Alcançar o estrelato em Hollywood pode ser uma das tarefas mais difíceis do mundo, mas ainda mais complexo é manter-se no topo. Para além dos atores que tentaram ser astros de Hollywood e não conseguiram, outros enfrentaram o pior de todos os cenários: a dolorosa e vertiginosa queda após efetivamente faz parte do alto escalão de Hollywood.
Não são raros os casos de atores que se aproximaram do ou realmente chegaram ao fundo do poço - seja por causa de parcerias prejudiciais, escolhas ruins de projetos e/ou problemas com drogas, apenas para citar algumas das mais corriqueiras razões dentre os inúmeros motivos pelos quais uma carreira pode ir por água abaixo em um piscar de olhos.
Felizmente, por outro lado, também não são poucos os exemplos de atores que conseguiram reverter condições problemáticas, dar a volta por cima e (re)conquistar Hollywood - confira abaixo a seleção do AdoroCinema com 10 destas fênixes da sétima arte:
RYAN REYNOLDS
Atualmente, o símbolo das retomadas não pode ser outro ator senão Ryan Reynolds. Após amargar alguns dos fracassos mais retumbantes da história recente de Hollywood - alguns deles devidamente "apagados" por Deadpool 2, como X-Men Origens: Wolverine e o execrado Lanterna Verde -, o ator buscou a reinvenção completa de sua trajetória e de sua figura no cinema estadunidense. Anteriormente visto apenas como protagonista de comédias românticas de qualidade duvidosa - à exceção do popular A Proposta - e como estrela de filmes de ação/aventura/suspense igualmente questionáveis, Reynolds encontrou o caminho perfeito para si ao vestir o traje - e um pouco da persona - do Mercenário Tagarela.
Como Deadpool, o ator não só ajudou a revigorar o cinema de super-heróis e a abrir mais espaço para filmes proibidos para menores, como também criou uma das franquias mais queridas e surpreendentes dos últimos tempos e um dos personagens mais idolatrados do momento. Se você precisa de um rosto para um projeto para maiores - mesmo que esta seja a adaptação Rated R do jogo de tabuleiro "Detetive" - ou simplesmente de uma verdadeira estrela de Hollywood, o momento é todo de Ryan Reynolds.
BEN AFFLECK
Ninguém poderia prever que um dos atores mais criticados dos anos 2000 e protagonista de Contato de Risco - para citar apenas um fiasco -, um dos longas mais mal avaliados na história de Hollywood, se tornaria um dos diretores mais respeitados na indústria. Mas foi exatamente isto que aconteceu com Ben Affleck, que gradualmente se afastou de papéis que demandavam demais de suas habilidades cênicas para se concentrar em personagens mais durões e em sua carreira como realizador. Foi assim que ele não só entregou performances sólidas em Garota Exemplar e O Contador, como também trouxe ao mundo um ganhador do Oscar de Melhor Filme, o suspense Argo.
E como se suas credenciais como cineasta não fossem o suficiente para provar que Affleck deu a volta por cima para conquistar Hollywood, o diretor também aceitou um grande desafio: ser o Homem-Morcego do Universo Estendido da DC, o primeiro Batman após as interpretações definitivas de Christian Bale para o Maior Detetive do Mundo. Por mais que Affleck aparentemente possa deixar o papel a qualquer momento, é certo que ele é um dos poucos pontos altos dos filmes de super-herói da Warner por enquanto, trazendo uma versão mais do que competente para o complexo Bruce Wayne.
JOHN TRAVOLTA
Não são todos os atores que têm a chance de protagonizar obras como Os Embalos de Sábado à Noite, Grease e Um Tiro na Noite nos primeiros anos de suas trajetórias em Hollywood; John Travolta, por sua vez, é um desses raros exemplares. Entretanto, o forte pontapé inicial de sua carreira não se traduziu em continuidade e o ator acabou se tornando a (infeliz) estrela da (tétrica) franquia de bebês falantes Olha Quem Está Falando. Com suas chances na indústria praticamente liquidadas, Travolta se viu em um beco sem saída até que Quentin Tarantino - o maior resgatador de carreiras de Hollywood - surgiu em sua vida para lhe oferecer um dos papéis principais de Pulp Fiction.
Conquistando sua segunda indicação ao Oscar de Melhor Ator por sua performance como Vincent Vega, Travolta recuperou o prestígio e alcançou um patamar de respeitabilidade que nem mesmo o tenebroso A Reconquista - selecionado para nossa lista de 10 filmes tão ruins, mas tão ruins que viraram clássicos cults - conseguiu ameaçar de fato. Travolta ainda voltaria a insistir em fazer escolhas pífias para sua carreira - principalmente nos últimos anos com filmes de ação bisonhos -, mas seu recente trabalho na aclamada primeira temporada de American Crime Story garantiu mais uma sobrevida para o icônico ator.
ROBERT DOWNEY JR.
