A Estrada (The Road) 2009
"A Estrada" é dirigido por John Hillcoat (diretor pouco conhecido que fez sua estreia em 2005, com o filme "A Proposta") e escrito por Joe Penhall (um roteirista que também é pouco conhecido, cujo seu último trabalho foi em "Rei dos Ladrões", de 2018), baseado no romance de 2006 de mesmo nome de Cormac McCarthy. O filme é estrelado por Viggo Mortensen e Kodi Smit-McPhee como pai e filho em mundo pós-apocalíptico que foi destruído há mais de 10 anos, mas ninguém sabe o que exatamente aconteceu. Como resultado, não há energia, vegetação ou comida. Milhões de pessoas morreram, devido aos incêndios, inundações ou queimadas que se seguiram ao cataclisma.
Sobre o livro:
Temos aqui uma obra que inicialmente parece ser muito interessante, pois a sinopse do livro vai te deixar muito curioso, principalmente se você gostar de temas como um mundo pós-apocalíptico. E realmente este é aquele típico livro que tem tudo para dar certo, pois a história parece ser muito boa, é uma temática que sempre me agrada, porém a forma como toda a história foi contada é simplesmente horrível.
Ao terminar o livro eu cheguei na conclusão que a história é desinteressante, é vaga, é rasa, não engrena, não te prende, parece que os personagens não avançam, parece que eles estão sempre andando em círculos. O tema fim do mundo poderia ter sido melhor explorado. O livro não possui capítulos, o que deixa a leitura ainda mais cansada. A falta de capítulos faz uma grande diferença na história que está sendo contada. Sem falar que a história acontece no meio do nada, pois não temos nenhuma localização, nenhuma noção de região, absolutamente nada mesmo.
A leitura não é boa, pelo contrário, é muito cansativa, monótona, enfadonha, desgastante e desinteressante. Os diálogos são vagos, sem sentido, pois chega a irritar o tanto de "Está Bem" que tem nas conversas entre o homem e o menino. A empatia com os personagens é zero, a química é zero, a nossa preocupação é zero. Em nenhum momento eu consegui me conectar com os personagens para assim poder sentir o peso daquele sofrimento, para que aquela história de fim do mundo realmente me abalasse. Definitivamente os personagens são todos desinteressantes.
O único momento em que eu fiquei abalado e incomodado durante toda a leitura...
Foi na parte onde o menino é o primeiro a encontrar um corpo de um bebê humano carbonizado e sem a cabeça sendo assado em uma fogueira. Ali me deu um nó na garganta e uma profunda tristeza. Mas também só ali, nem nos acontecimentos finais eu me senti impactado ou triste, que eu acredito ter sido o principal intuito.
"A estrada" foi um livro que me decepcionou muito, pois eu realmente achava que iria gostar da história, dos personagens, que ao final eu iria ficar impactado. Mas definitivamente nada disso aconteceu, pelo contrário, eu quase abandonei a leitura e fiquei aliviado quando o livro terminou.
Sobre o filme:
Temos aqui uma obra melancólica, fria, devastada, cinzenta, densa, triste, onde nos mostra todo sofrimento e desolação de uma sobrevivência em um mundo pós-apocalíptico. Este é um dos principais pontos na história, a construção da última fagulha de esperança, de fé, de luta, de poder sobreviver em meio a todo caos e acreditar em uma possível civilização. É nesse fio de esperança que o pai se apega ao proteger e defender seu filho de todos os perigos, de todas as ameaças, de todas as catástrofes naturais. Sem falar que eles ainda precisam evitar os confrontos com as gangues de humanos selvagens, que também estão vagando e querem transformá-los em escravos ou uma coisa muito pior.
