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    O Iluminado
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    Adriano Silva
    Adriano Silva

    1.526 seguidores 464 críticas Seguir usuário

    5,0
    Enviada em 3 de setembro de 2022
    O Iluminado (The Shining)

    "O Iluminado" foi lançado em 1980, produzido e dirigido por Stanley Kubrick e co-escrito com a romancista americana Diane Johnson. O longa é baseado na obra de arte literária de Stephen King de 1977.
    Jack Torrance (Jack Nicholson) é um aspirante a escritor e alcoólatra em recuperação, que se torna caseiro de inverno do isolado Hotel Overlook, nas Montanhas Rochosas do Colorado, na esperança de curar seu bloqueio de escritor. Ele se instala com a esposa Wendy (Shelley Duvall) e o filho Danny (Danny Lloyd), que é dotado de habilidades psíquicas e atormentando por premonições. Jack não consegue escrever e as visões de Danny se tornam mais perturbadoras. O escritor descobre os segredos sombrios do hotel e começa a se transformar em um maníaco homicida, aterrorizando sua família.

    Acabo de ler uma das maiores obras literárias da história, a obra-prima de Stephen King - 'O Iluminado'. Nunca tinha lido nada com essa proporção, com uma história tão avassaladora e tão perturbadora. 'O Iluminado' é simplesmente uma viagem ao subconsciente, uma viagem para uma outra dimensão, você sai fora de órbita ao ler cada capítulo da história criada pelo mestre King. Verdadeiramente uma obra-prima da literatura, e uma das melhores obras de arte de Stephen King.

    O início dos anos 80 no cinema foi marcado pela obra que trouxe três monstros, três lendas, três personalidades completamente geniais e influentes em suas respectivas áreas - Stephen King, Jack Nicholson e Stanley Kubrick. King é simplesmente o gênio da literatura, o autor de mais de 50 livros best-sellers no mundo, o Grão-Mestre dos escritores de mistério dos EUA. Nicholson é verdadeiramente um ícone da sétima arte e um dos maiores atores de todos os tempos. O mestre Kubrick facilmente é um dos maiores cineastas que já passou por esta terra.

    Certamente "O Iluminado" é um dos maiores suspense/terror de todos os tempos. Um thriller misterioso, emblemático, contundente, soturno, intrigante, niilista, que nos conquista pelo seu charme trashístico oitentista e nos imergi em um horror sobrenatural e maquiavélico. Kubrick emprega um um terror psicológico que carrega algumas teorias, algumas alegorias, algumas metáforas sobre o problema psicológico de Jack, que tendo que lidar com o alcoolismo e o isolamento, não consegue se aproximar da família e tampouco realizar o sonho de ser escritor, sendo assim, sucumbe a um estado mental e espiritual atormentado, chegando à uma completa loucura. Kubrick traz uma verdadeira aula de psicanálise, um estudo da mente humana, uma análise do surto psicótico, nos exemplificando sobre a confusão mental, a perda da sanidade, a perda do equilíbrio emocional, delírios, alucinações, catatonia, alteração de humor, perda da noção de tempo. Realmente o Jack não conseguia escapar do labirinto psicológico que se tornou a sua mente perturbada.

    Temos aqui uma releitura aprofundada sobre a 'febre de cabine' (Cabin Fever). Jack estava completamente mergulhado em um estado de irritabilidade, tédio, inquietação, perturbação, confusão, por passar muito tempo isolado (confinado) dentro do hotel. Jack estava sofrendo uma reação claustrofóbica, caracterizada por anormalidades comportamentais, exatamente como aconteceu com o zelador da outra família no verão passado.

    Acredito que Kubrick quis dar uma cutucada no Stephen King ao abordar uma cena em que Jack aparece no bar do hotel bebendo na presença de um fantasma (ou algo sobrenatural do seu subconsciente), pois os primeiros anos da carreira de King foram turbulentos, marcados por vício em álcool, cocaína e tragédias. Podemos considerar que toda a premissa é uma alegoria ao momento que King passava: o autor temia o descontrole quando estivesse bêbado ou drogado, acreditando que podia acabar machucando sua esposa ou filho (exatamente como foi abordado com os personagens no filme e no livro). Definitivamente 'O Iluminado' é uma história muito pessoal para Stephen King.

