Quando comecei a escrever este comentário sobre o filme A Estrada, dirigido por John Hillcoat percebi que não lembrava o nome do personagem principal do filme interpretado brilhantemente por Vigo Mortensen. Aliás, não conseguia mesmo lembrar nem o nome do garoto interpretado por Kodi Smit McPhee e muito menos o nome da mulher na interpretação de Charlize Theron, do Velho (Robert Duvall) e do veterano (Guy Pearce). Por mais que eu tentasse lembrar não conseguia. Como não sou crítico de cinema profissional não vou fazendo anotações no decorrer do filme (será que eles fazem?). Mas enfim... Então fui procura na capinha do DVD o nome dos personagens e lá também não constava. Só consegui tirar de lá o nome dos atores. Pesquisei na internet e nada. Ninguém me informava o nome dos personagens desta história prá lá de pessimista. Blogs, críticos, etc... etc... Ninguém informava este dado importante. Como não li o livro do qual o roteirista se baseou para escrever esta obra também não tinha este dado. Mas então me dei conta que esta é uma história da condição humana e das consequências dos atos de todos nós como seres humanos viventes neste planeta azul. Assim, é evidente que os personagens não possuem nomes próprios porque eles representam cada um de nos: homens, mulheres, crianças, pretos, brancos. Todos estão, de alguma forma, representados neste drama de desesperança. Só agora escrevendo estas linhas é que percebi (a inexistência de nome dos personagens) a verdadeira amplitude do recado e da mensagem do filme. Sim, porque todo filme tem uma mensagem ou uma moral a ser divulgada (os filmes bons, evidentemente). Alguns filmes são puro entretenimento e não se preocupam (e nem deveriam) se preocupar com estas questões. Outros nem se quer merecem qualquer comentário.
Para definir o personagem principal deste filme (“o homem bom”) poderíamos usar uma palavra: Teimosia. Ou talvez duas: Teimosia e sobrevivência. Mas teimosia se aplica melhor visto que ele lutava, não por uma sobrevivência já que não tinha perspectiva de futuro, mas por pura teimosia de continuar para o Sul e quem sabe, muito remotamente, talvez encontrar algo que valesse a pena continuar a viver. Talvez esta teimosia em manter-se vivo e na estrada fosse para proteger o filho (“o garoto bom), mas nem este estava mais disposto a viver nesta miséria e com o medo de ser devorado pelo canibalismo reinante nestes tempos funestos. Assim, porque lutava e teimava em viver este homem? Fé ele não tinha... Esperanças raríssimas... Sobrevivência da espécie humana? Talvez. Mas qual o motivo de lutar por uma vivência completamente animalesca sem nenhuma gota de racionalidade, civilidade e humanismo? Instinto poderíamos supor. Mas o homem viveu por instinto na era das cavernas e evoluiu. Será que o “Homem Bom” tinha, lá no fundo da sua alma, razões para acreditar que superaríamos esta hecatombe e surgiríamos novamente como seres pensantes? Quero crer que sim, caso contrário toda a luta seria inútil e morrer a única solução.
A mulher não teve falsas esperanças e saiu porta a fora ao encontro da morte deixando para trás seu filho e marido. Pela estrada só encontravam destroços, fome, frio e morte. Muitos encontraram conforto no suicídio e outros devorados pela fome de seus semelhantes. Interessante notar que o “homem bom” tinha duas balas no revólver e estas representavam muito mais do que uma simples defesa, a certeza de poderem utilizá-las para encontrar a mãe (desejo explícito do garoto) e a segurança de uma morte rápida (desejo do homem). Pela estrada outros personagens igualmente desesperançosos vão surgindo e a certeza de que a raça humana extinguiu-se ou devorou-se. Num cenário frio, cinza de árvores desfolhadas ao chão chorar talvez seja a única maneira de pedir desculpas pela própria desgraça e entender que, apesar das lembranças em cores, o futuro é sombrio. A única certeza que tive ao ver este filme é que preciso ler o livro e entender melhor toda esta desesperança, pessimismo e encontrar alguma razão para tudo isso. Talvez um alerta. Mais um alerta neste momento em que Hollywood se volta para filmes apocalípticos. Que possamos tirar alguma lição de tudo isso e não fiquemos depois a sonhar colorido numa estrada deserta com frio, fome e medo. Esta é a mensagem do filme.
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