton. Os anos seguintes trouxeram releituras de Cinderela, Mogli: O Menino Logo, A Bela e a Fera, Dumbo, Aladdin, O Rei Leão, Mulan, A Dama e o Vagabundo e Pinóquio. Em conjunto, projetos focados em outros personagens clássicos do catálogo, como Malévola e Cruella, também participaram deste fluxo.

    A ideia não é apenas parte do conceito de apresentar clássicos para novas audiências, mas também reafirmar personagens no imaginário popular a fim de preservar direitos de uso no mercado e popularizar franquias em outras mídias - de brinquedos a jogos eletrônicos.

    Além disso, existe a cultura da própria indústria. Basta olhar os principais lançamentos de cada ano: há uma fileira de remakes, reboots, revivals, adaptações, entre outros. Está cada vez mais difícil conhecer produções originais - e isso não é um problema apenas do cinema ou da TV, mas da cultura pop em geral.

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    O bom de trazer personagens icônicos aos moldes atuais é poder sempre permitir que erros do passado sejam superados, histórias ganhem outras nuances e perfis diversos sejam incluídos em universos fantásticos onde o padrão sempre foi eurocêntrico. Dessa forma, há, sim, bons motivos para que essas narrativas sejam recontadas, contanto que o olhar esteja na direção certa.

    A Ariel de Halle entra em alguns dos pontos citados, como, por exemplo, apresentar a principal sereia da Disney como uma garota negra. Por que não? Diferente de princesas como Mulan e Tiana, que tem suas tramas arraigadas em suas culturas e etnias, a personagem poderia ser, muito bem, de qualquer outra cor e, ainda assim, manter a essência apaixonada pela vida como é visto na animação de 1989.

    A Pequena Sereia
    A Pequena Sereia
    Data de lançamento 15 de dezembro de 1989 | 1h 23min
    Criador(es): John Musker, Ron Clements
    Com Jodi Benson, Claire Guyot, Christopher Daniel Barnes
    Usuários
    4,3
    Assista agora no Disney +

    Era uma vez...

    Halle sempre teve uma forte relação com a arte. Antes de formar uma banda com a irmã, Chlöe, ela fez pequenas participações em filmes e musicais ainda muito jovem. Aos 11 anos, incentivadas pelo pai, as duas iniciaram um canal no Youtube fazendo cover de diversos artistas, incluindo a faixa "Best Thing I Never Had", de Beyoncé.

    A voz de Renaissance notou as duas e, posteriormente, as convidou para assinar um contrato com sua gravadora, a Parkwood Entertainment. Juntas, as artistas receberam cinco indicações ao Grammy, por seus dois álbuns, "The Kids Are Alright" e "Ungodly Hour".

    Rob Marshall, diretor do live-action, assistiu a apresentação de "Where Is the Love", de Chlöe x Halle, durante a transmissão do Grammy 2019. Lá, ficou encantado com a performance das artistas. Assim, convidou Halle pessoalmente para realizar a audição. “Quando ela terminou [o teste], eu estava chorando porque ela é tão emotiva”, lembra o cineasta. “Você poderia dizer imediatamente que ela foi capaz de aproveitar a paixão de Ariel, seu fogo, sua alma, sua alegria e seu coração.”

    De acordo com o cineasta, Lin Manuel-Miranda (Hamilton) e os demais membros da equipe, a atriz encarnou a personagem de maneira única e encantadora. Fora o crivo de profissionais de um dos maiores estúdios do mundo, é perceptível o talento de Halle nas mais variadas formas de arte, sobretudo no campo da atuação e no canto.

    Logo após o anúncio de Halle, Jodi Benson, a intérprete da Ariel da animação dos anos 1980, saiu em defesa da artista. “Acho que a coisa mais importante é contar a história. (...). O espírito de um personagem é o que realmente importa. O que você traz para a mesa com um personagem, em relação ao seu coração e seu espírito é o que realmente conta”.

    Ela teve acesso antecipado à releitura de "Part of Your World" durante a D23 do ano passado e, na época, fez questão de prestigiar a jovem atriz em seu Instagram. "Halle, você foi absolutamente incrível. Estou tão orgulhosa de você e da sua linda performance como Ariel", escreveu ela em um story no Instagram. Hoje a faixa já está disponível nas plataformas digitais.

    A beleza da diversidade

    Mesmo com todo o apoio da própria Disney e figurões de Hollywood, ainda existem muitas pessoas que discordam dessa escalação. No entanto, existem outros pontos curiosos que podem ser brevemente citados aqui. Primeiramente, Ariel é uma sereia, um ser mitológico do mundo da fantasia e parte do folclore de diferentes culturas. Sua retratação é abstrata além do fato de ter uma cauda, e até mesmo esse aspecto corporal é relativo.

    Há também um apego na inspiração direta da personagem da Disney, que parte do trabalho de Hans Christian Andersen, a base para o desenvolvimento da narrativa. Mas se formos levar isso em consideração, na própria obra original não há uma definição exata sobre a cor da pele da protagonista, apenas que ela "era clara e delicada como uma pétala de rosa". Até aí, existem infinidades de tom de pele entre as mais variadas etnias.

    A sua primeira aparição como a personagem fez com que inúmeras crianças e jovens mundo afora se sentissem representados. Há uma sequência de registros em que pequenas garotas negras se emocionam ao ver os poucos segundos de cantora como Ariel. E é neste lugar em que a sua escalação também faz sentido - no espaço de representar e mudar a concepção do público para as possibilidades distintas. Afinal, se olharmos o passado da Disney, a maioria das princesas tem um estilo muito semelhante entre si.

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    Como afirma bell hooks no livro Olhares negros: raça e representação, “as imagens que consumimos na mídia de massa continuam a apresentar ao público global as mesmas velhas representações prejudiciais”. Chegou o momento de mudar isso - e a presença de Bailey é um caminho para tal.

    “Quero que a garotinha em mim e as garotinhas como eu que estão assistindo saibam que são especiais e que devem ser uma princesa em todos os sentidos”, disse Halle à Variety. “Não há razão para que não sejam. Essa segurança era algo que eu precisava.”

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    Sobre a onda de ataques racistas que a atriz vem recebendo, a mesma tem um método interessante para vencê-los - e o conselho veio diretamente da Queen B, Beyoncé. "Como uma pessoa negra, você só espera isso e não é mais um choque", disse a atriz na reportagem de capa da revista The Face. "Eu sei que as pessoas pensam: 'Não se trata de raça'. Mas agora que eu sou ela... As pessoas não entendem que quando você é negro há toda essa outra comunidade. É muito importante para nós nos vermos [neste lugar]."

    "Quando [Chlöe e eu] assinamos pela primeira vez com a Parkwood, Beyoncé sempre dizia: 'Eu nunca li meus comentários. Nunca leia os comentários'. Honestamente, quando o teaser saiu, eu estava na D23 Expo e fiquei muito feliz. Eu não vi nada de negatividade."

    Em poucas semanas, a partir de 25 de maio, Ariel de Halle Bailey vai despontar nos cinemas. Apesar dos diversos motivos citados neste texto, será na sala escura o momento investigar o porquê ela foi a melhor escolha para o live-action de A Pequena Sereia e como sua emoção contagiante, vista nas prévias, ganhará novas nuances na releitura.

    A Pequena Sereia
    A Pequena Sereia
    Data de lançamento 25 de maio de 2023 | 2h 16min
    Criador(es): Rob Marshall
    Com Halle Bailey, Jonah Hauer-King, Melissa McCarthy
    Imprensa
    3,4
    Usuários
    2,9
    Adorocinema
    3,5
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