A Maldição da Chorona (The Curse of La Llorona)
"A Maldição da Chorona" (também conhecido como "The Curse of the Weeping Woman") foi lançado em 2019, dirigido por Michael Chaves (estava fazendo a sua estreia na direção, e logo após seria o diretor de "Invocação do Mal 3" e "A Freira 2"), e escrito por Mikki Daughtry e Tobias Iaconis (ambos do filme "Noitários de Arrepiar", de 2021). O longa-metragem foi produzido por Gary Dauberman e James Wan através de seu banner Atomic Monster Productions. O filme segue uma mãe em 1973 em Los Angeles que deve salvar seus filhos de um espírito malévolo que tenta roubá-los.
Um ponto muito interessante no filme é o fato dele ser baseado no folclore mexicano "La Llorona", que segundo a lenda é sobre uma mulher que afogou a si mesma e ao seus filhos, sendo condenada a chorar eternamente, então, ela captura outras crianças para substituir seus filhos, levando-os à morte depois.
Toda essa ideia do roteiro em girar em torno desse conto, dessa lenda, desse mito, é bem funcional e soa bastante intrigante inicialmente. Pois temos uma história de uma mulher (uma assistente social) que se torna viúva e se vê obrigada a criar seus dois filhos sozinha, onde sua vida sofre drásticas mudanças quando ela começa a investigar um caso de entidade sobrenatural, que logo toda essa investigação se volta contra ela. Se analisarmos friamente, é uma lenda que pode gerar uma boa história para uma boa adaptação em um filme de terror.
Começando pelo o fato do roteiro já nos confrontar com a figura central da mãe, que obviamente é considerada como uma soberana na família, aquele símbolo de amor, de cuidado, de proteção para com seus filhos. Então quando ela passa de proteção para ameaça é exatamente aonde tudo começa acontecer e a trama ganha tons de suspense e terror. Outro ponto interessante no filme é aquela construção mais dramática, uma vertente dramática, que aborda exatamente todo drama que Anna (Linda Cardellini) enfrenta ao se deparar com a situação ameaçadora que seus filhos estão enfrentando. Por outro lado a própria Anna tem que lidar com suas falhas como mãe, o que nos confronta exatamente com a Patricia Alvarez (Patricia Velásquez), que também é uma mãe que foi condenada por seus abusos. O mesmo também vale para a Chorona (Marisol Ramirez), que é a principal representação de uma figura materna que falha na proteção de seus filhos. Este é um ponto positivo no filme, o fato de um terror ter essas abordagens mais dramáticas (mesmo que de leve).
Outra parte, que pode soar como clichê em filmes com essa temática, é o fato de todas as suspeitas que se levantam ao redor de Anna. É fato que médicos e assistentes logo desconfiariam da Anna em relação aos machucados nos braço de seus filhos. Obviamente todos iriam logo acreditar que Anna estivesse descontrolada, alucinada, fora de seu estado de controle normal, que ela mesma poderia ser a ameaça, que ela própria poderia estar atacando seus filhos. De fato é um clichê mas que cabe perfeitamente aqui. Outro ponto positivo é o fato da mistura cultural que temos no filme, onde temos um contexto que confronta a cultura norte-americana com a cultura mexicana, ou seja, aquela cultura protestante tipicamente americana com a presença da crença católica mexicana. E esse choque cultural funciona, flui com o desenrolar da história, não vira um conflito.
Se por um lado o longa funciona no quesito do drama familiar de uma mãe em busca da proteção dos seus filhos e do choque entre culturas distintas. Por outro o roteiro jamais vai abrir mão do terror pastelão, do clichezão, da forçação de barra em cima do velho jumpscare, da previsibilidade, da falta de criatividade e originalidade. Tudo que encontramos nos mais variados filmes de terror moderno temos aqui: sustos gratuitos, portas se fechando sozinhas, aparições de vultos, rituais, possessão, invocação, aquelas situações clássicas de tensão e terror. Fato é que hoje em dia está cada vez mais difícil dos filmes de terror fugirem dessas temáticas. A grande maioria até pode ter uma premissa boa, que soa como interessante, mas fatalmente vão se entregar ao já batido e defasado terror moderno.
