As franquias de super-heróis estão tomando conta dos cinemas. Há algum tempo esse universo vem sendo utilizado por uma indústria que busca uma grande rentabilidade através de histórias que permeiam a imaginação de muitas pessoas. Algumas vezes de forma desleixada outras de forma inteligente, as histórias abusam de efeitos especiais e buscam dar vida a algo que antes só era possível nas páginas das HQs ou no imaginário coletivo. Em Vingadores 2 atingimos um meio termo. O filme acaba se posicionando em uma fronteira que não consegue ser uma obra consistente, mas não é algo que despreze o espectador.
As voltas para recuperar o cetro de Loki, que foi roubado pela Hydra, os Vingadores enfrentam um exército de soldados dessa organização afim de recuperá-lo. Nesse combate eles encontram duas pessoas que tem poderes e que estão ao lado da Hydra. Após o combate, Tony Stark (Robert Downey Jr) tem a ideia de construir máquinas dotada de inteligência artificial para combater possíveis vilões. Ele não contava que a energia criada poderia se voltar contra eles e acabar por tomar uma forma de um robô.
A história é desenvolvida a partir de um tema que já foi mais do que explorado em Hollywood. A substituição de robôs por seres humanos já vem sendo utilizada há algum tempo. Aqui em vez dos seres humanos comuns, são heróis que estão pensando nisso. Acabamos embarcando em uma história que é contextualizada (isso se deve ao inimigo número 1 americano: o terrorista), mas com variáveis conhecidas e já exploradas. O roteiro tem uma lógica que no primeiro momento é usada, mas que parece ser esquecida ao longo do filme. Ultron é como se fosse um software (ou pode-se dizer um vírus) que ao entrar em um computador consegue se integrar à internet e assim praticamente sumir. Ele adquire uma forma física e apesar de saber que possui essa prerrogativa parece esquecer durante o longa-metragem. Isso acaba fazendo com que o roteiro não se sustente tanto.
O roteiro escrito e dirigido por Joss Whedon pode não ser criativo e apresentar falhas na narrativa, mas ele é conduzido para evocar o filme blockbuster. Em os Vingadores 2 assistimos a uma mistura de vídeo game com uma aventura espetacular. Apesar de utilizar uma fórmula bem semelhante ao anterior, dessa vez a ameaça aos super-heróis parece que pode provocar danos maiores e custar vidas. Sendo um produto da Disney o roteiro faz referências. Pinóquio e a bela e a Fera são referenciados. Ainda se pode dizer que ele faz homenagem aos grandes clássicos pois há uma cena que é bem característica do filme Frankenstein. Como já citado é um filme da Disney e por ser um filme de heróis quer trazer o maior número de espectadores para o cinema, assim temos várias situações em que facilmente veríamos cenas de grande possas de sangue, mas que aqui é extremamente economizado.
Ainda vale acrescentar que a eterna continuação dos filmes da Marvel gera-se algo que irrita, pois essa interligação, mesmo querendo passar algo mais verossímil para toda as tramas desenvolvidas por heróis para que sejam bem definidas no espaço/tempo, levanta uma questão puramente comercial em que ao se chegar no final de toda a saga irão comercializar aquele box de blu-ray completo com todos os filmes em cronologia. Falando ainda sobre o lado comercial há uma referência clara aos famosos bonecos que as crianças sonham tanto ao passar nas lojas de brinquedos. Não passa despercebido quando um personagem diz que é eterno e nunca vai morrer, pois ele é de plástico.
O roteiro parece querer oscilar entre algo descontraído e algo mais sério. Então faz o uso de uma personagem para provocar algo que faça nossos heróis se lembrarem do passado e contar para o espectador memórias antigas de nossos heróis que parecem feridas ainda não cicatrizadas. Ele nos leva também a citar algo inerente ao herói, pois a verdade é que estes não conseguem viver sem uma guerra. O que é a pura verdade pois eles são peças fundamentais em um mundo que vive a possibilidade de guerra. Sem ela a existência deles não seriam necessárias e fica a interrogação se realmente eles querem deixar de ser tais heróis e viverem suas vidas normais ou se eles precisam de uma batalha.
Os Vingadores 2 é uma obra de arte que busca nos levar para o universo da fantasia e fazer com que aqueles que apreciavam ou apreciam gibis tenham na tela um desfile de heróis que nunca pensariam que seria possível reunir. Ele agrada, deixa a desejar em certos momentos e não tem grande pretensões. Mas consegue cumprir com o que propõe: entreter o espectador e não se esquecer de que o espectador possui algo que se chama cérebro. E se ele consegue conduzir bem o espectador, fazendo com que ele embarque naquele universo, é a prova de que funciona com uma obra que cumpre com seu dever.