Finalmente mais uma personagem das histórias em quadrinhos faz o trajeto para a animação. Um dos mais emblemáticos e famosos por sinal. O gato Garfield aparece nas telas grandes em pleno movimento – palavra que não gosta muito de exercer. Gosta mesmo de ter as regalias caseiras e comer muito.
A estrutura da história é baseada nos primórdios, ou melhor dizendo: como tudo começou? Como ele veio parar na casa de Jon Arbuckle? Ele era sozinho? Por que é tão comilão?
Perguntas propostas, o próximo passo é acrescentar muita ação e aventura. Quem pensa que o filme só se passa na casa de Jon e acha que verá algo maçante ou enfadonho, basta conferir a primeira hora da película para mudar de opinião. As crianças não pensarão nisso porque, além de ver um dos ídolos das tirinhas, podem se entusiasmar com as situações enroladas e simples de entender. O filme cumpre bem esse objetivo.
Embora o filme tenha o título com o nome do gato preguiçoso, em certos momentos, o companheiro canino Odie toma à frente em algumas cenas, demonstrando mais rapidez de raciocínio e ajudando seu amigo nas trapalhadas e apuros.
Na verdade, Garfield tem momentos bons e ruins se alternando e um dos principais responsáveis caberá a seu pai, Vic. Um ajuste de contas surge como mote. No meio disso, problemas não resolvidos e discussões entre pai e filho serão uma constante – ou seja, o passado tem que ser passado a limpo.
Claro, a produção não esqueceu das características principais do gato laranja: há a degustação de lasanhas, a indolência e a demonstração de uma personalidade mimada e mal-acostumada. O mundo lá fora parece que vai devorá-lo. E é nesse mundo exterior que ele terá revelações, sentirá pavor e a possibilidade de ganhar a confiança do espectador.
O ritmo do filme lembra bem um videoclipe, coisa que as tirinhas não proporcionam. Além desse ritmo recheado de aventuras e questões, a qualidade gráfica e a animação são muito bem feitas e cativam quem está do lado da poltrona. As peripécias foram executadas completamente em ambiente digital.
O enredo traçado basta para garantir a diversão das crianças. Também tem um quê de agradar os adultos e isso depende de como se entende o filme: superficial ou suficiente para se entreter e entrar no clima?
Dar uma crítica à altura do cinema de arte seria injustificável para uma produção reconhecidamente voltada ao público infantil. Se for apenas isso, o filme atende isso. Não dá para exigir um enquadramento especial da câmera, uma direção mais ‘cult’ ou um superelenco. Aliás, nesse quesito, quem assiste à produção legendada pode curtir as vozes dos atores Samuel L. Jackson e Chris Pratt.
Para os mais fanáticos pelo Garfield e que gostam de conferir os créditos no final do filme, terão a felicidade de ver o nome de Jim Davis na produção da obra. O mesmo Jim Davis que criou o gato gorducho.
Nos bastidores, a única “pisada de bola” ficou por conta do dublador original de Garfield: Frank Welker dá sua voz ao gato desde 2007 e não foi incluído no elenco de dublagem. Algo que decepciona os fãs americanos. No Brasil, talvez isso seja menos relevante, principalmente para quem buscará a versão dublada para assistir.
O saldo final é de que o filme não é totalmente uma obra-prima quando se pretende levar em conta o roteiro e o desenvolvimento da história, os quais têm uma consistência limitada. Por outro lado, é um filme que não dá para rotular como somente de “passar o tempo”. Tem sua competência. Fica a meio caminho entre esses polos e temáticas. Tem como curtir num belo e ensolarado fim de semana com pipoca, refrigerante e os “baixinhos” do lado.
Se assim não fosse, quando fui vê-lo, deu para perceber que as crianças se prenderam a Garfield. Em nenhum momento, se escutaram burburinhos, conversas paralelas ou comentários bons ou ruins por parte deles. Sinal de que, pelo menos, para o público infantil, o filme tem uma atratividade.