Um ponto que pode contar para que "A Maldição da Chorona" comece interessante e depois mergulhe no famoso terror pastelão, é exatamente por ser uma produção feita aos cuidados do famoso James Wan. De fato o James Wan nunca abriu mão de começar uma produção instigante, interessante, com um grande potencial, mas depois se jogar de cabeça no terror pastelão (isso é uma marca registrada do diretor). Outro ponto é a ligação que todos imaginam que "A Maldição da Chorona" tem com o "The Conjuring Universe". Muitos acreditam que o longa-metragem é de fato a sexta edição da franquia "The Conjuring Universe", porém o filme não faz parte do universo estendido de "Invocação do Mal", apesar da referência que filme faz com a "Annabelle" e por ter no elenco o padre Perez, que é o mesmo personagem do filme de 2014, sendo interpretado até pelo mesmo ator, Tony Amendola.
Temos um elenco que funciona bem, dentro das cabíveis proporções.
Linda Cardellini (da franquia "Vingadores") é a que mais se destaca, por incorporar a figura de uma mãe que está sofrendo com a presença ameaçadora que coloca em risco a vida de seus filhos. Sem falar na recente perda de seu marido e as duras condições de seu trabalho. Linda é uma excelente atriz, ela tem essa veia mais dramática, que nos comove pelo seu sofrimento, pela sua luta, pela sua garra, e aqui ela funciona exatamente dentro desses requisitos. Considero uma boa atuação de Linda Cardellini.
Patricia Velásquez ("Hawaii Five-0") muito bem com aquela figura de mãe sombria, misteriosa, obscura, que parece sempre estar escondendo algum segredo.
Raymond Cruz é mais conhecido por desempenhar trabalhos menores em programas de TV. Aqui Raymond interpreta o padre mexicano Rafael Olvera, e ele vai muito bem ao contracenar com a Linda Cardellini.
Um grande destaque no elenco é a presença mirim, que é composto por Jaynee-Lynne Kinchen como Samantha Garcia (Sam) e Roman Christou como Chris Garcia. Tanto Jaynee-Lynne como Roman se destacam positivamente no filme, eles entregam uma atuação mais inocente e até mais convincente. O mesmo vale para a ótima Madeleine McGraw (que brilhou em "O Telefone Preto", de 2021), que mesmo tendo pouco tempo de tela, ela consegue nos mostrar toda a sua desenvoltura.
Em questões técnicas o filme vai bem!
A maquiagem na Marisol Ramirez ("Circle", de 2015) para se transformar na Chorona é muito boa. Uma maquiagem carregada, pesada, com aquelas mãos escurecidas, realmente um grande trabalho técnico. O trabalho da direção de arte é boa, complementa bem a história. Juntamente com a fotografia mais escurecida, um trilha sonora bem dark e completando com uma direção de Michael Chaves bem ajustada nos momentos mais oportunos. Alguns efeitos deixam um pouco a desejar, mas nada que comprometa muito.
"A Maldição da Chorona" arrecadou $ 123 milhões em todo o mundo contra um orçamento de $ 9 milhões, tornando-se o filme de menor bilheteria se compararmos com a franquia "The Conjuring Universe".
Por fim, temos aqui mais uma produção de terror que conta com uma premissa interessante, tem como base uma lenda bem intrigante, começa bem com o drama central da figura materna, mas logo cai inevitavelmente no marasmo, no clichê, no jumpscare, mergulhando de vez no famoso terror moderno pastelão (mesmo caso do filme "Rogai Por Nós", que assisti recentemente). Pelo menos vale como entretenimento de mais uma produção de terror descompromissada e despretensiosa, mas facilmente esquecível.[29/04/2023]