    Dentro desse contexto temos o eterno descontentamento de Stephen King em relação à adaptação feita por Kubrick. King não gostou da obra do Kubrick, foi contra a escalação de Jack Nicholson, e nunca escondeu o seu desgosto com o filme. King afirmou que o cineasta modificou a história para criar uma aura de suspense muito eficiente, mas que o desagradou profundamente. Dentre os maiores incômodos estão a figura de Jack Torrance que, segundo o autor, é visivelmente insano desde o início, e a mudança na conclusão da trama. King descreve a versão de Kubrick como um “carro de luxo sem motor”, com muita estética e pouco conteúdo. Na visão de King, "O Iluminado" sofre com a ausência do dinamismo e humanidade presentes no livro, sendo que o filme é, em comparação, bastante cínico e niilista, pois o longa de Kubrick não tem compaixão por seus personagens, o que é comprovado pelo final diferente de Jack.
    A resposta de King veio em 1997, quando fez questão de assinar o roteiro da minissérie para a TV baseada no livro. Em 2013, o autor lançou 'Doutor Sono', que continua a história de Danny Torrance e também possui uma adaptação cinematográfica lançada em 2019.

    Eu entendo perfeitamente o descontentamento do Stephen King em relação ao longa do Kubrick. Realmente a figura do Jack no livro inicialmente não passa essa visão de perturbado e insano, ele vai desenvolvendo e adquirindo com o passar do tempo e do isolamento no hotel. Sobre a conclusão da trama: realmente é a parte que é totalmente modificada em relação ao livro, pois aqui Kubrick imprimiu a sua visão, a sua forma de pensar um novo final para a história. Na minha opinião: o filme inteiro é baseado/inspirado na obra do King, ok, mas não é 100% fiel ao livro, e nem poderia, pois facilmente identificamos uma liberdade criativa e poética por parte do Kubrick. Pra mim, "O Iluminado" tem muitas coisas que se adéquam ao livro mas também tem muitas coisas que diferem do livro (este é o ponto alto da discursão), a maior delas é sem dúvida o final. Portanto, "O Iluminado" é uma obra-prima pela visão do Kubrick, impondo a sua liberdade criativa e a sua peculiaridade em relação à obra de Stephen King. No final o que temos são duas belíssimas obras-primas - uma pela versão imposta pelo Kubrick, e a outra pela genialidade criada por King. São mídias diferentemente grandiosas e expressivas, que marcou uma época e uma geração, e que são lembradas, cultuadas e respeitadas até hoje.

    Aqui eu trago um comparativo em relação à obra do Kubrick e à obra do King.

    spoiler: No livro o Dick Hallorann não morre, ele é apenas atacado por Jack quando chega no hotel mas consegue sobreviver, tanto que o final do livro é uma cena emblemática com Hallorann, Wendy e Danny sentados na ponta do ancoradouro sob o sol da tarde (uma espécie de uma nova família para Danny, talvez até com um padrasto também Iluminado). No livro Jack não usa um machado e sim o taco que no filme a Wendy o ataca (Kubrick quis dar um ar mais possuído e demoníaco com o uso de um machado). No livro Jack quase mata a Wendy de pancadas com o taco, enquanto na luta ela consegue cravar a faca em suas costelas e fugir. No filme o Jack nunca encostou na Wendy. No final do livro o Jack morre na explosão do hotel causado pela caldeira, e não congelado como no filme. Acredito que se deva a isso às principais revoltas de King em relação ao longa de Kubrick. Eu adoro a versão do final do Kubrick, acho que encaixou perfeitamente com toda a proposta que ele criou com seu filme desde o início, que era justamente um thriller mais assustador, mais perturbador e, consequentemente, com mais suspense. Mas vou confessar que ainda prefiro o final do livro, por ser mais abrangente, mais detalhado e mais imersivo com o leitor (principalmente em relação à morte do Jack, que é muito melhor que no filme).

    O elenco de "O Iluminado" é monstruosamente perfeito!
    Temos um Jack Nicholson completamente no auge da sua carreira e aqui ele entrega um dos seus maiores personagens, uma de suas maiores atuações na vida. O psicopata mais louco e mais demente da história do cinema. Conforme o filme vai decorrendo, a personalidade de Jack cada vez mais vai sendo levada ao limite, vai ficando cada vez mais errática e descontrolada, a sua insanidade e seu alter ego culmina no pai de família tentando matar sua própria esposa e filho. Uma atuação impecável, ímpar, perfeita de Jack Nicholson, mas que exigiu um preparo não muito tradicional. Para entrar no clima certo de frustração e raiva que o personagem pedia, Nicholson se alimentou apenas de sanduíches de queijo por duas semanas, algo que ele sempre odiou desde criança.

