Só o fato de mostrar violência e linguagem obscena dentro de um blockbuster que faz parte de uma franquia milionária já colocaria Deadpool em destaque. Mas este longa do diretor Tim Miller (de Scott Pillgrim) consegue ir alem, se mostrando uma das mais inusitadas adaptações de quadrinhos dos últimos anos, junto de Os Guardiões da Galáxia. Um dos principais fatores disso é a utilização do humor dentro da trama e de como ele consegue realmente conduzir certos momentos sem soar falso ou apelativo.
Isso já começa por funcionar pela personalidade do próprio personagem: Deadpool / Wade Wilson é uma figura que tem lá seus motivos para ser tão extrovertido, demonstrando um tom de deboche que ilustra tudo o que faz. E isso vai ser ponto positivo para Ryan Reynolds, que depois de tantos filmes bobos e de ter estrelado o fracassado filme do Lanterna Verde (sim, nos trailers já vimos a piadinha zuando isso), tem agora seu melhor momento em Hollywood, onde consegue dar um show de atuação, seja pelo humor que consegue expressar de maneira incrivelmente natural, assim como seriedade – os momentos que passa com sua namorada Vanessa (interpretada pela brasileira e boa atriz Morena Baccarin) tem a sensibilidade suficiente para você entender o sentimento que rola entre os dois – e esse “sensibilidade” ficará expresso de uma forma que só a narrativa debochada de Deadpool consegue nos apresentar (leia-se como: cena com o herói do filme deixando sua amada “domina-lo” na cama...).
É verdade que o filme perde pontos pela trama com clichês – principalmente com a questão da ameaça contra a amada do herói – mas os recupera pela maneira que a história é conduzida: através de metalinguagem (sim, Deadpool fala de outros filmes da Marvel como se fossem... filmes e não histórias que acontecem em um mesmo “mundo”), Miller dá graça e dinâmica ao filme – só pela seqüência de títulos iniciais (que na verdade não é uma seqüência de títulos) você já terá noção de como a zueira do filme é grande – a piada sobre a confusão nas cronologias dos filmes dos X-Men é antológica para qualquer nerd.
Deadpool conta a história de Wade Wilson, ex militar norte-americano que descobre possuir um câncer raríssimo, que o matará em breve, adiando seus planos de viver para sempre com sua amada Vanessa. A solução surge de uma misteriosa organização que quer colocar Wade em uma experiência ativando seus genes X, que o livrariam da doença e o fariam ganhar habilidades especiais; ao aceitar participar do experimento, Wade consegue se livrar do câncer, porém, fica com uma aparência horrível, o que o faz largar de sua namorada. Notando que o maldoso cientista Francis, conhecido como Ajax (Ed Skrein), é membro desta organização perigosa, Wade assume a identidade de Deadpool e passa a usar suas novas habilidades para localizar o cientista e proteger Vanessa de represálias dos comparsas de Ajax.
Como notam, a historia é das mais simples e pode não empolgar dependendo do olhar critico de cada um. Porém a fluência no ritmo torna Deadpool em filme empolgante mesmo. Seja pelas ótimas coreografias de lutas e cenas de tiroteios ou pelos efeitos de maquiagem realistas e violentos, o longa da Fox/Marvel mergulha seus personagens em uma trama comum mas sem usar os clichês para ajudar a conta-la, já o personagem-titulo se envolve em situações que dificilmente veríamos o Homem-de-Ferro ou Capitão America lhe dando – basta dizer que o próprio filme justifica que não há aparição de membros “mais importantes” dos X-Men porque o orçamento não é muito grande – temos a participação apenas de Colossus (Andre Tricoteux) e Ellie Phimister (Brianna Hildebrand), como bons coadjuvantes para Deadpool. A produção realmente perde forças pelo vilão Ajax, que não demonstra uma boa desenvoltura de personalidades e motivações (ainda mais com a atuação fraca de Ed Skrein), problema que Homem-Formiga enfrentou também.
Mas com um visual extremamente bem fotografado por uma fotografia em um tom mais escuro que qualquer outro filme do universo Marvel, esta é uma produção que se sobressai por concentrar sua força em estilosos recursos visuais, como as captações de cenas em câmera lenta no “estilo Matrix”, onde a câmera mostra os momentos violentos com precisão – a perseguição inicial de carros é ótima e engraçada; momentos estes e outros bem embalados por acordes de rap e hip-hop na trilha-sonora, que coloca um eficiente ritmo de vídeo-clipe em alguns pontos da narrativa.
Tendo a frente um ator inspiradíssimo como Ryan Reynolds, Deadpool já tem seu lugar garantido entre os filmes de super-herói e merece aplausos por conseguir mostrar sua ousadia de linguagem e violência em uma produção destinada ao grande público. Vai além de um filme engraçadinho com personagens com poderes, é um filme que tem um coração por trás, que nem mesmo o humor exagerado (mas funcional) do personagem principal deixa esconder essa boa intenção dos realizadores. Por mais filmes de herói tão caras de pau quanto o Deadpool!
Até mesmo a cena pós créditos promete boas risadas...