Uma carreira promissora - reconhecida destarte com uma indicação ao Oscar, marcada pela interpretação do genial Charles Chaplin e impulsionada pela parceria com cineastas consagrados como Robert Altman e Oliver Stone - ameaçada pelo vício. Robert Downey Jr. não chegou perto de perder tudo: ele de fato perdeu tudo que conquistou no fim da década de 1980 e início da de 1990 por causa de sua dependência química, problemas com a polícia e a justiça e a necessidade de interromper a carreira para se reabilitar de sua cocainomania. Mas foram exatamente estes percalços que fizeram com que o diretor Jon Favreau selecionasse Downey Jr. para dar vida ao Homem de Ferro no longa de 2008, um personagem extravagante constantemente às voltas com seus equívocos e em busca de um recomeço.
Agarrando a chance de redenção com unhas e dentes, Downey Jr. não só retomou seu posto anterior em Hollywood como também encontrou um inédito espaço para si como super-estrela da indústria. Incorporando a persona irreverente do "gênio, playboy, bilionário e filantropo" Tony Stark, o ator tornou-se o principal rosto do Universo Cinematográfico Marvel, a mais insana e lucrativa das empreitadas hollywoodianas, deixando para trás todo e qualquer problema com os quais se deparou em seu passado. Hoje, o homem que esteve à beira da perdição é um dos atores mais rentáveis de uma das maiores indústrias do planeta - isso é que é dar a volta por cima.
DREW BARRYMORE
É bastante difícil lembrar da época em que Drew Barrymore não era uma das queridinhas das comédias românticas, especialmente por causa da dupla vencedora que formou com o amigo Adam Sandler. Entretanto, houve uma época em que a atriz era mais conhecida por suas atitudes bad girl do que pelos seus trabalhos. Começar cedo, aliás, pode ser uma maldição para muitos atores - antes mesmo de protagonizar o clássico E.T. - O Extraterrestre, aos sete anos, Barrymore já atuava, mais precisamente desde os 11 meses de idade. Assim, a pressão e as expectativas colocadas sobre a então atriz mirim - cujo talento e potencial encantaram seu padrinho, o lendário Steven Spielberg e a crítica em geral -, fizeram com que ela tomasse caminhos prejudiciais para sua carreira e para sua saúde.
Aos 13 anos, Barrymore entrou na reabilitação para dependentes químicos pela primeira vez e aos 14 tentou tirar a própria vida. Entrando em um processo de tratamento de emergência para retirar as drogas de seu organismo, Barrymore atravessou sua juventude entre altos e baixos até finalmente migrar para o terreno das comédias em Afinado no Amor, sua primeira parceria com Sandler. A partir daí, a atriz não só investiu em uma bem-sucedida trajetória no terreno do humor como também aprofundou seus papéis por trás das câmeras. Hoje, aos 43 anos, Barrymore é diretora (Garota Fantástica) e produtora e estrela da popular comédia de horror da Netflix, Santa Clarita Diet.
MICKEY ROURKE
Os anos 80 estabeleceram o nome de Mickey Rourke como uma espécie de astro alternativo que poderia se manter no topo por muitos anos - e que, principalmente, poderia disputar inúmeros troféus nas temporadas de premiações. Contudo, depois de aclamados trabalhos em produções como Quando os Jovens se Tornam Adultos e Barfly - Condenados Pelo Vício, Rourke tomou a inesperada decisão de se aposentar das telonas para se tornar um... boxeador profissional. Porém, sua curta carreira no esporte lhe trouxe mais sequelas do que conquistas - mais notavelmente, seu rosto acabou sendo desfigurado após inúmeras contusões e cirurgias plásticas malsucedidas, o que prejudicou seu retorno ao cinema.
Em 2005, no entanto, Rourke finalmente recebeu a oportunidade de estrelar um projeto de respeito: Sin City. Sua performance, extremamente elogiada pela crítica internacional, resgatou sua carreira e o transformou na escolha perfeita de Darren Aronofsky para seu O Lutador. Como um ex-lutador de wrestler, Rourke cria uma das mais sólidas, emocionantes e afinadas performances de sua carreira e dos anos 2000 como um todo. Por mais que ele tenha retomado sua bizarra persona pública nos últimos anos, mantendo-se afastado inclusive das grandes produções, Rourke é certamente o protagonista de um dos mais dramáticos e bem-sucedidos retornos à boa forma de todos os tempos.
MATTHEW MCCONAUGHEY
Assim como Ryan Reynolds e Ben Affleck, Matthew McConaughey também precisou reinventar sua carreira para se manter vivo no competitivo ambiente de Hollywood. Entretanto, diferentemente de seus colegas, que encontraram saídas para seus dilemas no cinema de super-heróis, McConaughey decidiu parar de apelar ao grande público, transferindo suas atenções para o cinema independente. Majoritariamente conhecido nos anos 2000 como galã de comédias românticas e ator de talentos cênicos para lá de limitados, McConaughey começou a alterar a percepção sobre si quando aceitou trabalhar com o subversivo William Friedkin em Killer Joe - Matador de Aluguel. E a partir dali, tudo mudou.