    Shelley Duvall (a Wendy, que no livro era loira e no filme é morena) está perfeita, magnânima, com uma interpretação muito segura, muito arrojada, muito convincente, muito gostosa, que nos confrontava com uma atuação poética, teatral, singela, primorosa, que me encantou em 100% das suas cenas. Shelley Duvall sofreu muito nas gravações do longa, onde incluíram ataques de fúria de Kubrick e inúmeros takes da mesma cena com ela até que se aplacasse o desejo pela perfeição do diretor (Kubrick chegou a rodar uma mesma cena com a atriz 127 vezes). Como resultado dos constantes maus tratos do diretor, a atriz teve várias crises nervosas, que resultaram em exaustão física e mental, doenças e até em perda de cabelo. A atriz disse que ficou muito feliz com o seu resultado final na obra de Kubrick, mas que jamais voltaria a fazer algo parecido. Realmente Stanley Kubrick era um aficionado pela perfeição em suas obras.
    Absurdamente incrível a atuação do pequenino Danny Lloyd! O Danny do filme alterava o seu comportamento entre o Danny e o Tony em milésimos de segundos. Quando ele falava sendo a personalidade do Tony ele sequer mexia a boca para sair as palavras - completamente incrível para um garoto com apenas 5 anos. Temos aquela cena emblemática que ele imita uma voz diabólica (no maior estilo O Exorcista) ao proferir constantemente a palavra "REDRUM" - que é a mensagem subliminar mais marcante no filme (e no livro), principalmente quando ele escreve na porta do quarto, que seria "Murder" (assassinato) ao contrário. Kubrick foi extremamente cauteloso sempre que o ator mirim Danny Lloyd entrava em cena. Por ser muito novo, o diretor queria poupar a criança de testemunhar as cenas mais assustadoras sendo feitas, tanto que o pequeno sequer sabia que estava num filme de terror. Danny Lloyd só foi descobrir sobre o que "O Iluminado" se tratava muitos anos depois, e só viu a versão sem cortes do filme aos 17 anos.
    Scatman Crothers como o icônico Dick Hallorann está bem, consegue se destacar bem em suas cenas, apesar de ser pouco aproveitado e ter pouco tempo de tela, principalmente pelo seu final, que eu diria ser um tanto quanto curioso e questionável.

    A direção do mestre Kubrick é genial, pois realmente ele era um perfeccionista em cena, e sempre nos entregava takes completamente perfeitos e engenhosos. A trilha sonora é completamente estridente, inquietante, perturbadora, tenebrosa, literalmente nos incomodava sempre que ela entrava em um tom mais médio e ia se elevando com os acontecimentos que estavam por vir - a trilha sonora é o coração da obra! A fotografia é outra obra de arte poética, pois era impossível não se impressionar com uma fotografia que contrastava entre às maravilhas luxuosas do Overlook com um ambiente sombrio, soturno e macabro. A direção de arte é impecável, com cenários belíssimos e totalmente inserido dentro dos padrões da época. Por falar em padrões da época, temos figurinos perfeitos e harmoniosos.

    Kubrick entregou uma obra completamente influente: pois tenho certeza que o Danny foi uma base de inspiração para vários outros filmes que contava com uma criança que tinha contatos com o sobrenatural, pra citar um - "O Sexto Sentido". A cena em que Danny anda em seu triciclo pelos corredores do hotel claramente me remeteu ao desenho clássico - "O Fantástico Mundo de Bobby" - de 1990.

    King se inspirou em sua própria experiência no Stanley Hotel para criar o Overlook. Em 1974, King e sua esposa se hospedaram no local, que fica no meio das Montanhas Rochosas (assim como o Overlook). O Stanley Hotel - localizado em uma propriedade de 1909, na cidade de Estes Park, no Colorado, EUA - conta com 140 quartos, e hoje é ponto turístico para fãs de "O Iluminado", que viajam de lugares do mundo inteiro para ter uma experiência 'real' do filme e do livro (um dia ainda viajarei para lá).

    No livro 'O Iluminado' o apartamento onde aconteceu o contato com a mulher na banheira era o de número 217. Atendendo a um pedido do dono do hotel onde "O Iluminado" foi filmado, que temia que as pessoas não alugassem o quarto 217 por causa do filme, o número do apartamento foi alterado para 237, inexistente no hotel em que o filme fora rodado.

