Reciclagem e atualização da fórmula consagrada é o tom de novo 007
Quem é fã sabe: a graça da franquia mais longa da história do cinema está em suas cenas exageradas, engraçadas, no maniqueísmo da história, nas bondgirls, enfim, nos clichês.
Em seu quarto filme, Daniel Craig faz um Bond com contornos mais complexos, um homem solitário, perturbado, alcoólatra e com problemas mal-resolvidos da infância.
Se nos primórdios da franquia, tínhamos um James Bond mais divertido em sua "canastrice à inglesa", neste nós temos — embora crível — uma eficaz máquina de matar à serviço da Sua Majestade.
Em 007 Contra Spectre, encontramos a direção ágil e elegante de Sam Mendes, embora da metade em diante o andamento da história se torne excessivamente discursivo e cansativo por essa razão.
No aspecto visual, esse 007 é um verdadeiro banquete — com locações incríveis e exuberantes no México, Itália, Marrocos, Áustria e obviamente na Inglaterra. Um carnaval sensorial, que leva o espectador do calor para o frio, da cidade para o deserto num piscar de olhos.
Vivemos tempos politicamente corretos e, como era de se esperar, alguns elementos da fórmula Bond são postos à prova. A mais evidente é atenuação do machismo da história. A bondgirl Dra. Madeleine Swann (a bela Léa Seydoux, de Azul é a cor mais quente) não é só mais um rostinho bonito, mas alguém com uma história, uma personalidade própria (e forte) e profundidade.
Christoph Waltz brilha no papel de Oberhauser, uma mescla de psicopata, empresário e cientista maluco. Waltz é com certeza o vilão da nossa era. Sua atuação é excelente, mesmo fazendo um vilão-de-uma-tecla-só, como manda a praxe nos filmes de 007.
Em contrapartida, não gosto muito da atuação fria e monocórdia de Craig, nem de seu 007 frio e brucutu, mas o filme fala alto nos corações dos fãs sem se fazer de surdo aos ventos do nosso tempo.