Um bom episódio não precisa surgir da série mais aclamada do ano. Ou aquela com maiores efeitos especiais ou altos investimentos. É aquele capítulo que te faz ter orgulho de ser seriador. Que surpreende até o melhor especialista do assunto. Ou mantém sua fé até naquela atração que anda meio capenga, mas você segue firme por apego aos personagens.
Chegou a hora do AdoroCinema relembrar os incríveis episódios que a TV nos proporcionou esse ano. Essa também é a chance de valorizar aquela trama que não conseguiu na nossa lista de melhores séries, mas ainda foram capazes de contar uma boa história. Seja com um roteiro emocionante e/ou criativo; desafiando regras do estilo audiovisual ou sabendo escutar os desejos de seu público sem comprometer a qualidade.
Após muitos debates na redação (algo que quase destruiu relacionamentos, diga-se de passagem), confira a lista oficial do AdoroCinema com os melhores episódios de 2018:
20. 'Rm9sbG93ZXJz' (Arquivo X)
Quando foi definido o revival de Arquivo X, muito se falou sobre como seria a presença de Fox Mulder (David Duchovny) e Dana Scully (Gillian Anderson) na era dos celulares. Por mais que eles até aparecessem nas temporadas mais antigas, a curiosidade se dava pelo fato de que, nos últimos anos, os celulares tenham transformado por completo o cotidiano, não só pelas possibilidades de comunicação mas também por ser câmera fotográfica, GPS e tantos outros apetrechos. Em "Rm9sbG93ZXJz", Chris Carter tira sarro deste anacronismo ao entregar um filler que explora justamente os veteranos Mulder e Scully tendo que lidar com um ambiente altamente tecnológico, estranho a eles pela impessoalidade mas também inevitável pelo mundo que (n)os rodeia. É o contraste entre duas épocas, representado também pelo retorno de uma série clássica em um ambiente completamente diferente, conduzido com habilidade pelo roteiro de forma a faz rir com os protagonistas de Arquivo X e, também, refletir sobre a dependência da tecnologia no mundo moderno. (Francisco Russo)
19. 'Don't Ask, Don't Tell' (The Assassination of Gianni Versace: American Crime Story)
Infelizmente, The Assassination of Gianni Versace não chegou à altura de The People vs O.J. Simpson. Mas a mensagem da obra de Ryan Murphy não passou desapercebida. Numa decisão bem curiosa, o episódio selecionado nem é tão focado nas figuras centrais do estilista (Édgar Ramirez) e Andrew Cunanan (Darren Criss). Na verdade, é o flashback sobre o sofrimento de Jeff Trail (Finn Wittrock) — outra vítima do serial killer — diante da homofobia na marinha norte-americana. É a comparação entre a decisão de Versace assumir sua homossexualidade publicamente, ao mesmo tempo que Jeff fala sobre o preconceito nas sombras, que reforça a dor de tal situação. Algo que só piora ao lembrar que é uma história real. Com um final trágico. Numa sociedade que, infelizmente, ainda não melhorou como o desejado.
18. 'Uma Clínica Muito Peculiar' (Big Mouth)
Mascarado em uma esquete ilustrativa, o episódio trata do Planned Parenthood — a organização Paternidade Planejada, que dá auxílio em relação a saúde reprodutiva e é alvo de polêmicas nos Estados Unidos, por ser fornecedora de serviços como o aborto. Com toda a sua dita “imaturidade”, Big Mouth traz neste episódio (intitulado originalmente “The Planned Parenthood Show”) os personagens imaginando cenários a fim de ilustrar temas como doenças sexualmente transmissíveis, métodos anticoncepcionais, prevenção e conhecimento do próprio corpo e da própria sexualidade. O episódio é corajoso por sua tentativa de combater o estigma em torno da organização, mas faz isso sem deixar de lado seu humor sempre cru e pungente. (Laysa Zanetti)
17. 'Chapter IX' (Cara Gente Branca)
Não foi fácil escolher apenas um episódio de Dear White People (no original). Acredite, foram horas de debates na redação e em grupos de mensagens (sim, somos tão obcecados por cultura que debatemos em casa, nos julgue). Por mais que o dramático plano-sequência do "Episódio 8" e o arco de Coco (Antoinette Robertson) ganhem nosso carinho; é o penúltimo capítulo que entrou na lista. Ver uma vulnerável Sam (Logan Browning, em ótima performance) saindo da faculdade para lidar com uma tragédia famíliar traz o grande clímax emocional da temporada. Principalmente, quando praticamente toda a narrativa é centrada no trio de protagonistas femininas: Sam, Coco e Joelle (Ashley Blaine Featherson). Palmas também para o roteiroconseguir sair do cenário central da comédia dramática a fim de entregar algo tão impactante, sem perder o fio da meada.
16. 'A Gêmea do Bem' (GLOW)
São vários os episódios que se destacam singularmente na segunda temporada da excelente GLOW, mas este especificamente é um sonho realizado, ainda que nade na contracorrente do que a série realmente é. Trata-se de um episódio inteiro do programa de TV dentro do episódio da série fictícia. Sequências de sonho, lutas insanas e videoclipes musicais dividem espaço com intervalos comerciais em 34 minutos de um exercício de criatividade belo e insano, que exalta as atuações de Alison Brie e Betty Gilpin e é, acima de tudo, um deleite aos olhos. É GLOW sendo GLOW, como se ninguém estivesse assistindo. (Laysa Zanetti)
15. 'Enter Flashtime' (The Flash)
Heróis nunca costumam entrar em listas de melhores do ano... Sem contar aquelas séries com outros estilos como Legion, no ano passado, mas isso é outra história. Afinal, aventuras que fogem da realidade (Iris pulando de um prédio mandou beijos!) não são aclamadas como dramas complexos. Mas, às vezes, tais tramas possuem arcos tão bacanas que parece terem saído diretamente de uma revista de quadrinhos para as telinhas. Mesmo numa temporada mediana, The Flash foi capaz de realizar um episódio perfeito para os fãs do gênero, com uma ideia quase impossível de ser feita na prática. Em "Enter Flashtime", Barry (Grant Gustin) precisa usar o máximo de suas habilidades para impedir a explosão de uma bomba. E ele não pode sair do tal 'flashtime' (se movendo tão rápido que o tempo siga parado) até arranjar uma ideia de salvar a população. É um episódio carregado de tensão e drama, onde o espectador realmente sente o perigo iminente - mesmo que seu lado racional saiba que ninguém vai morrer, afinal está no meio da temporada. Um belo destaque fica pela grande performance dramática de Gustin, carregando o episódio praticamente nas costas, já que existe apenas o problema focado nele, com outros personagens surgindo somente em participações. Fica a dica, CW: investir em subtramas aleatórias não é tão legal quanto focar nas aventuras do protagonista título do show! Obrigada, de nada.