Depois de A Vida dos Outros, de 2006, levar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, Nada de Novo no Front conseguiu trazer o prêmio para a Alemanha mais uma vez. O longa de Edward Berger conquistou não só o público, como também a crítica. E surpreendeu ao tirar o favoritismo de filmes como Elvis, Babilônia e Os Fabelmans nas categorias de Melhor Fotografia, Melhor Trilha Sonora e Melhor Design de Produção.
Nada de Novo no Front é um épico de guerra barbaramente feito, que não deixa nada a desejar comparado às produções americanas. No nível técnico (assim como na atuação), o diretor conseguiu criar uma experiência visual que engole o espectador, tornando o caos nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, assim como a saraivada de balas, quase fisicamente tangíveis.
Se você já assistiu ao vencedor do Oscar e agora quer mergulhar nesse gênero cinematográfico, aí vai uma dica muito especial: Stalingrado, de 1993, com direção de Joseph Vilsmaier. Um filme igualmente alemão, é notável em termos de esforço técnico e obsessão por detalhe. Tal qual Nada de Novo no Front, retrata o horror do conflito que aconteceu entre 1939 e 1945, o valor inestimável da verdadeira camaradagem e condena o militarismo despropositado.
DO QUE SE TRATA STALINGRADO?
Frente Oriental, inverno de 1942. Um exército alemão com quase 600 mil homens foi cercado na cidade completamente bombardeada de Stalingrado, na Rússia. As temperaturas chegam a menos 50º C. Para Fritz (Dominique Horwitz), Hans (Thomas Kretschmann), Rollo (Jochen Nickel) e GeGe (Sebastian Rudolph), a luta pela sobrevivência já começou. Os disparos e os lançadores múltiplos de foguetes de Stalin são apenas parte do terror.
A maioria dos soldados nazistas está perdendo para a fome e o frio. Os lemas de perseverança do líder vão perdendo pouco a pouco o sentido, porque tudo em que um dia eles acreditaram está desmoronando diante de seus olhos, até que finalmente resta apenas um desejo: acabar o sofrimento.
UMA EXPERIÊNCIA QUE FICA SOB SUA PELE
Mesmo que Stalingrado não seja tão poderoso quanto Nada de Novo no Front quando se trata de encenação, Joseph Vilsmaier prende a audiência desde o início com cenários impressionantes e sequências de batalha majestosas, que se misturam a um olhar totalmente crítico e negativo do que estava ocorrendo na Europa naquela época. Militarismo e nazifascismo são desconstruídos aqui até que nada reste além de frases ocas e cadáveres.
Stalingrado não apenas torna clara a brutalidade da guerra por meio do poder audiovisual, mas o faz, antes de mais nada, no nível do personagem. A dinâmica entre Fritz, Hans, Rollo e GeGe está no centro do filme e, graças a sua profundidade emocional e trágica, pode ser equiparada à de Paul Bäumer (Felix Kammerer), Stanislaus Katczinsky (Albrecht Schuch) e companhia em Nada de Novo no Front.
Destaque para Dominique Horwitz, o Fritz, pois é nele que a transformação de patriota inocente em dilacerado pela guerra é expressa de maneira mais clara (e dolorosa).
Mesmo que Stalingrado não seja o representante mais sofisticado de seu gênero e tecnicamente siga caminhos já conhecidos, é extremamente eficaz e impiedoso, de modo que o que era para ser mais uma produção sobre esse período histórico avança para se tornar um clássico. O foco está no essencial: o inferno gélido de Stalingrado, no qual os combatentes não estão mais necessariamente interessados em achar alguma forma de voltar para casa vivos. É apenas uma questão de o horror finalmente parar. Não há vencedores em Stalingrado.