Annabelle 2: A Criação do Mal (2017), dirigido por David F. Sandberg, é uma sequência que se propõe a aprofundar a história da famosa boneca possuída introduzida em Annabelle (2014). Este segundo filme não só serve como uma prequela ao primeiro, mas também busca redimir a narrativa anterior, apresentando um enredo mais coeso e eficaz em termos de construção de suspense e desenvolvimento de personagens. Com um novo enfoque, Annabelle 2: A Criação do Mal se destaca como um dos melhores filmes dentro do universo de Invocação do Mal, superando seu antecessor em diversos aspectos.
A história se passa em 1943, anos após a morte trágica da filha dos criadores da boneca, Samuel (Anthony LaPaglia) e Esther Mullins (Miranda Otto). Após a perda, o casal se isola em sua casa, onde Samuel, um ex-artesão de bonecas, vive em luto e Esther, agora atormentada pela culpa e pela dor, tenta manter a sanidade. A trama se intensifica quando eles decidem acolher um grupo de órfãs de um lar em busca de abrigo, entre elas está a inocente Janice (Talitha Bateman), que, ao entrar em contato com a boneca Annabelle, inadvertidamente libera uma força maligna que perturba a nova dinâmica familiar.
Uma das principais forças do filme reside em sua abordagem cuidadosa da construção da atmosfera de terror. Diferentemente de Annabelle, que falhou em equilibrar sustos e suspense, Annabelle 2: A Criação do Mal utiliza uma narrativa mais sutil e uma direção atenta, criando uma crescente sensação de inquietação que permeia o filme. Sandberg é habilidoso em usar elementos visuais e sonoros para intensificar a tensão, recorrendo a sombras, iluminação tenue e sons ambientes que colaboram para um clima opressivo. O resultado é uma experiência que não se limita a sustos rápidos, mas que constrói um terror psicológico que impacta o espectador.
O desenvolvimento dos personagens é outro aspecto em que o filme brilha. A figura de Janice, uma órfã que sofre de poliomielite, é explorada com sensibilidade. Sua fragilidade física é contraposta à coragem e determinação que ela demonstra ao enfrentar o terror que se desenrola. A relação entre as órfãs e as figuras parentais, Samuel e Esther, também é habilmente retratada, adicionando camadas emocionais à narrativa. O filme apresenta a dor da perda e a luta contra a culpa de maneira mais profunda, transformando os personagens em figuras tridimensionais cujas histórias são dignas de compaixão.
Além disso, Annabelle 2: A Criação do Mal também se destaca por seu uso eficiente da boneca como um elemento de horror. A boneca Annabelle, agora com um contexto mais elaborado, é apresentada não apenas como um objeto maldito, mas como uma representação do luto e da dor que permeiam a vida dos Mullins. Isso cria uma conexão mais significativa entre a história da boneca e os eventos do filme, oferecendo uma narrativa mais coesa e impactante. A construção do terror é, portanto, mais complexa, pois a boneca se torna um símbolo das tragédias que cercam os personagens, além de ser apenas uma fonte de sustos.
Ademais, a cinematografia do filme merece destaque. Com uma direção de arte primorosa, o cenário gótico da casa dos Mullins é um ambiente que colabora para a criação de uma atmosfera sinistra. Os elementos visuais, como os detalhes das bonecas e as decorações antigas, são cuidadosamente elaborados, contribuindo para a imersão do espectador no universo sombrio do filme. A fotografia, aliada a uma trilha sonora inquietante, intensifica a sensação de desconforto, criando uma experiência de terror visualmente rica.
Entretanto, é importante mencionar que, apesar de seus pontos fortes, o filme não está isento de críticas. Algumas escolhas narrativas, como o uso de certos clichês do gênero, podem parecer previsíveis para os espectadores mais experientes. Além disso, a resolução da história, embora satisfatória, pode deixar algumas pontas soltas que não foram exploradas de maneira adequada. Contudo, essas falhas não comprometem o impacto geral do filme, que ainda consegue manter a atenção do público até o desfecho.
Em conclusão, Annabelle 2: A Criação do Mal se destaca como uma continuação significativa que não apenas aprimora os aspectos do primeiro filme, mas também oferece uma narrativa mais rica e envolvente. Com um enredo bem estruturado, personagens bem desenvolvidos e uma atmosfera de terror habilmente construída, o filme demonstra que é possível redimir uma franquia através de uma abordagem cuidadosa e criativa. Assim, Annabelle 2: A Criação do Mal se estabelece como uma das melhores adições ao universo de Invocação do Mal, confirmando a relevância da boneca Annabelle no panteão do horror contemporâneo.