    Ainda temos aquela cena emblemática e completamente icônica, quando Jack quebra a porta do banheiro com o machado para pegar a Wendy e profere a frase - "Heeeere's Johnny!"
    Esta fala foi um total improviso de Jack Nicholson, e trata-se da chamada do programa de auditório 'The Tonight Show Starring Johnny Carson', cuja a famosa fala era de Ed McMahon, que fez muito sucesso em solo americano nos anos 60. Por ser inglês e nunca ter visto o programa, Kubrick por pouco não usou a cena, mas Nicholson o convenceu a deixá-la na versão final. Um slogan macabro que funcionou muito bem.

    E como um filme da estrutura, da magnitude e da proporção de "O Iluminado" pode ter sido completamente esnobado pela academia na época? Esta é uma pergunta que nunca existirá respostas, pois se Kubrick não venceu o Oscar por "Dr. Fantástico", "2001: Uma Odisseia no Espaço" e "Laranja Mecânica", não seria por um filme de horror que ele levaria a estatueta, pois a academia sempre teve um total desprezo e preconceito com esta categoria - revoltante!

    Sem dúvidas "O Iluminado" é um dois maiores e melhores filmes do gênero de todos os tempos. Certamente é uma das obras mais importante, mais influente e mais respeitada da filmografia do Kubrick. Pra mim entra no top 3 do diretor.
    "O Iluminado" é a obra-prima do terror, o épico do suspense e a obra de arte do horror. Ler o livro e assistir ao filme foi uma das melhores coisas que eu já fiz em toda a minha vida.

    Dedico essa parte final para a minha amiga de Filmow - Karolinne - que foi a grande responsável em me influenciar a ler o livro. Certamente se não fosse pelo seu belo comentário, eu não teria despertado a vontade de conferir esta obra-prima do Stephen King. Obrigado Karol! Obrigado Stanley Kubrick! Obrigado Stephen King! [01/09/2022]
    ⭐⭐⭐⭐⭐
    TricolorSoberano
    TricolorSoberano

    3 críticas Seguir usuário

    4,5
    Enviada em 20 de julho de 2022
    O filme é muito bem construído, com muito terror, drama e principalmente a história, o suspense que esse filme tem é de roer as unhas, a construção nas cenas de terror/suspense é muito bem feita, uma música inteira para cada tipo de situação do filme, certamente um dos melhores filmes dos anos 80.
    Raulffonseca
    Raulffonseca

    2 críticas Seguir usuário

    4,5
    Enviada em 18 de julho de 2022
    Ótimo filme, mas ainda não supera o livro!
    Atuações ipecaveis, uma excelente atuação de todos os atores envolvidos..
    Muito bom.
    Isabela Larson
    Isabela Larson

    23 críticas Seguir usuário

    5,0
    Enviada em 6 de julho de 2022
    Um dos meus filmes preferidos. Saudades quando passava na tv aberta.
    Fernando David Remus Hamester
    Fernando David Remus Hamester

    2 críticas Seguir usuário

    2,0
    Enviada em 13 de junho de 2022
    Stanley Kubric decepciona como sempre... esse roteiro escroto não tem nada a ver com o livro. As cenas são desconexas e não se entende quase nada. O filme é de 1980. Precisa de um remake com o roteiro de acordo com o livro. Não gostei dessa versão medíocre.
    Joás Oliveira
    Joás Oliveira

    8 críticas Seguir usuário

    0,5
    Enviada em 15 de fevereiro de 2022
    Um dos piores filmes de todos os tempos, não há absolutamente nada minimamente decente nessas 2 horas
    Miguel 08
    Miguel 08

    3 críticas Seguir usuário

    1,0
    Enviada em 7 de janeiro de 2022
    Dentre os filmes mais famosinhos e aclamados este é um dos piores que eu já assisti. Historia sem sentido, zero terror com uma pitada bem fraca de suspense. Eu sinceramente nunca vou conseguir compreender como este filme é considerado por muitos como um dos melhores filmes de terror de todos os tempos
    Lucikelvia
    Lucikelvia

    8 críticas Seguir usuário

    0,5
    Enviada em 31 de outubro de 2021
    Sinceramente eu esperava muito mais desse filme, achei muito ruim mesmo, eu queria muito gostar dele, mas realmente não deu.
    Dennys R
    Dennys R

