Mais recente sensação da Netflix, Bird Box já quebrou o recorde de filme original mais visto da plataforma em 7 dias. Foram mais de 45 mil contas que viram o filme em uma semana, e o assunto não sai dos mais comentados das redes sociais. Mas… e o livro?
Adaptado do thriller de Josh Malerman, o filme tem direção de Susanne Bier e roteiro de Eric Heisserer (A Chegada), e um elenco estrelado por Sandra Bullock e Trevante Rhodes. A história é ambientada em um mundo pós-apocalíptico, tomado por misteriosas criaturas que causam a loucura em quem olhar para elas. Malorie (Bullock) é uma das sobreviventes, que toma conta dos dois filhos e tenta levá-los para um lugar melhor.
Apesar do sucesso de público, o filme tem dividido opiniões na internet. Por isso, o AdoroCinema resolveu listar algumas das principais diferenças entre a obra literária e a visual. Confira abaixo, mas lembre-se: há SPOILERS das duas versões no texto!
O início da infestação
No livro, o início da infestação é muito mais demorado e vai se espalhando com lentidão — algo que é retratado em meio ao ceticismo de Malorie e ao desespero crescente de Shannon (Sarah Paulson). Passa-se algum tempo entre o momento em que as criaturas chegam à cidade em que elas moram moram e a morte de Shannon — que acontece dentro de casa, quando ela vê uma das criaturas por uma janela momentaneamente descoberta. É só depois disso que Malorie decide responder a um anúncio do jornal e procurar pela casa que oferece abrigo. Ela vai até lá de carro, cobrindo os olhos, e precisa convencê-los a deixá-la entrar.
No filme, aparentemente quase toda a cidade enlouquece de uma hora para outra, quando Malorie e Shannon estão voltando do hospital. No caminho, Shannon vê uma das criaturas e se mata, e Malorie — com sua enorme barriga — é resgatada por um grupo de pessoas que se refugia em uma casa bem do outro lado da rua.
A rotina da casa
No livro, a convivência dentro da casa é relativamente pacífica até a chegada de Gary. Apenas dois moradores se arriscam a sair em busca de mantimentos: Tom e Jules. Fora isso, os sobreviventes se revezam para buscarem água em um poço que fica próximo ao rio, e para levar os dejetos para fora diariamente. A dinâmica na casa é diferente e até mesmo os personagens são outros — não existe alguém como Douglas (John Malkovich), por exemplo, sendo este personagem mais próximo, talvez, à descrição de Don, mas ainda assim na maior parte do tempo os dois são bastante antagônicos.
No filme, grande parte do aspecto desafiador da convivência é retratado sob a ótica dos estereótipos — um personagem niilista, outro interessado apenas em sexo, outro cético, outro esperançoso. Nesta versão, Malorie sai da casa com os demais personagens para buscar comida no supermercado, algo que não acontece no livro.
Os pássaros e os cachorros
No livro, os pássaros são encontrados por Tom quando ele sai com Jules na esperança de encontrar cachorros para proteger a casa das criaturas. Há um enorme debate na história a respeito de como os misteriosos seres afetam (ou não afetam) animais, e por isso a ideia de Tom é colocar cães de guarda para avisar quando algo começasse a rondar por perto da casa. Ele encontra não apenas dois huskies (que acabam fazendo companhia a Victor, o cão doméstico de Jules) como também uma caixa com dois pássaros treinados, que começam a piar toda vez que alguém se aproxima. A caixa é colocada na varanda para fazer o serviço de alerta. Posteriormente, Malorie descobre da pior maneira possível que a loucura é capaz de afetar os animais — quando sai com Victor e o cão se mata.
Em uma outra parte do livro, quando Malorie está no barco com as crianças, um dos monstros se aproxima e tenta tirar sua venda, e neste momento dezenas de pássaros que estão nas árvores começam a agir de forma enlouquecida, seus corpos ensanguentados caem no rio e no barco, impedindo a passagem.
No filme, além de não haver os cachorros, é Malorie quem encontra os pássaros, quando participa da ida ao mercado. Ela acaba criando um laço com eles, que surpreendentemente permanecem com a família pelos próximos cinco anos.
Tom, Malorie, Garoto e Menina
Talvez uma das alterações mais decisivas está na história de Tom. No livro, o homem morre durante o parto de Malorie e Olympia, quando Gary abre todas as portas e janelas e todos os outros residentes da casa cedem à loucura. Malorie fica sozinha para cuidar dos dois recém-nascidos, e é imediatamente depois do nascimento das crianças que recebe um telefonema de Rick, que estava respondendo a uma mensagem deixada por Tom.
Na ligação, Rick conta a respeito do abrigo em que ele mora com outras centenas de pessoas, e dá a Malorie instruções de como chegar lá, através do Rio. Durante os quatro anos seguintes, ela prepara as crianças para o desafio de atravessá-lo, treinando-as para identificarem qualquer tipo de som e se preparando psicologicamente para o momento em que terá de abrir os olhos. Em algumas passagens da história, Malorie conta que transformou os filhos em “máquinas de ouvir”, mas nunca pede às crianças que uma delas abra os olhos no rio.
Por estar sozinha e em estado catatônico depois de todas as mortes que presenciou, Malorie não dá atenção à ideia de batizar os filhos, e por isso chama-os apenas de Garoto e Menina. No filme, em um relacionamento estável com Tom, a falta de nomes acaba sendo um tanto incoerente, até mesmo porque existe uma base emocional consideravelmente mais forte.
Outra grande alteração é a respeito dos motivos de Malorie. No filme, ela não tem intenção de seguir para o lugar descrito por Rick, e muda de ideia apenas quando Tom acaba morrendo quando a casa é cercada por sobreviventes enlouquecidos.
O final
Embora relativamente semelhantes, os finais do livro e do filme guardam divergências expressivas. Na contraparte literária, Malorie chega à instituição Jane Tucker e descobre que, durante os primeiros anos da infestação, algumas pessoas se cegaram de propósito para não correrem o risco de cederem à loucura. Ela tem medo de que o mesmo será feito aos seus filhos, mas Rick a acalma dizendo que aquela é a maneira antiga do grupo agir, e a assegura de que ela e as crianças não sofrerão mais nenhum risco.
No livro, este aspecto sombrio não existe, algo que a diretora Susanne Bier justificou explicando que queria uma visão otimista para o fim da história. Em ambos os casos, no entanto, há a sensação de que tudo acabou fácil demais — e a redenção pela maternidade é um tema que se repete.
E aí, qual das duas é a melhor?!