O que mais me fascinou em As Horas é como os detalhes são meticulosamente cuidados por Stephen Daldry, um diretor metódicamente fantástico, cujo trabalho admiro desde Billy Elliot. Apesar de poucos filmes em sua filmografia, Daldry se consagra no universo cinematográfico como um dos maiores diretores do cinema contemporâneo. E As Horas, em minha completa opinião, é seu melhor filme. Protagonizado por um elenco de alta escala, a história avança os mais diferentes ângulos, observa cada personagem de uma maneira arrebatadora. Fiquei sem palavras diante dessa magnânima obra-prima.
No ano de 2002, outro filme semelhante á As Horas foi lançado. De Almodóvar, Fale com Ela me comoveu substancialmente. Ambos tratam de histórias que acompanham um determinado número de personagens e o desenvolvimento de suas vidas conforme os acontecimentos. Assim ocorre com As Horas. Três mulheres distintas, de diferentes épocas, relacionadas ao clássico romance inglês de Virginia Woolf (também personagem no filme) Mrs. Dalloway. Anos 20. Virginia Woolf, escritora depressiva e melancólica, descontente com sua doença, escreve Mrs. Dalloway. 1951. Laura Brown, dona de casa indecisa sobre sua vida e a família, lê Mrs. Dalloway. Tempos atuais. Clarissa Vaughan, editora de livros conceituada, cuida de um escritor renomado, também seu ex-amante com AIDS. Clarrisa Vaughan vive Mrs. Dalloway. Há uma grande relação entre essas três mulheres. Cada momento reflete, suas vidas são um espelho aberto. Ambas enfrentam as mesmas situações, de diferentes pontos de vista. É assim que Daldry conduz essa jornada espirituosa e emocionante.
A cada novo passo, algo é interrompido. Algo é inventado. Algo acontece. Algo desaparece. A trama de As Horas não gira em torno de apenas um núcleo, mas sim, de núcleos. A trilha sonora, por Philip Glass, autêntica e maravilhosa, dá vida a As Horas. O elenco, indescritível. É claro, em destaque as performances totalmente desoladoras de Nicole Kidman (vencedora do Oscar por uma performance absolutamente impecável), Meryl Streep (atuando fielmente no papel de Clarissa Vaughan) e Julianne Moore (um destaque insubstituível). As três atuam formidavelmente no conflito da trama do filme. O roteiro de David Hare, profundo e marcante. A adaptação do romance de Michael Cunningham (vencedor do Prêmio Pulitzer por este trabalho) é ótima e perfeccionista, realmente, uma obra original e compulsivamente complexa. O filme mantém a fidelidade á obra de Cunningham, e constrói uma memorável película, quão simbólica. Um retrato nunca visto, profundo, que embarca na inspiração dramática de Bergman. As Horas é uma obra-prima belíssima. Um retrato poético e realista da ação do tempo e do ciclo da vida, recheada de uma rara sensibilidade, e uma notória importância cinematográfica.