Comparar as duas versões cinematográficas desse filme gera um considerável desconforto em quem foi criança nas décadas de setenta ou oitenta. Para esses, o que fica mais evidente é que, apesar da alta qualidade dos efeitos especiais empregados no filme, o carisma do seu personagem principal se perdeu, simplesmente se foi. Ao interpretar Willy Wonka em 1971, Gene Wilder encarnou um homem genial e obcecado por seu sonho, alucinado com suas invenções e portador de uma filosofia nada convencional. Em nenhum momento aparentou ser um indivíduo fraco e problemático. Ao contrário, a magia que envolvia o personagem praticamente se baseava em seu poder de compreensão do mundo e das pessoas. A inteligência dos diálogos, cheios de ironia e sarcasmo, a aparente indiferença com que tratava seus convidados e a loucura com que parecia gerir sua fábrica, características que, muito antes de um problema emocional, descreviam a sua forma de interagir com o mundo e o meio com o qual escolheu para "testar" os candidatos e seus pais. Enfim, ele do começo ao fim dominava a situação. O personagem criado por Tim Burton parece mais com uma aberração psicodélica, um adulto infantilizado a moda Michael Jackson do que com um empresário genial, e não convence, apesar de muitas vezes fazer rir (tragicômico?). Os diálogos provaram não ser o forte do roteiro, deixando o personagem do "Sr. Wonka" ainda mais vazio, quase patético. Acredito que analisar esse filme, sem compará-lo com o anterior, possa até resultar em uma boa impressão, principalmente considerando o desempenho dos demais atores na primeira parte do filme, antes da entrada na fábrica. E por falar da entrada na fábrica, os bonecos em chamas e aquela musiquinha enjoativa foram de dar nos nervos, um verdadeiro anticlímax. Se essa era mesmo a idéia, ela cumpriu bem demais a missão. Um verdadeiro tiro no pé. Mas não dá para dizer que o filme é ruim, realmente não é, mas que deixou a desejar, deixou.