Uma casa isolada numa montanha de localização remota no interior da França, onde vive o casal formado pela escritora Sandra Voyter (Sandra Hüller, indicada ao Oscar 2024 de Melhor Atriz), seu marido Samuel Maleski (Samuel Theis) e seu filho deficiente visual Daniel (Milo Machado-Graner). Este é o local em que, numa manhã de inverno, Samuel é encontrado morto, em circunstâncias misteriosas.
O filme “Anatomia de uma Queda”, dirigido e co-escrito por Justine Triet, como o próprio título deixa subentendido, se dedica a dissecar a morte de Daniel, principalmente quando se passa na sala de tribunal em que Sandra, indiciada pela morte do marido, é julgada. Ao longo do julgamento, vemos a intimidade do relacionamento pessoal e familiar de Sandra, Samuel e Daniel ser exposta em seus mínimos detalhes, com o objetivo justamente de desvendar o que aconteceu: Samuel foi assassinado pela esposa ou cometeu suicídio?
Neste sentido, o ponto mais importante de “Anatomia de uma Queda” é ver os acontecimentos se desenrolarem pelo olhar e pelo ponto de vista de Daniel, o filho único e testemunha ocular dos fatos que assistimos serem descortinados. Colocado na posição de ver seus pais em todas as suas maiores vulnerabilidades, Daniel se encontra na difícil posição de ser aquele que pode decretar o destino de sua mãe. A montanha russa de emoções que ele vivencia é equivalente a que iremos sentir assistindo ao filme.
Indicado a cinco Oscars 2024, “Anatomia de uma Queda” acabou vencendo na categoria que é o seu maior ponto principal: a de roteiro original. A história escrita por Justine Triet e Arthur Harari é um quebra-cabeça interessante, cujas peças vão sendo reveladas para nós da plateia no momento certo. O que move o filme é a busca pela verdade. O curioso é que, ao finalizarmos a sessão, não temos certeza se estamos diante dela.
“Anatomia de uma Queda” é uma jornada intensa, que nos tira da zona de conforto enquanto espectadores e que, ao final de tudo, nos revela o alívio que advém não da descoberta da verdade, e sim de ter se visto livre de um enorme peso que causava a tormenta - e isso pode ser compreendido por diversos prismas.