Em 2010, Toy Story 3 chegou aos cinemas levando inúmeros fãs da saga dos brinquedos às telonas e arrecadando mais de US$ 1 bilhão, melhor bilheteria da franquia até então. O filme estreou 15 anos após o primeiro longa e 11 depois do segundo, concluindo a história de Woody e Andy. O garoto foi para a faculdade, não antes de se despedir de seus bonecos — em uma das sequências mais emocionantes da história da Pixar, que levou às lágrimas aqueles que eram fãs desde a década de 90, alguns que inclusive já estavam também indo para a faculdade, e todos que uma vez se despediram de algum brinquedo querido. Parecia o encerramento de um ciclo. Até que a Disney anunciou que produziria Toy Story 4, com informações invadindo os veículos de notícias a partir de meados de 2014.
Enquanto a motivação de fazer um novo filme é evidentemente econômica, precisamos lembrar que as recentes sequências de animações da Pixar, embora tenham tido sucesso de público, não trouxeram a mesma qualidade de suas animações de origem. Foram os casos de Universidade Monstros, Procurando Dory, Carros 3 e Os Incríveis 2. Será que Toy Story 4 seguirá outro caminho? Teria a produção fôlego para inovar a trama — e atrair não só um novo público, como também cativar aqueles que eram aficionados pela franquia desde o início?
O primeiro ponto a favor é que nota-se uma mudança de foco em Toy Story, com o quarto filme funcionando como uma espécie de reboot (ou recomeço) para os personagens. Enquanto filme original trazia Andy, um garoto de 8 anos de idade que amava a temática caubói; agora os brinquedos dele pertencem à pequena Bonnie, que tem 4 aninhos e foi apresentada brevemente em Toy Story 3. A mudança de idade da protagonista dá margem para que a franquia expanda cada vez mais suas produções (já que Bonnie demoraria mais tempo a crescer e, consequentemente, deixar os brinquedos de lado). Além disso, trazer uma menina como personagem principal denota que a Disney está mais aberta a quebrar paradigmas e estereótipos, quando comparado aos anos 90. Não há nenhum problema em uma garotinha que usa tutu de ballet brincar tanto de boneca e de unicórnio de pelúcia, quanto de caubói, astronauta e dinossauro.
Percebe-se ainda que a expansão de Toy Story não adiciona somente mais personagens (brinquedos e humanos), mas também novas locações, cada vez maiores e mais complexas. O primeiro filme era contido ao quarto de Andy, indo no máximo até ao Pizza Planet; o segundo explorou uma loja de brinquedos, um aeroporto e o apartamento do vilão, e o terceiro foi a uma creche e ao lixão. O quarto elevará a outro nível a ideia de que brinquedos ganham vida: Woody e sua turma irão parar em um parque de diversões. Se o cenário colorido deve ser estímulo visual o suficiente para crianças, para os adultos configura mais uma nostalgia, da visita a parques na infância e adolescência com a família e amigos.
Outra novidade que muda o cânon da franquia é a adição de Garfinho, um garfo que virou brinquedo e tem dificuldade de aceitar sua nova condição. Em Toy Story, sempre foi mostrado que os brinquedos tem vida longe dos humanos, nada foi mencionado sobre objetos comuns do dia a dia. É interessante pensar que, bastaria "desenhar" dois olhinhos e uma boca em qualquer coisa, que ele ou ela ganharia vida e se tornaria um personagem. Outra possibilidade é que os itens "nasceriam" através do olhar inocente de uma criança: a partir do momento em que ela começa a brincar com algo, isso se tornaria um brinquedo. Se considerarmos a teoria de que todos os filmes da Pixar se passam no mesmo universo e que até mesmo carros são vivos, o céu é o limite.
Ao mesmo tempo em que olha para o futuro, Toy Story 4 não esquece o passado, dando mais um motivo para os fãs "raiz" da saga irem aos cinemas. A camponesa de porcelana Betty (Bo Peep no original), que não aparece na franquia desde o segundo filme — dando a entender que ela foi vendida ou doada antes dos eventos do terceiro — voltará na nova animação. Interesse amoroso de Woody e com papel importante nos dois primeiros longas, ela vai reencontrar seus queridos amigos e também o público.
O diretor Josh Cooley já revelou em entrevista que um dos motivos para fazer o filme foi porque a produção percebeu que ainda havia histórias para contar, dando continuidade à de Woody. De fato, os personagens de Toy Story são ricos o suficiente para viverem diversas aventuras. O retorno dos demais personagens do grupo de Woody, e a expansão da história de cada um deles, pode acontecer independente de Andy. Afinal, Toy Story é, literalmente, uma história de brinquedos. Os humanos são apenas coadjuvantes, que crescem e evoluem, enquanto os bonecos continuam com sua função de fazer a alegria dos jovens, adquirindo camadas cada vez mais complexas.
Enquanto Toy Story 3 mostrou a despedida — que muitos de nós já experimentamos — quando doamos um brinquedo, passando a tocha da brincadeira adiante; Toy Story 4 vem para provar que o adeus não é o fim da história. Esperamos que o novo filme faça isso de um jeito tão cativante quanto o carinho dos fãs por Woody, Buzz, Jessie, Betty, Sr. e Sra. Cabeça de Batata, Rex e tantos outros.
Toy Story 4 tem estreia marcada para o dia 20 de junho.