    36 seguidores 198 críticas Seguir usuário

    4,0
    Enviada em 17 de agosto de 2021
    Demorei muito para assistir esse filme, é impressionante como a 40 anos conseguiam fazer trabalhos melhores do que muitos que se vê hoje em dia, além do roteiro, outro grande destaque foi a atuação de Jack Nicholson.
    anônimo
    Um visitante
    3,0
    Enviada em 18 de julho de 2021
    Por algum motivo, sempre desviei deste filme, a verdade é que nunca me despertou tanto interesse assim, já vi alguns vídeos sobre e assisti uns trechos aleatórios por acaso ao longo dos anos, mas nunca tive realmente vontade de vê-lo por inteiro. E então saiu o trailer de Doutor Sono e minha curiosidade em ver este tão falado suspense dos anos 80 dirigido pelo icônico Stanley Kubrick estava renovada. O que posso afirmar de antemão é o óbvio : Se trata de um bom filme de suspense magistralmente conduzido por Kubrick e que conta com uma atuação centrada muito forte e dedicada de Jack Nicholson. É um longa de várias camadas, com muitos simbolismos políticos, sociais, e psicológicos no seu subtexto, então é bem compreensível o fascínio de muitas pessoas por este thriller barroco. Existem inclusive alguns documentários que dissecam com maior profundidade as "charadas visuais" que Kubrick plantou aqui. Então à mim não cabe fazer nenhuma análise super aprofundada sobre as várias temáticas abordadas no filme, e sim um "julgamento", por assim dizer, do trabalho aqui entregue na perspectiva cinematográfica. Dito isso, o fato é que se você for ver O Iluminado meramente como um suspense qualquer sobre a descida de um homem até a loucura, com alguns elementos sobrenaturais no pacote, certamente irá apreciar muito. Agora, como adaptação de uma obra de Stephen King, deixa bastante a desejar, não só diluindo quase que por completo toda a essência do material de origem, como também mudando drasticamente a personalidade dos personagens e alterando a conclusão da estória, uma opção no mínimo desrespeitosa para com o autor que proporcionou a existência do filme, para começo de conversa. E que fique também registrado o inacreditável cinismo de Kubrick, que se utilizou do nome do escritor para promover o filme, mas alterou completamente o material alheio sem dar nenhuma satisfação maior, apenas dizendo que pegou "Um livro de merda e o transformou num grande filme", quando na verdade o que fez foi se aproveitar da obra de outra pessoa para promover suas visões...Mas enfim, falando de forma bem simples, o que o argumento deste filme faz é pegar o miolo de uma estória já existente e usá-la como ponto de partida para montar uma grande alegoria social por baixo da superfície de thriller psicológico. O diretor aqui faz o que já havia realizado com mais sucesso em trabalhos anteriores, que é imprimir suas peculiares concepções intelectuais em uma obra aparentemente convencional em sua estrutura. E sendo mestre das rimas e ritmos visuais, o realizador entrega mais um trabalho sólido na direção, mas que acaba se sabotando pela sua própria mão pesada, com muito do suspense que é bem construído durante toda projeção acabando pelo cansaço ao final, num anti-clímax decepcionante. E embora Jack Nicholson esteja em toda sua glória insana aqui, seus tiques também vão ficando tateantes, e o personagem previsivelmente escrito não ajuda, parecendo, junto com sua coestrela Shirley Duvall um tanto forçado na tentativa de manter o terror constante. O filme teve uma duração inicial de 2h e 20 minutos, e foi editado para pouco mais de 1h e 50, mas ainda sim, a montagem espaçada não melhora as cenas desnecessariamente longas e enfadonhas. Óbvio que a pretensão era ser inquietante e provocativo, mas o resultado acaba soando um tanto indulgente demais, em uma coleção de acontecimentos quase aleatórios e com mensagens para todos os lados, não dizendo a que veio, o que quer ser. Na verdade, acho que nem Kubrick sabia direito o que realmente queria passar aqui, derivando em tamanha demasia do material de origem por pura arrogância que acabou por deixar o próprio filme tão vazio que precisou preenchê-lo de qualquer forma. O que temos por último é uma espécie de "Besta ininteligível"...Mas apesar de todos os problemas, os talentos em sintonia do diretor e ator protagonista ainda garantem um bom entretenimento sendo um filme eficiente tanto para os cinéfilos mais corriqueiros atrás de um bom suspense sobrenatural, quanto para os mais hardcore, pelas várias temáticas sociais/políticas que Kubrick joga. Obra-prima? Longe disso. Ruim? Também óbvio que não. Superestimado? Com certeza. O Iluminado é uma concha de retalhos, uma bagunça organizada interessante de se observar, senão completamente vazia de prazer. Felizmente, Doutor Sono conseguiu arrumar a zorra que esta brincadeira macabra fez na obra de King. Me julguem, mas o filme de Mike Flanagan deixa essa confusão no chinelo.
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