*O LAGOSTA*
Eu gostei da maneira metafórica de problematizar a autoritária, controladora, fanática, fundamentalista e maniqueísta bipolarização do mundo interno e externo, que encobre o medo à liberdade com a raiva e a intolerância ao questionador diferente ou contraditório, entre dois extremismos do "contra", ou seja, do combatente anti alguma coisa contrária que tenta impor uma obrigação, oposição esta representada nesta película, pelos extremos do autoritário conservadorismo no "antisolteirismo" e da rebeldia autoritária no "anticasamentismo". O contexto do enredo apresenta vícios, perversões, superficialidades, artificialidades, mentiras e ilusões humanas nas relações, por trás ou por baixo da estética moralista conservadora ou da rebeldia libertínea; da frágil e artificial pseudoética, que facilmente ruirá diante das provações dos estresses da vida, das ameaças à perda do suposto poder e controle, dentro e fora de cada um de nós e diante das torturas da luta pela sobrevivência. Há o exemplo da louca "cegueira" escancarada pela intensa e aparente encantadora extrema paixão disfuncional, de quem, por outro lado e ao mesmo tempo, vive uma face ou fase no solitário autismo narcísico, totalmente fechado para a comunhão no amor. Resta aproveitar o filme para refletir sobre amor e liberdade, naturalidade e artificialismo, profundidade e superficialidade, mentira e verdade, concessões éticas às imposições e auto imposições para um pseudopertencimento na solteirice, no casamento ou em qualquer normatização afetiva ou social. O que, o como e o quanto será o lugar provisório para cada um no livre, transformador e "revolucionário" ato de amor próprio e solidário, incluindo a possibilidade da calorosa parceria conjugal por total livre arbítrio, diante dos extremos disfuncionais, muitas vezes compartilhados na mesma pessoa, entre a compulsiva "solidão narcisa" e a narcísica relação focada na impulsiva "paixão tóxica", alimentando assim a perversidade narcisista e destrutiva de ambos extremos: o conservadorismo sem vida no casamento (ou na solteirice) e a rebeldia sem limites na solteirice (ou no casamento)? Estar solteiro ou casado a serviço de que, olhando para dentro e para fora de nós mesmos no passado, presente e futuro? Para agradar ou desagradar o que ou quem? Para satisfazer qual desejo, necessidade ou vontade? Poderia o amor verdadeiro nos permitir ser livres? Poderia a verdadeira liberdade nos permitir amar?