It - A Coisa (2017), dirigido por Andy Muschietti, é uma adaptação cinematográfica da obra homônima de Stephen King, que se destaca por trazer à vida o aterrorizante palhaço Pennywise, interpretado por Bill Skarsgård. O filme, que se passa na década de 1980, segue um grupo de crianças, conhecidos como “Os Perdedores”, que se unem para enfrentar suas medos e derrotar a entidade maligna que assola a cidade de Derry, Maine. Apesar do sucesso comercial e da aclamação em relação à atuação de Skarsgård, It - A Coisa enfrenta críticas significativas por suas falhas na adaptação do rico e complexo material de origem.
Um dos principais destaques do filme é, sem dúvida, a performance de Bill Skarsgård como Pennywise. Sua interpretação captura a essência do personagem como um ser aterrorizante e carismático, combinando um olhar penetrante e uma risada que se torna um símbolo do medo. Skarsgård consegue infundir uma aura de imprevisibilidade e perigo em cada cena, fazendo com que o público sinta uma constante tensão ao longo do filme. A habilidade do ator em alternar entre uma persona sedutora e uma figura monstruosa é um dos pontos altos da obra, consolidando Pennywise como um dos vilões mais memoráveis do gênero de terror contemporâneo.
Ademais, o filme é visualmente impressionante, com uma cinematografia que captura a nostalgia dos anos 80 e a atmosfera sombria que permeia a cidade de Derry. A direção de arte é meticulosa, retratando de maneira eficaz tanto a inocência da infância quanto a obscuridade dos medos que assombram os jovens personagens. Os efeitos especiais e o design de produção são bem executados, criando imagens perturbadoras que ajudam a intensificar o horror da narrativa.
No entanto, apesar de suas qualidades visuais e da performance marcante de Skarsgård, It - A Coisa é criticado por sua abordagem superficial ao material original. A obra de Stephen King é notoriamente complexa, explorando temas profundos como trauma, amizade e a luta entre o bem e o mal, bem como a perda da inocência. O livro se aprofunda na psicologia dos personagens, permitindo ao leitor compreender seus medos e motivações de maneira mais significativa. Em contraste, o filme se concentra fortemente nos elementos de terror, muitas vezes à custa do desenvolvimento emocional e das nuances dos personagens. Embora a amizade entre os membros “Os Perdedores” seja um ponto central, o filme não oferece a mesma profundidade que a obra literária, resultando em um enredo que, por vezes, parece apressado e superficial.
Outra crítica relevante diz respeito à estrutura narrativa do filme. Embora o enredo principal de confrontar Pennywise seja envolvente, a narrativa padece de uma certa fragmentação, com algumas cenas que se sentem desconexas ou apressadas. A transição entre os momentos de terror e as interações mais leves entre os personagens não é sempre fluida, criando um ritmo desigual que pode desviar a atenção do espectador. Enquanto os momentos de tensão são intensamente aterrorizantes, o desenvolvimento dos personagens muitas vezes é relegado a segundo plano, o que limita a capacidade do público de se conectar emocionalmente com eles.
Além disso, o filme toma decisões criativas que, embora possam ter funcionado no contexto cinematográfico, não se alinham com a profundidade do material de origem. Por exemplo, a representação de alguns dos medos pessoais dos personagens, embora impactante, é frequentemente tratada de maneira mais superficial do que na obra de King. Essa falta de exploração dos medos internos dos personagens faz com que algumas cenas, que deveriam ser profundamente emocionais, falhem em ressoar com a mesma intensidade que têm no livro.
Apesar dessas falhas, It - A Coisa obteve um sucesso comercial considerável, o que evidencia a forte conexão que o público moderno tem com histórias de terror que misturam nostalgia e medo. O filme conseguiu atrair tanto os fãs de longa data de Stephen King quanto novos espectadores, o que demonstra a força do marketing e da atração do gênero de terror. Entretanto, essa popularidade levanta questões sobre a responsabilidade dos cineastas em se manterem fiéis ao material de origem, especialmente em obras que são tão queridas e complexas como It.
Em conclusão, It - A Coisa (2017) é um filme que, embora tenha conseguido consolidar a figura de Pennywise como um ícone do terror contemporâneo, deixa a desejar em sua adaptação da obra-prima de Stephen King. A performance impressionante de Bill Skarsgård e a produção visualmente rica são inegáveis, mas a superficialidade do desenvolvimento dos personagens e a fragmentação da narrativa comprometem a profundidade emocional da história. A obra cinematográfica, portanto, serve como um lembrete de que a transição de um livro para a tela grande pode ser desafiadora, e que a essência de uma história rica e complexa não deve ser subestimada ou negligenciada em nome de efeitos visuais e sustos rápidos.