Volver é um drama familiar que gira em torno de Raimunda, sua filha Paula, sua irmã Sole e o fantasma de sua mãe, que ressurge para resolver questões familiares passadas. O drama possui personagens femininas cativantes, como a protagonista Raimunda, que é uma mulher que carrega mágoas do passado e tem um amor imenso pela tia que a criou. Ela tem uma filha adolescente, Paula, e é casada com Paco, um fracassado. Raimunda é quem sustenta a casa, é mãe e filha dedicada e carrega em si os diversos papéis sociais incumbidos às mulheres. É a figura central e de poder na família. Paula é uma adolescente normal, que ganha destaque por ter reagido corajosamente a um assédio partido de seu pai (que, na verdade, é seu padrasto) e acaba por matá-lo. A jovem recorre à mãe que, num gesto afetuoso e digno de emoção, acolhe a filha e resolve “sumir” com o corpo de Paco. Situação repetida em filmes almodovarianos, a morte de um personagem não se torna um fato a ser dissecado. Paco morre e não há luto; há apenas uma preocupação em dar uma cova digna ao abusador.
Mas o cerne da história não é o assassinato em si e sim a relação mal resolvida de Raimunda com a mãe, Irene, morta em um incêndio. Quando o fantasma de Irene resolve aparecer para resolver dívidas maternais com Raimunda, o filme toma outro ritmo, fazendo o espectador ansiar pelo acerto de contas entre as duas.
Como a história se divide em vários núcleos, temos uma dinâmica gostosa de acompanhar. Vale destacar o sempre presente diálogo entre as indumentárias das personagens e os cenários; uma brilhante Penélope Cruz muito bem explorada, não só pelo drama da personagem, mas também por sua sensualidade orgânica; Carmem Maura, com seu olhar expressivo e Lola Dueñas nos convencendo com seu medo da morte.
Drama familiar é uma temática recorrente no cinema e Almodóvar o faz com muita sensibilidade, profundidade e emoção. É impossível não torcer pelas personagens e se emocionar com o desfecho de Volver.