"Você está velha, feia, gorda": Há 45 anos, atriz que deu vida à Cuca do Sítio do Picapau Amarelo matou o marido após ouvir duras palavras
Victor Mascarenhas
Victor Mascarenhas
-Redator
Jornalista, curioso e sempre ligado em tudo o que acontece na TV. Um sonho? Ter o maior número de referências possíveis.

Ela foi uma das maiores estrelas da televisão, mas tragédia virou sua vida de cabeça para baixo em 1980.

TV Globo

Uma carreira artística pode ser interrompida por inúmeros motivos. Às vezes, os próprios atores escolhem deixar tudo para trás. Mas esse não foi o caso de uma pioneira da televisão, que teve que sair de cena após uma tragédia que chocou o país. O nome dela? Dorinha Duval. O motivo? O assassinato do próprio marido. Vem entender essa história com a gente!

De vedete à Cuca do Sítio do Picapau Amarelo

Dorinha Duval é uma das atrizes que testemunharam o início da televisão no Brasil, na década de 1950, e todas as transformações que esse marco trouxe para a classe artística. Nascida em 21 de janeiro de 1929, Dorah Teixeira, seu nome de batismo, iniciou a carreira como bailarina de cassino e, em seguida, destacou-se como cantora de boates.

Não demorou muito para ingressar no teatro de revista, onde se tornou uma das vedetes mais populares de sua época. Além disso, brilhou em diversas radionovelas antes de estrear na televisão. Na Globo, atuou em novelas como Verão Vermelho (1969), Irmãos Coragem (1970) e Selva de Pedra (1972), a última produção em preto e branco da emissora carioca.

Coincidentemente, Dorinha também integrou o elenco do primeiro folhetim colorido do canal, O Bem-Amado (1973) – um momento marcante na história da TV. Na trama de Dias Gomes, interpretou uma das irmãs Cajazeiras, ao lado de Ida Gomes e Dirce Migliaccio.

Dorinha Duval, Paulo Gracindo, Ida Gomes e Dirce Migliaccio em O Bem-Amado Acervo/Globo
Dorinha Duval, Paulo Gracindo, Ida Gomes e Dirce Migliaccio em O Bem-Amado

Ainda na década de 1970, continuou atuando em novelas até receber um convite inusitado, que acabou marcando sua carreira para sempre. O diretor Geraldo Casé a chamou para participar da adaptação televisiva do Sítio do Picapau Amarelo, baseada na obra de Monteiro Lobato.

No programa infantil da Globo, ela deu vida à primeira Cuca, a vilã que sempre aterrorizava os moradores do sítio, mas tinha uma pitada de humor. Apesar do grande sucesso no papel da jacaroa, Dorinha Duval fez parte apenas da primeira temporada, entre 1977 e 1978.

A tragédia e o fim da carreira de Dorinha Duval

Na noite de 5 de outubro de 1980, a vida de Dorinha Duval tomou um rumo dramático. A atriz atirou três vezes contra seu segundo marido, o publicitário Paulo Sérgio Alcântara, com quem era casada havia seis anos. Dois dias depois, ela se entregou à polícia, alegando legítima defesa.

Dorinha relatou que, naquela noite, os dois tiveram uma discussão acalorada, que culminou em agressões físicas de ambos. Segundo seu depoimento, o marido, que era 16 anos mais jovem que ela, a insultou e chegou a incentivá-la a tirar a própria vida. Em seu livro Em Busca da Luz – Memórias de Dorinha Duval, a ex-vedete reproduziu as palavras que ele teria dito:

"Você está velha, feia, gorda. Você já era. Eu não quero nada com uma velha como você (...) Não quero uma bruxa remendada! Eu gosto é de garotas, mulheres mais novas, ouviu?".

Em outro trecho da publicação, ela descreveu os momentos que antecederam os disparos:

O Paulo me deu vários tapas e pontapés, eu ameacei me matar e ele disse que seria uma ótima ideia e que a arma estava na gaveta. Após ser atingida por um tapa na região da cabeça, fugi dele, peguei a arma e disparei. Daí tudo ficou escuro na minha frente

Dorinha Duval passou por dois julgamentos e, apesar do apoio de alguns artistas, como Chico Anysio, ela foi condenada a seis anos de prisão por homicídio. Cumpriu sua pena inicialmente em regime semiaberto e, nove meses depois, foi transferida para o regime aberto.

Mesmo após o cumprimento da pena, Dorinha não conseguiu retornar à TV, exceto por uma participação no último capítulo da novela Belíssima, em 2006, que prestou uma homenagem às vedetes. Dez anos depois, ela deu uma entrevista ao jornal O Globo e se limitou a dizer: "o passado já passou. Está tudo sossegado na minha vida".

Atualmente com 96 anos, Dorinha Duval leva uma vida discreta e se dedica às artes plásticas, especialmente às esculturas. É possível encontrar registros da atriz no Instagram de Carla Daniel, sua filha com o famoso diretor Daniel Filho, com quem foi casada por mais de uma década.

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