Esteticamente, a direção de Iñárritu é excelente, como de costume, excelentes enquadramentos, ótimos planos abertos, gerais e sequências longas. A montagem faz um bom trabalho, equilibrando as diferentes tramas ao redor do mundo, sem causar nenhuma confusão ao público, aliada uma correta utilização da câmera tremida, os takes mais "energéticos" são enervantes e tensos na medida, ainda na parte visual, também é necessário destacar, a ótima direção de arte e a fotografia soberba, os desertos de Marrocos, as cores vivas do Japão, as tonalidades cromáticas nas festividades mexicanas, o filme é belíssimo. Narrativamente, Iñárritu ainda se destaca, mas sem todo o mérito anterior, se o ritmo do filme é muito bom durante o 1º e quase todo o 2º ato, prestes ao inicio do 3, a obra perde boa parte do vigor, passando a impressão que Iñárritu, nada mais tinha para contar, e se mantém assim até o final, mesmo com um belo encerramento,
O roteiro é bem inovador e digno de nota ainda que com falhas, a bala vinda do rifle de um garoto marroquino, é o estopim para o início de uma trama que interliga diversas nacionalidades e critica o preconceito em sua totalidade, as diversas classes sociais, o terrorismo, o ódio ao estrangeiro, como as diversas linguagens criam diversas culturas, mas também servem para nos afastar, para nos prendermos em uma "bolha", para restringir nosso conhecimento em relação ao próximo e etc, todas essas críticas cabem no filme, e são apresentadas de forma orgânica, sem a necessidade de exposição excessiva.
Mas, como citado anteriormente, o roteiro não é plenamente acertivo, pois, as duas tramas principais funcionam bem (a do casal americano e da família marroquina), os acontecimentos de uma interfere diretamente na outra, gerando uma sensação de unidade, a mexicana, apesar de um tanto dispersa, funciona como uma das consequências de tudo, já a japonesa é bem problemática, pois é deslocada ao extremo, por focar em excesso na personagem Chieko, em uma trama que envolve: Vazio existencial, alto-aceitação e alienação, e apesar da boa performance de Rinko Kikuchi, o arco é bem disperso da trama principal, enquanto Kôji Yakusho, justamente o ponto de ligação entre o Japão e os outros países, tem uma participação desnecessariamente reduzida.
Referente as atuações, o elenco é mais um ponto positivo, Cate Blanchett e Brad Pitt são atores de renome, e aqui mais uma vez, apresentam boas atuações, compondo um casal crível que apesar dos problemas passados, se reconectam novamente perante a situação extrema, Adriana Barraza, apresentando toda a preocupação e medo necessários para com seus familiares tanto sanguíneos ou não, Gael García Bernal, a loucura e a imprudência, Boubker Ait El Caid, Said Tarchani, Mohamed Akhzam e etc, todos muito bons. A trilha sonora é excelente, uma leve composição, denunciando o tom reflexivo e melancólico da obra.
Babel é uma baita e necessária obra, possui problemas que a impedem de ser uma obra-prima ou um dos clássicos pós-anos 2000, mas é mais um acerto na carreira de Alejandro González Iñárritu.