Protegendo o Bem
Alguns astros do cinema hollywoodiano conseguem aproveitar bem a carreira alternando entre produções diversificadas, atuando em gêneros distintos justamente para aproveitar todo o potencial de interpretação ao mesmo tempo que agrega experiência e grana a conta bancária. Embora possa ser um argumento para alguns artistas que demonstraram potencial mas caíram em decadência, pode também ser usado para os versáteis, como é o caso do ótimo Denzel Washington.
Em seu novo filme O PROTETOR, Washington interpreta Robert McCall, um homem solitário e perfeccionista, que faz de seus afazeres diários uma alternativa para sempre se controlar, usando sistematicamente o tempo como agente disciplinador. Pouco somos apresentados ao seu passado, já que o diretor investe consistentemente em ilustrar como é seu dia, o relacionamento com seus colegas de trabalho, os locais que frequenta e a simplicidade de sua casa. Isso funciona muito bem, pois nos aproxima do personagem como um homem simples, trabalhador e que sempre visa ajudar as pessoas sem deixar que suas limitações impeçam-no de prosseguir.
É justamente nesse contexto que ele conhece Teri (Chloe Grace Moretz, a famosa HitGirl de Kick-Ass), uma jovem prostituta que tem pensando em mudar os rumos de sua vida, mas tem encontrado dificuldades por conta de seus inescrupulosos e violentos contratantes. O local em que se encontram, um pequeno restaurante 24h, faz a criação de laços entre os dois, levando McCall a se preocupar quase como uma figura paterna, dadas as frustrações e problemas que a vida supostamente impôs ela.
Passamos a conhecer mais das capacidades do protagonista quando ele descobre do que são capazes os cafetões de Teri, o que faz ele agir em defesa da vida dela. A cena em que isso se mostra, diga-se de passagem, ocorre em um andar superior a um restaurante e pode ser colocada como uma das sequências de ação mais fantásticas e bem elaboradas produzidas pelo cinema americano. McCall acaba com um bando russos usando elementos do ambiente de forma impressionante, tudo fluído e sem deixar qualquer vestígio. Sem contar que ele faz a avaliação de todas as variáveis e pormenores em questão de segundos. É uma cena esteticamente violenta, mas criteriosamente justificada pelo estilo do filme.
A partir desse momento começamos a descobrir mais sobre os envolvidos diretamente na situação, inclusive quem são os russos em questão. Nessa hora surge o personagem Teddy, um vilão calculista, ardiloso, frio e violento. Tal antagonista responde diretamente pelas investigações do massacre, gerando situações em que o desafio psicológico travado entre ele e o personagem de Washington chegam ao brilhantismo da interpretação, em especial a do restaurante durante o jantar.
A briga de gato e rato gera bons momentos ao longo das pouco mais de duas horas de duração do filme, em que McCall vai sempre se sobrepondo às maquinações, investigações e ataques de Teddy, já que suas potencialidades são infinitamente superiores. Isso vai criando uma boa sensação de expectativa para o que aguarda o final do filme.
Tecnicamente o filme também brilha... nitidamente uma produção de alto orçamento, os detalhes até mesmo de uma explosão, recorrendo a planos e efeitos variados de slow motion, mostram como um filme pode ser bem realizado quando há um diretor cuidadoso por trás da brincadeira. Por fala nisso, Antoine Fucqua faz questão de aproveitar bem as interpretações de Denzel Washington, fazendo com que seus maneirismos e prazer pelos mínimos detalhes sejam sempre percebidos pelo expectador. Até mesmo suas respostas rápidas e diretas são sagazes ao extremo: "O que você ganha me matando?" - Paz!
Apesar do pouco espaço dado a Moretz, já que serve apenas como estopim, O PROTETOR é um ótimo exemplar da categoria de ação, mostrando como um homem se preocupa com as pessoas e faz de TUDO pelo bem comum. Sequências sólidas e divertidas mostram um filme interessante, no qual o bom roteiro, uma equipe experiente e ótimas interpretações resultam em uma produção digna de nota e recomendações.