A primeira vez que assisti um filme de Pedro Almodóvar foi em Fale com ela e Volver. Respectivamente nesta sequência.
Seu estilo e identidade fica estampado deste os primeiros minutos de filme.
No seu último longa, seu estilo retorna em grande estilo, sua identidade desaparece. Não há morte, homéricos ataques histéricos de raiva e luxoriosas, apaixonantes cenas de sexo. O diretor envelheceu, e por conta disso, somos brindados pela primeira vez ao seu lirismo melancólico-sentimental.
Almodóvar prova que podemos ser o que nunca fomos, com a mesma qualidade, paixão, inteligência e bom gosto que sempre prezamos.
Querendo honrar tudo o que foi e louvar em carta de boas-vindas com muito amor e devoção o que virá, Almodóvar se entrega totalmente as telas, em um momento onde a maioria dos diretores se preservam. Pedro Almodóvar não é como a maioria, nunca foi, taí sua grandiosidade genial.
Seu alter-ego representado por Antonio Bandeiras, fiel companheiro de longas metragens desde o começo de tudo, concilia a narrativa com emoção e nostalgia, definindo a depressão como uma ponte para novos horizontes, e não como algo simplesmente dilacerante, corrosivo a alma humana. A depressão aqui é definida como flecha para as novidades da jornada humana.
Marcado pela simplicidade, o longa traz uma linda reflexão sobre a finitude e a plenitude da vida, sobre o próximo passo a se dar depois da Glória, e o que caminhar, por onde continuar o trajeto.
O simbolismo nevrálgico do começo do filme é brilhante. Aponta velas para a dualidade a ser explorada ao longo do filme: todos temos glórias e dores, alegrias e tristezas. A forma como nós, expectadores, entramos no filme é incrivelmente surpreendente. Como um filme autoral consegue tal feito? Alguém me explica?
Almodóvar consegue um feito sensitivo magistral na fotografia, já conhecida de seus longas. No filme o silêncio dialoga com as clássicas cores fortes e vibrantes. Seriam as cores a dor e o silêncio as glorias do título? A possibilidade é grande.
As palavras não me vêm à cabeça, não há mais qualidades ou defeitos, quando se trata de um mesmo enredo já recontado ao longo dos anos, e sempre repaginado. O longa é para ser experimentado e tirar suas conclusões conforme a maturidade de alguém que assiste e não de quem escreve estas poucas linhas, querendo tirar proveito da obra para mais um texto, crônica-crítica.
Como vem sido feito pelos famosos cineastas, recapitular a vida talvez seja seu último grande ás do baralho. Almodóvar e Banderas, velhos companheiros de jornada cinematográfica, entregam a seu público, os reflexos do que uma bem-sucedida, glória e prestigio, significam para o seu protagonista.
Espero não ser este, o último longa do septuagenário diretor.