"A Estrada" é uma adaptação quase 100% fiel ao livro, pois muitas coisas e muitas passagens que você encontra no filme está no livro. Os diálogos são muito fiéis, os cenários são muito fiéis, a execução das cenas também são muito fiéis. Acredito que a principal diferença é o fato do filme em si ser mais melodramático em relação ao livro. Pois no filme temos um olhar mais dramático, uma construção acerca de cada acontecimento mais dramática. Já o livro é mais cruel, mais pesado, mais sofrido, principalmente naquela cena em spoilers que eu citei acima e que não tem no filme (ainda bem). Os personagens do livro também me parece ser mais sofridos e menos dramáticos, principalmente a figura do garoto. Também achei muito interessante aquele contraponto no filme mostrando os acontecimentos do passado, envolvendo a esposa grávida, com os fatos do presente. Tudo sendo revivido em uma espécie de sonho (ou pesadelo).
O principal acerto do longa-metragem é nos evidenciar sobre a fé, sobre a esperança, sobre a sobrevivência. É nos relatar sobre um elo de confiança entre pai e filho, um laço de amizade verdadeira, uma construção de um verdadeiro amor. "A Estrada" é um filme que está inserido na devastação, na desolação, em todos os tipos de sofrimentos de um mundo pós-apocalíptico, mas por outro lado é também um filme que nos ensina e nos comove com uma história sobre amadurecimento, esperança, fé e sobre as profundas relações entre um pai e seu filho.
Sobre o elenco principal:
Viggo Mortensen ("Crimes do Futuro", de 2022) está muito bem ao representar a figura de um pai desolado, sofrido, desacreditado, mas que sempre mantém o amor e a esperança ao proteger seu filho de tudo e de todos.
Kodi Smit-McPhee ("Ataque dos Cães", de 2021) estava com apenas 12 anos na época das filmagens. Devo dizer que ele até representa bem o garotinho do livro, talvez um pouco mais chatinho, mas como um todo está até aceitável.
Charlize Theron ("Velozes & Furiosos 10", de 2023) traz a figura da esposa, que por sinal é uma figura bem enigmática e misteriosa. O diretor John Hillcoat quis expandir a sua personagem na história, tanto que ela tem um papel maior no filme do que no livro.
Sobre o elenco secundário:
Michael K. Williams (falecido em setembro de 2021) faz o ladrão que rouba o carrinho de suprimentos na praia. Por sinal outra cena completamente fiel ao livro.
Robert Duvall ("O Pálido Olho Azul", de 2022) faz Ely, um velho homem que aparece no caminho e que é ajudado pelo pai por insistência do filho. Robert Duvall está completamente irreconhecível.
Irreconhecível está também o Guy Pearce ("Mare of Easttown", de 2021), que faz um veterano pai de família ao final da história.
Molly Parker ("Pieces of a Woman", de 2021) é a esposa do veterano.
Tecnicamente o filme se destaca:
O principal destaque é a fotografia, que remonta todo aquele cenário depressivo, desolado, destruído, onde o sofrimento e a sobrevivência andavam de mãos dadas. A trilha sonora também se sobressai, com um instrumental estridente, penetrante e inquietante. A direção de arte é outro grande acerto, por construir os devastados cenários pós-apocalípticos.
"A Estrada" alcançou 76% no ranking Fresh do Rotten Tomatoes, baseado em 167 revisões, e também alcançou um escore de 64/100 no Metacritic, baseado em 32 revisões. Inicialmente a ideia da produtora era fazer uma campanha visando possíveis indicações ao Oscar. Apesar disso, o filme não foi indicado à nenhum prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Ainda assim o longa obteve uma indicação ao BAFTA 2010 na categoria de Melhor Fotografia, que por sinal achei muito justo, já que este é um dos principais destaques do filme.
Infelizmente o livro "A Estrada" é muito ruim, facilmente um dos piores livros que já li este ano (e o livro ganhou o Prêmio Pulitzer em 2006). Em pensar que Cormac McCarthy (falecido no mês passado, em 13 de junho) é o autor da obra literária que foi baseado o clássico "Onde os Fracos Não Têm Vez" (2007).
Por incrível que pareça e como um caso raríssimo, eu gostei mais do filme do que do livro, até pelo fato das atuações, cenários, trilha sonora e fotografia. Acredito que no audiovisual a obra funciona muito melhor do que no livro. [29/07/2023]