7. 'Churros Grátis' (BoJack Horseman)
Entra ano, sai ano e BoJack continua nas listas de melhores séries e de melhores episódios. Há um motivo para isso. Sua constante inventividade surpreende seja em um episódio inteiro debaixo d’água, em um episódio inteiro na casa soterrada de Mr. Peanutbutter ou, neste caso, em um episódio inteiro de BoJack fazendo a eulogia no funeral de sua mãe. Ainda que seja dedicado a Beatrice, à sombra de todas as revelações da quarta temporada, “Free Churro” vai se “desacortinando” aos poucos e revelando o quanto o momento é mais sobre BoJack que sobre a mãe. Mas, antes disso, quebra expectativas a respeito do limite de seu humor e se mostra mais direto do que nunca sobre os traumas causados no personagem, por alguém que nem está mais ali para se defender. Mas o episódio, como a série, não protege Horseman. Aliás, não protege ninguém. O detalhe que faz toda a força do episódio ser sentida é o incrível trabalho de voz de Will Arnett, que torna funcional a sequência de 26 minutos em uma cena só. (Laysa Zanetti)
6. 'Amor Vincit Omnia' (Sense8)
Vai ter Sense8 na lista sim! Tecnicamente (ou até mesmo em questões de roteiro), o último episódio está longe de ser um dos melhores entre os citados nessa matéria. Mas esse telefilme com duas horas de duração foi o presente que os fãs tanto pediram à Netflix, após o cancelamento brusco do show criado por Lana Wachowski. A vontade da equipe e elenco para se reunir e entregar o final tão desejado é vista em tela, mesmo numa criação bem às pressas, entregando tudo que faz o público contente. São várias cenas de luta envolvendo os oito protagonistas, reencontros dos casais adorados e mais espaço para aqueles que roubaram a cena ao longo ds anos. Por fim, fica claro que o objetivo de Sense8 nunca foi revolucionar a ficção científica, mas apenas usá-la como uma metáfora para espalhar a mensagem de como devemos abraçar as diferenças. "Amor Vincit Omnia" coloca um sorriso no rosto que quem assiste. O que mais um fã pode desejar ao se despedir da série favorita?
5. 'Rosa' (Doctor Who)
A 11ª temporada de Doctor Who evoca muitos sentimentos em quem conhece a série clássica, seja pela sua leveza, pelo senso de justiça ou pelas referências sutis a monstros, planetas ou arcos. O episódio sobre Rosa Parks (Vinette Robinson), particularmente, faz lembrar muito o episódio sobre Vincent Van Gogh da quinta temporada atual. É sensível e faz uma espécie de reparação histórica, tocando em feridas necessárias a respeito de como o racismo velado é uma presença constante no século XXI. Ao mesmo tempo, não é um episódio exageradamente emocional, mas é um que carrega em si a essência desta querida senhora de 55 anos de idade: a magia de Doctor Who é menos sobre alienígenas e viagens no tempo, e mais sobre o afeto e a marca que cada pessoa deixa no mundo. (Laysa Zanetti)
4. 'S.T.A.R.T.' (The Americans)
Ao contrário de um episódio piloto, um episódio final não é obrigado a seguir regras, a não ser aquelas que a própria série criou. A última hora de The Americans é um dos episódios mais corretos da televisão em muito tempo, porque não oferece uma saída mirabolante e não cria um ambiente para facilitar o destino de Philip e Elizabeth Jennings (Matthew Rhys e Keri Russell). Ele arranca o seu coração com uma música do U2, encerra a história como sempre disse que iria encerrar, mas cria tensão suficiente e necessária para fazer o público duvidar de tudo e todos. "START" é a melhor versão de The Americans: sem perucas, sem maquiagem, sem segredos. Um drama familiar movido e possibilitado pelas trincheiras da Guerra Fria e que não amolece para ninguém, mas deixa claro que ninguém ali ficará realmente bem. Apesar de, no fundo, todos acreditarem que sim. A vida continua, não é? (Laysa Zanetti)
3. 'Duas Tempestades' (The Haunting of Hill House)
Conceitualmente desafiador, o episódio 6 de A Maldição da Residência Hill não pode ter sido tarefa fácil de tirar no papel. Ainda mais quando se lida com um elenco infantil e cinco planos-sequências feitos para parecer dois ou três. A hora exalta todo o primor do roteiro ao construir transições orgânicas e que se completam entre os momentos do passado e os do presente, abandonando totalmente qualquer tentativa ingênua de dar sustos vazios. O mérito aqui é por colocar em prática de maneira tão eficiente um episódio tão delicado — que encara de frente o luto da família e diz, sem precisar dizer, que fantasmas são traumas. A direção, é claro, é um deleite à parte. A câmera passeia pelos corredores escuros de forma tão imersiva que só torna os sustos ainda mais potentes. (Laysa Zanetti)
2. 'Kiksuya' (Westworld)
O oitavo episódio da segunda temporada de Westworld arrisca alto. Ele deixa de lado toda a complexidade da trama para trazer a história absolutamente devastadora de Akecheta (Zahn McClarnon). A genialidade está em utilizar aqui a semente plantada na temporada anterior sobre a tribo indígena. É uma das histórias de amor mais honestas do ano, porque se apega aos detalhes, e traça paralelos reconhecíveis com as tragédias gregas ao fazer relações com o inferno e a existência de outros mundos. A jornada de Akecheta em busca de sua amada reflete o ciclo de tragédias a que todos os demais anfitriões estiveram (ou estavam) sujeitos dentro do parque. Trata-se de um episódio distinto do restante da série porque ousa quebrar completamente com os padrões prévios, mas ao mesmo tempo em que conta uma história fechada, a faz refletir e ser refletida no todo. (Laysa Zanetti)
1. 'Teddy Perkins' (Atlanta Robbin' Season)
Atlanta é uma série que nunca fugiu do surrealismo, mas o conceito atinge o seu ponto máximo em “Teddy Perkins” — episódio e personagem. O mini conto de terror traz Darius (Lakeith Stanfield) em contato com a estranha criatura vivida por Donald Glover, e bebe de fontes como O Homem Invisível (1933), Louca Obsessão (1990), O que Terá Acontecido a Baby Jane? (1962) e, é claro, Corra! (2017), que tem o próprio Stanfield no elenco. A caracterização evoca a história de Michael Jackson e seu pai, e também a história de Marvin Gaye Sr. e do seu filho, Marvin Gaye. Em meio a tudo isso, apesar de ser um episódio facilmente visto separado do restante da temporada, segue nos mesmos temas por falar sobre o teor tóxico da fama e, de forma mais específica, sobre a opressão sofrida por artistas negros. “Teddy Perkins” é um experimento difícil de decifrar, porque funciona em tantas camadas que sempre traz uma nova descoberta. Teddy Perkins, o personagem — que nos sets era chamado de Teddy, e não de Donald Glover — é tão misterioso e traumático que só poderia ser ele o mais impactante de 2018. (Laysa Zanetti)