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    Eva Wilma relembra discussão com Hitchcock: "Ele começou a dialogar comigo e me provocar"

    Atriz brasileira fez testes para o papel de uma cubana em Topázio, suspense lançado pelo diretor britânico em 1969.

    Globo / João Miguel Júnior

    Dama do teatro, televisão e cinema brasileiro, a atriz Eva Wilma relembrou um episódio menos conhecido de sua trajetória profissional em entrevista para o programa de TV Roda Viva, exibido pela TV Cultura na noite de segunda-feira (20).

    Ao ser questionada a falar sobre uma anedota que incluiu em sua biografia, a atriz relatou mais uma vez um episódio desconfortável que passou quando fez testes nos Estados Unidos para integrar o elenco de Topázio (1969), dirigido pelo mestre do suspense Alfred Hitchcock.

    "Eu tinha feito um trabalho muito bom no teatro, era uma peça de suspense norte-americana. A gente ganhou um prêmio da embaixada, do consulado, [para passar] 45 dias vendo teatro, cinema e televisão nos Estados Unidos", contou ela.

    Divulgação

    Após ter visto filmes produzidos pela Universal Pictures, a atriz chamou a atenção de um agente do estúdio, que lhe falou sobre o papel no filme do diretor de Um Corpo Que Cai (1958) e Psicose (1960). "Hitchcock estava precisando de uma atriz latino-americana para o papel de uma cubana no filme Topázio. Tirei as fotos e voltamos para o Brasil. Ele mandou pedir currículo, material filmado e mandaram me buscar. Lá fui eu de primeira classe, tentando ler aquele livro, Topázio", disse a atriz, rindo ao lembrar da extensão do romance escrito por Leon Uris, que tem mais de 400 páginas.

    Já em Hollywood, Wilma contou que sua audição não foi das melhores. "A preparação do teste foi quase traumatizante, muita coisa postiça", relatou a atriz de 83 anos de idade. "Por exemplo: os seios postiços. Eu falei: 'Precisa? Está tão bom assim'." Conversar com o maquiador não ajudou muito a brasileira. "Olha a Audrey Hepburn também reclamou muito, mas só depois de dois anos ela conseguiu trabalhar com os seios dela. Agora você tem que usar esses postiços", disse ele na ocasião. No Roda Viva, Wilma ainda brincou que foi bom ter usado a prótese porque seu figurino incluia um vestido transparente e assim ela ficava "protegida".

    Divulgação

    "O teste constou de três partes. Uma parte era como se estivesse conversando com o personagem, outra parte era só estética e na última parte, a mais difícil de todas, ele [Hitchcock] colocou a cadeira dele bem do lado da câmera, a câmera bem perto, e começou a dialogar comigo e me provocar", relatou.

    No momento tenso, Wilma afirmou que não foi fácil responder em inglês. Insatisfeita, Eva conta que o cineasta a instigou: "Fala na sua língua." "Aí eu meio que briguei, meio que falei bobagem, sei lá, ele disse: 'Tá ótimo…'", contou a artista, ainda mantendo o clima bem humorado.

    Harry Benson/Getty Images

    Dono de uma obra respeitada na sétima arte, Hitchcock, como pessoa, não era conhecido por ser um diretor amigável com os atores com os quais trabalhava, para dizer o mínimo. Reza a lenda que, ao ser contestado por um repórter sobre a frase "atores são gado", atribuida a ele, o cineasta teria rebatido: "Nunca disse que atores são gado. O que eu disse é que todos os atores deveriam ser tratados como gado."

    Uma das acusações mais graves de assédio que pesam contra o diretor vem da atriz Tippi Hedren, que estrelou Os Pássaros (1963) e Marnie, Confissões de Uma Ladra (1964). Em sua autobiografia, Tippi, a atriz conta que durante as filmagens de Marnie o cineasta teria abusado dela: "Foi sexual, perverso. Quanto mais eu resistia, mais agressivo ele ficava". Ela conta ainda que o diretor também manifestava publicamente sua irritação quando a via conversando com outros homens.

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