Seu radical processo de revolução artística, que veio a ser conhecido como "McCoinasannce", culminou com as duas melhores performances de sua carreira. Migrando para a televisão, o ator criou o niilista detetive Rust Cohle, da aclamada e cultuada série True Detective; nas telonas, McConaughey acabaria vencendo o Oscar de Melhor Ator por Clube de Compras Dallas. Pronto, o mais novo astro de Hollywood havia chegado ao pedaço. Desde então, as memórias de McConaughey como galã são apenas lembranças de um passado muito, muito distante.
ALEC BALDWIN
Apesar dos sucessos e da aclamação recebida por Caçada ao Outubro Vermelho e O Sucesso a Qualquer Preço, Alec Baldwin não conseguiu manter a sequência vencedora na década de 1990 e no início dos anos 2000. Estrelando uma penca de suspenses de qualidade duvidosa, o ator distanciou-se cada vez mais das suas performances mais elogiadas até finalmente desaparecer aos poucos da atenção pública - sua contenda pública com sua ex-mulher, Kim Basinger, certamente não o ajudou no processo. Baldwin só começou a reverter sua situação problemática em 2003, quando a Academia reconheceu seu trabalho em The Cooler - Quebrando a Banca com uma nomeação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.
Atraindo a atenção do titânico Martin Scorsese, Baldwin foi escalado tanto em O Aviador quanto em Os Infiltrados e, principalmente, conquistou o interesse de Tina Fey, que o selecionou para interpretar o malandro e "71" empresário Jack Donaghy em 30 Rock. Por causa de sua performance, Baldwin não só retornou ao topo - hoje, o ator tornou-se um comediante de mão cheia, ganhando aplausos por sua imitação de Donald Trump - como também ganhou dois Emmy por 30 Rock.
MARLON BRANDO
Por mais que boa parte dos exemplos desta seleção sejam recentes, a dificuldade de se manter no topo é algo inerente à Hollywood. Aliás, dentre todos os casos listados nesta compilação, o de Marlon Brando é um dos mais específicos e inusitados. Afinal de contas, antes de se envolver em inúmeros problemas pessoais - seu alcoolismo o transformou em um péssimo colega de elenco e de set para inúmeros profissionais nos anos 1960 - e de se desiludir com a arte do ator após emplacar inúmeros fracassos de bilheteria, Brando já havia atingido o ápice do estrelato, cimentando seu status como um dos maiores atores da história com seus viscerais e inovadores trabalhos em Sindicato de Ladrões e Uma Rua Chamada Pecado. Ele não só causou um impacto sísmico com sua chegada em Hollywood, como também modificou por completo a perspectiva dos atores em relação aos seus papéis e a dos diretores e produtores em relações aos intérpretes em geral.
Assim, apenas um ator tão gigantesco quanto Brando para retomar sua carreira da mesma forma como a deixou: com a genialidade de um artista ímpar. Se a primeira parte de sua trajetória em Hollywood foi marcada por personagens durões, jovens rebeldes em busca de causas e sonhos em um contexto extremamente difícil para os Estados Unidos, a segunda metade da carreira de Brando foi ligada diretamente à sua personalidade titânica. Além de estrelar O Poderoso Chefão, criando um dos mais importantes personagens da história das narrativas ocidentais com seu Don Corleone, Brando ainda retomaria a parceria com o cineasta Francis Ford Coppola para gerar seu próprio monstro no fim do labirinto: o inesquecível Coronel Kurtz de Apocalypse Now. E isso para citar somente duas de suas inúmeras obras-primas.
KATHARINE HEPBURN
Sim, a maior vencedora feminina dos prêmios da Academia também é um caso de atriz que precisou dar a volta por cima para realmente conseguir conquistar o topo de Hollywood. Apesar de ter ganhado seu primeiro Oscar em 1934 (Manhã de Glória) e de ter emplacado alguns sucessos logo no início de seu percurso profissional nos primórdios do cinema falado, na década de 1930, Hepburn acabou encadeando fiasco de biheteria após fiasco de bilheteria, incluindo o hoje clássico Levada da Breca. Antes de finalmente se tornar a atriz que viria a ser, Hepburn ainda perdeu o papel de Scarlet O'Hara no primeiro blockbuster da história, ...E o Vento Levou.
Determinada a virar o jogo e a superar os obstáculos impostos às atrizes na Era de Ouro de Hollywood, ainda mais machista e nociva do que a indústria atual, Hepburn deu tudo de si para o papel que reviveria sua carreira: o de Tracy Lord em Núpcias de Escândalo. Aclamada tanto nos palcos quanto nas telonas, Hepburn começou a escalar de volta ao topo como um trem sem freio: era impossível impedir a ascensão de uma das maiores atrizes de todos os tempos. Mantendo o prestígio e estrelando longas-metragens importantes até o fim de sua carreira, Hepburn tornaria-se uma das intérpretes mais influentes da cinematografia estadunidense e ganharia mais três Oscar de Atriz Principal pelos trabalhos em Adivinhe Quem Vem para Jantar, O Leão no Inverno e Num Lago Dourado.