A primeira cena já denuncia o que está por vir. Literalmente às pressas, com uma câmera que corre já instaurando a tensão que o filme lhe proporcionará. Brincadeiras, jogos e aventuras inacabadas dos dois irmãos já deixam questionamentos um tanto pertinentes a quem se inicia neste thriller austríaco.
Em uma casa de campo, dois irmãos que esperam o retorno de sua mãe. Após uma cirurgia plástica, ela volta à casa cheia de bandagens, o que não possibilita a visão de seu rosto. Os irmãos começam a desconfiar que as atitudes da mulher não correspondem à sua mãe, e suspeitam que exista algo muito errado por ali.
É neste momento que o filme te engana. O ritmo desacelera, os irmãos são colocados em posição de vítimas e você está certo de que aquela mulher pode realmente não ser a mãe deles. Mas até aí, nada de mais.
Uma fotografia bonita em uma casa de campo moderna. Uns exageros de design de som que podem passar batido se você não dedicar especial atenção aos detalhes. Uma câmera por vezes incômoda por suas movimentação e figurinos repetidos do começo ao fim. Não é de grande destaque qualquer mudança de perspectiva na direção de arte ou na cinematografia. Tudo se encaixa, sem muitas mensagens nas entrelinhas. Porque não é este o foco do filme, talvez a ideia seja não criar distrações.
Em mais ou menos 1 hora de filme acontece o grande ponto de virada, tudo se torna confuso e você já não é capaz de prever onde essa história irá parar. Os irmãos viram o jogo e dominam a “falsa mãe”, amarrando-a à cama. Em busca de respostas sobre sua “verdadeira mãe”, os meninos iniciam uma série de torturas dignas do que já vimos em “O Albergue”, mas com um requinte de criatividade infantil.
A partir deste momento que o filme começa a surpreender e você entende o motivo da Áustria tê-lo escolhido para a indicação do Oscar do Melhor Filme Estrangeiro, além de outras 24 indicações e 17 prêmios em festivais ao redor do mundo.
É um belo terror, um drama chocante e um suspense de tirar o fôlego se você persistir até o começo do segundo ato. O final é simplesmente conclusivo. Ainda que tenhamos inúmeras referências, não é uma possibilidade calculada. Mas é uma explicação à qual você diz: Agora tudo faz sentido. A melhor escolha é que a obra não se utiliza do clássico recurso de flashbacks que nos mostra como tudo era claro desde o princípio, ele nos permite pensar por conta própria e o resultando é clarificante.
Algumas perguntas permanecem ao final deste thriller, mas perguntas que não fazem diferença alguma depois do que você acabou de descobrir. Sobre recomendar este filme, é uma belíssima obra, mas esteja com o estômago preparado.
H.K.