Já é tradição no Cinema a realização de produções voltadas especialmente para as famílias. Filmes menos pretensiosos, que visam alcançar o público mais jovem ou infantil, há décadas provaram ser um negócio bastante lucrativo, sejam eles na forma de animações (muito bem exploradas por Disney e Pixar, por exemplo), adaptações literárias (Harry Potter ou heróis da Marvel), ou blockbusters (como Piratas do Caribe). Muitas vezes, nem sempre a bilheteria no cinema é que garante o lucro, mas a possibilidade de vendas de brinquedos licenciados, dvds e parcerias com restaurantes na forma de brindes são os principais motivos para esta fórmula não ser abandonada, sem falar na (atualmente) irritante possibilidade de se tornarem uma franquia.
Em Uma Noite no Museu (2006), um jovem diretor, Shawn Levy, acostumado com comédias leves e familiares (O Grande Mentiroso (2002), Recém Casados (2003) e Doze é Demais (2003), entre outros) foi escalado para ficar à frente de um projeto com elenco estelar, e que - pelo menos entre o público infantil – foi uma grata surpresa. A espetacular aventura cheia de efeitos especiais fez o suficiente para ficar na cabeça (e no coração) das crianças por um bom tempo. Após três anos sem dirigir nenhum filme, Levy retornou com a sequência do museu encantado, em Uma Noite no Museu 2 (2009), com o mesmo grande elenco, embora seja a ótima estreante na franquia Amy Adams quem se destaca, e o filme consegue mais uma vez agradar as crianças, com seu humor básico e pastelão, mas já dava sinais de desgaste, com uma sequência desnecessária.
Então, no primeiro dia de 2015 estreará o fechamento da trilogia, Uma Noite no Museu 3: O Segredo da Tumba. Mesmo diretor, mesmo elenco principal (Ben Stiller, Robin Williams, Owen Wilson, etc.) e, quem diria, o mesmo roteiro esgotado de possibilidades que precisou ir a outros lugares do mundo para tentar dar um “frescor” desesperado contra a falta de criatividade. Desta vez, o segurança do Museu Larry Daley (Ben Stiller) seguia normalmente com seu trabalho, até que um dia descobre uma peça que faz os objetos ganharem vida, e percebe que por estar enferrujando, todos os seus amigos do Museu correm o risco de ficarem inanimados para sempre. Com o objetivo de salvar a turma, ele vai para Londres pedir auxílio ao Faraó (Ben Kingsley), que está exposto no museu inglês.
Na tentativa de salvar a magia antes que ela vá embora para sempre, Uma Noite no Museu 3 ainda é um filme interessante, pois sua aventura estimula a imaginação, mesmo que em menor escala, graças aos dois filmes anteriores. Mesmo que não haja um vilão, como de costume em filmes deste gênero, o herói - personagem de Stiller - tem um grande obstáculo à frente, o que é essencial para impulsionar a narrativa. É disso que se tratam os filmes de Aventura, a capacidade do herói em superar tais obstáculos alheios à sua vontade. Os bons efeitos e a direção consistente de Levy, fazem deste um filme sem grandes erros, mas também sem muita inspiração. Em tom de despedida, o diretor busca sair mais da comédia e envolver o espectador pelo lado emocional, e consegue em alguns momentos ter sucesso, especialmente entre as crianças e os fãs da franquia.
A verdade é que Uma Noite no Museu 3 pode até ser um filme desnecessário, mas é inofensivo. Talvez seu impacto tenha sido maior por ser o último filme fisicamente protagonizado por Robin Williams e por Mickey Rooney, dois talentosíssimos atores que nos deixaram este ano. O bom desempenho de Dan Stevens como Sir Lancelot é outro ponto positivo. E vale lembrar que, estamos falando de um filme que crianças vão para assistir a esqueletos de dinossauros, bonecos “de cera” e um macaquinho ganharem vida dentro de um museu, então nem tudo precisa fazer tanto sentido.
Toda a trilogia me pareceu uma piada legal que foi esticada além do necessário e acabou perdendo a graça aos poucos. Mas nem posso dizer que é o fim mesmo. Ao ver Stiller praticamente “passando o bastão” para Rebel Wilson, não me surpreenderia se daqui alguns anos uma quarta aventura fosse anunciada. Em meio a algumas tristes e certas despedidas, como Stiller e Robin Williams, talvez possamos dar olá a uma nova protagonista, mas o filme, apesar de umas boas e novas piadas, é mais do mesmo e ficará mais lembrado como o último sorriso na tela de um ator que arrancou centenas de milhares de sorrisos nos cinemas de todo o mundo.